A advogada e empresária Isabela Suarez tomou posse na 2ª feira (28.jul.2025) como presidente da ACB (Associação Comercial da Bahia). É a 2ª mulher a assumir o comando da entidade. A 1ª foi Lise Weckerle (1938-2025), que ficou no cargo de 2003 a 2007. Leia a íntegra do discurso de Isabela Suarez (115 kB – PDF).
“Sem sombra de dúvidas, dou o passo mais importante da minha trajetória profissional. Assumir a presidência da mais antiga entidade empresarial das Américas é estar à frente de um símbolo vivo do pensamento econômico liberal, da força do empreendedorismo e da união dos empresários”, disse Isabela em seu discurso de posse.
Isabela comandará a ACB no biênio 2025/2027. Além da advogada e empresária, a nova Diretoria Executiva contará com 10 vice-presidentes: Maria Constança Carneiro Galvão, José Luiz Costa Sobreira, Georges Humbert, Ricardo Luzbel Silva Soares Bonfim, Marcelo Neeser Nogueira Reis, Guilherme Campelo Travisani, Agnaluce Moreira Silva, Carlos Henrique Jorge Gantois, Zilan da Costa e Silva e Rosemma Burlacchini Maluf.
Leia a íntegra do discurso de Isabela:
“Senhoras e senhores, boa noite a todos. Empresários, políticos, personalidades públicas, autoridades aqui presentes, amigos e familiares.
“Começo afirmando que, sem sombra de dúvidas, dou hoje o passo mais importante da minha trajetória profissional. Assumir a presidência da mais antiga entidade empresarial das Américas é estar à frente de um símbolo vivo do pensamento econômico liberal, da força do empreendedorismo e da união dos empresários.
“Fundada há mais de 214 anos, esta casa foi palco dos primeiros grandes debates políticos e econômicos do Brasil. Aqui se entrelaçam, desde sempre, economia, civilidade, cultura e visão de futuro. De forma imponente, a Associação Comercial da Bahia protagonizou muitas das transformações que vivemos enquanto país. Aqui nasceu um modelo de organização empresarial que influenciou toda a América Latina e deu origem à força associativista que até hoje inspira gerações.
“Ao assumir a presidência desta extraordinária casa, sou responsável por, no mínimo, honrar esse legado. E essa responsabilidade é ainda maior quando me dou conta de que sou apenas a 2ª mulher, em mais de 200 anos de história, a ocupar este cargo.
“Por isso, é imprescindível reverenciar Lise Weckerle. Economista, empresária e, acima de tudo, associativista, ela não só foi a 1ª mulher a presidir a Associação Comercial da Bahia como também foi a 1ª a assumir uma associação comercial em todo Brasil. Ela nos mostrou que a liderança feminina tem lugar e potência em todas as esferas, inclusive nas de poder. Lise não abriu apenas portas, mas possibilidades para todas nós, mulheres.
“Pensando em sua trajetória e nos passos que estou pronta a trilhar como presidente da ACB, me emociona a frase da filósofa Simone de Beauvoir que diz: ‘Que nada nos limite, que nada nos defina, que nada nos sujeite. Que a liberdade seja nossa própria substância’.
“Me é valiosa a liberdade de existir neste mundo. Existir como sou, com meus propósitos, podendo semear minhas próprias escolhas. A minha liberdade foi dignamente forjada na trajetória e inspiração de mulheres que compartilharam ou compartilham comigo a intimidade das relações familiares. Credito a elas as muitas vitórias profissionais que tenho alcançado em espaços de poder historicamente masculinos. Elas me ensinaram, na prática, que ser mulher não é pedir espaço. É saber que ele já é nosso por direito.
“Começo por tia Marina. Responsável pela criação do meu pai, ela foi uma comerciante nata e quituteira de mão cheia. Extremamente amorosa e dona de sabedoria ímpar, mostrou, desde cedo, aos homens da família que, no fim das contas, ainda que apagadas socialmente, são as mulheres os poderosos alicerces das famílias. Foi na cozinha da sua casa, no bairro de Nazaré, que se deram as reuniões iniciais do primeiro negócio do meu pai. A construtora OAS. Sem nunca pedir palco, foi ela que alavancou todo o espetáculo.
“Luz Divina Seabra Andion, minha avó paterna, mulher completamente à frente do seu tempo, moldou nossa herança empresarial. Profunda entendedora da economia do país e atenta a oportunidades de negócios, foi responsável por estimular e impulsionar meu avô à ação, tendo sido determinante para o êxito econômico da nossa família.
“Minha avó Enedina, aqui presente, aos 90 anos tem uma trajetória impressionante. Filha de imigrantes sergipanos em São Paulo, precisou trabalhar ainda quando criança trabalhou para ajudar a sustentar nove irmãos após o abandono do pai. Mas nenhum obstáculo conseguiu apagar sua força e seu prazer de viver. Sua potência é fonte de inestimável inspiração. E sua alegria me estimula, diariamente, a acreditar na vida.
“Minha mãe, Abigail Suarez, foi a mulher que me mostrou os caminhos para a independência e estimulou minha capacidade de comandar minha própria vida. Foi ela quem me tirou da redoma, me ensinou a não me limitar pelas minhas origens e me apresentou mundos diversos, vivos e complexos. Me levou a festas populares da Bahia, me fez conhecer e viver a diversidade cultural desta terra e me apaixonar por toda mistura de que somos constituídos como povo brasileiro. Com ela aprendi a enxergar a sociedade de forma abrangente, dotada de desafios que não podem, jamais, se enquadrar em olhares rasos, superficiais e rotuladores.
“E aqui, amplio minha referência de maternidade, agradecendo a minha madrasta Maria Paula, que sempre nos acolheu, a mim e a meus irmãos, de maneira calorosa, nos guiando com sensatez e equilíbrio, como é próprio da sua personalidade.
“E não poderia deixar de falar da minha irmã Ana Paula: você é uma das mulheres mais potentes que eu conheço. Digo, sem dúvida alguma, que você é a segunda mãe de meus filhos. Seu apoio incondicional e sua vontade de me ver realizada me emocionam a cada dia.
“Sim. Aprendi com as fortes, mas também com OS fortes. Fortes por, sobretudo, reconhecerem a potência feminina e, sem competição, abrirem espaço com respeito, parceria e confiança. Na nossa família, não se travam batalhas entre gêneros. Nós nos somamos. Não importa se vem do masculino ou do feminino. Importa a capacidade, a coragem de realizar e a disposição de construir juntos.
“Meu pai, Carlos Suarez, me ensinou a confiar nas minhas competências e a nunca limitar meu potencial. Nunca abri –e nem abro!– mão dos seus conselhos. Suas atitudes sempre foram combustível para a minha vocação pública como alguém que pudesse contribuir para o desenvolvimento da nossa sociedade. Foi com você, pai, que aprendi a enfrentar guerras sem jamais abaixar a cabeça. Em nossa história, não há espaço para fuga ou omissão. Nunca nos esquivamos nem nos esquivaremos de batalha alguma. Seu trabalho firme à frente da Fundação Baía Viva me provou que, quando existe propósito, a força da realização é imbatível. Você me mostrou que transformação de verdade não se discursa, se deixa como legado.
“Com nosso trabalho, a Baía de Todos os Santos conquistou um novo patamar de visibilidade e respeito. Essa vitória eu tomo como inspiração direta para o compromisso que hoje assumo: colocar a ACB em um novo tempo, com protagonismo empresarial e resultados concretos em favor de quem movimenta este país –os empresários.
“Assim como tive a bênção de sentir o amor de mãe em duplicidade, também fui agraciada com uma presença paterna a mais. Meu padrasto, Fernando, é para mim sinônimo de afeto e sabedoria que se manifesta em cada palavra e conselho.
“Bruno Adry, meu marido, é presença constante e parceria inabalável. Com você, meus sonhos se ampliam, tornam-se nossos, e cada conquista ganha um sentido maior. Fazer de cada realização um triunfo partilhado é reflexo da confiança e do amor que sustentam nossa união. E, impossível não mencionar, do nosso relacionamento nasceram as maiores motivações da minha vida, nossos filhos Antonella e Bruninho.
“Gabriel, meu irmão, com quem compartilho diariamente o peso e a responsabilidade de empreender. Fomos criados para a união e assim seguimos, sendo força e esteio um para o outro.
“E, neste marco da minha vida pública, é preciso ainda reconhecer a importância dos meus avós: Simão e Manuel. Com eles aprendi que o espírito de colaboração, de cooperação não é apenas uma prática. É um princípio de vida.
“Simão Alves da Silva, meu avô materno, homem de generosidade rara, como professor de golfe no Cajazeiras Golf Club, mirava nos gramados perfeitos do esporte de elite, mas acertava na generosidade para com as crianças carentes da região. Há poucos dias, aliás, testemunhamos mais uma vez o impacto de suas ações para com o próximo: um senhor, morador de Cajazeiras, ao reconhecer em um local público minha avó Dina –viúva de meu avô Simão–, agradeceu por tudo que ‘o professor de Golf’ fez por sua família.
“E por fim, a minha grande referência no associativismo: meu avô Manuel Suarez Meijon, o queridíssimo ‘Manolo’ de tantos. Com crença impassível no movimento empresarial colaborativo, meu avô Manolo foi provedor e presidente da Santa Casa de Misericórdia, presidente da Real Beneficência Espanhola, governador do Rotary Club, e ocupou diversos cargos de diretorias desta instituição que agora me acolhe na presidência. As marcas de sua passagem na Associação Comercial da Bahia ainda são evidentes. Aliás, meu querido amigo Carlos Gantois, acredito que você se lembrará desta história. Na primeira vez em que eu pisei esta casa para uma reunião da diretoria executiva, você me chamou num canto e me entregou um bilhete escrito à mão que guardo até hoje. O bilhete dizia assim: ‘seu avô fez muito por essa casa. Com certeza, esteja onde estiver, ele está feliz por você hoje’. Obrigada Cacá! Te agradeço por ter marcado para sempre, no meu coração, aquele momento. E não tenho dúvidas, meu amigo, que hoje, se vivo estivesse, seu Manolo estaria aqui, agora, neste momento, me aplaudindo de pé. Que saudades!
“Meu avô chegou à Bahia em 1933. Aqui, sozinho, com apenas 17 anos, suportou a solidão, o desconforto, e, com coragem, percorreu uma brilhante trajetória de garçom em pastelarias no Julião de Baixo a construtor do que viria a ser uma das mais importantes incorporadoras do país, a construtora Suarez. Essa trajetória foi marcada por muita dor. A maior delas, talvez, tenha sido ver sua própria pastelaria totalmente consumida por um incêndio. Mas foi no associativismo que ele encontrou forças para recomeçar: na rede de união produtiva, na convergência entre quem acredita na construção a partir do trabalho. E esta aliança estratégica entre líderes empresários foi absolutamente necessária para as inúmeras e grandiosas conquistas que meu avô obteve. Foi com ele que aprendi que o empresário precisa de rede, de proteção e de organização. Foi ele quem me mostrou que associar-se é força, é estratégia.
“A semente do associativismo plantada por meu avô virou realidade em mim em 2020, quando fui convidada por Mário Dantas para desbravar este universo, me associando e coordenando o núcleo de sustentabilidade desta bicentenária instituição. Como presidente da Fundação Baía Viva, que há 25 anos trabalha na revitalização do turismo na Baía de Todos os Santos, sempre entendi a sustentabilidade da forma como ela, necessariamente, precisa ser compreendida: um tripé que abarca não só a preservação ambiental, mas também, e em mesma importância, o desenvolvimento econômico e o desenvolvimento social. Atuando sob essa perspectiva, a Fundação Baía Viva atingiu resultados práticos e inquestionáveis. Grandes obras de infraestrutura favoreceram a atratividade para a vocação natural das ilhas da Baía de Todos os Santos: o turismo. As ações, estrategicamente implementadas, contribuíram sobremaneira para o desenvolvimento econômico de toda região, a partir da geração de inúmeros empregos diretos e indiretos, diversas oportunidades de trabalho e, claro, renda. Tudo isso mudou o panorama social das ilhas da Baía de Todos os Santos com centenas de pessoas retiradas da situação de extrema pobreza. É preciso ressaltar que, sem dignidade humana, não há como se pensar em preservação ambiental.
“Com muito orgulho, fomos 10 vezes contemplados com a certificação Bandeira Azul e, há poucos meses, mais uma vitória: a praia de Ponta de Nossa Senhora recebeu o título internacional de melhor praia de enclave do mundo entre mais de 200 avaliadas, tendo concorrido, inclusive, com famosas praias do Caribe. Assim, provamos que sustentabilidade dever estar relacionada à preservação ambiental, sim, mas sem jamais abrir mão do desenvolvimento econômico que é, de fato, o grande responsável por viabilizar a melhoria de vida da população. Não tenho dúvidas de que a atividade empresarial responsável é o melhor caminho para a justiça social. Defendi esta pauta de maneira incisiva nos últimos anos, usando os espaços de visibilidade que conquistei para mostrar que o empresário que cria empregos, o empresário que gera renda, o empresário que movimenta o país com responsabilidade, não é, sobremaneira, o vilão da sociedade! A fantasia de vilão nunca nos coube e jamais caberá!
“Neste momento, dedico minha fala a agradecer ao senhor Paulo Cavalcanti, meu grande amigo, incentivador e professor nesta casa. Durante os dois anos em que atuei na pauta da sustentabilidade dentro da ACB, tive a honra e a sorte de conviver diariamente com você, Paulinho. E foi com essa nossa convivência, testemunhando a sua entrega à causa do associativismo, que aprendi a potência da rede colaborativa na mobilização empresarial. Sua história representa de maneira impactante a falta de entendimento da sociedade quanto à importância dos empresários. Na maior operação desastrosa que se já viu no Brasil, você foi injustamente preso, humilhado, teve sua casa revirada e sua vida e a de sua família devastadas. O estado, numa atitude completamente insensata, sem que houvesse sequer uma denúncia formal, atuou contra o próprio estado ao agir de maneira ilegítima, tendo arruinado uma das maiores empresas de distribuição da indústria petroquímica. E aqui, presto minha solidariedade a todas as famílias de empresários do Brasil que tiveram trajetórias semelhantes. De forma heroica, Paulo, você não só conseguiu provar sua inocência, como usou sua capacidade de resiliência para se reinventar como advogado e se doar como ativista da função social das empresas. A difusão da sua sólida ideologia de consciência cidadã participativa, defendendo ideias e projetos que traduzem, com autenticidade, os valores liberais do capitalismo, é um bálsamo para as dores de quem tenta prosperar em meio a adversidades. Como grande entusiasta da causa, você me ensinou que o associativismo é a melhor ferramenta para nos fortalecer como classe na defesa dos nossos direitos e interesses.
“Ao conviver com você, me reconheci como alguém que pode contribuir para a história, a defesa e o futuro de nós, empresários. A sua história e a de tantos outros associativistas são fonte inesgotável de inspiração, estímulo e força para seguir adiante. Dentre tantos, destaco o nosso saudoso Marcos Cidreira, para quem a ACB sempre foi a base para o fortalecimento da relação entre quem produz e as instituições públicas. Associativista nato, Cidreira foi vice-presidente desta casa por dois mandatos consecutivos nos quais atuou como um grande estrategista e defensor do bem-estar social de todos. Seu legado está vivo e será por mim honrado.
“Enfim, são muitos personagens de um cenário que, por si só, inspira. Nestes quatro anos em que frequentei ativamente esta bicentenária casa, caminhei por espaços como este salão nobre onde cada detalhe, cada móvel, azulejo, obra de arte transmite ecos da história do Brasil – e dos muitos Brasis que o tempo viu nascer. Este ambiente me nutre e me impulsiona a ser alguém ainda mais disposta e disponível a fazer mais por esta nação.
“Sou neta de empresários, filha de empresários. Tenho espírito de empresária desde que me entendo por gente. Nunca me vi fora do empreendedorismo, do agir, do produzir, do gerar. Tenho convicção nas forças das nossas pautas. Tenho paixão pela causa do desenvolvimento. E tenho, sobretudo, um enorme respeito por cada empreendedor desta terra, que gera empregos, movimenta a economia e contribui de maneira significativa para o progresso do nosso estado.
“Assumo a presidência da Associação Comercial da Bahia com a consciência de quem respeita profundamente sua história, mas com a alma inquieta de quem sabe que ela precisa, mais do que nunca, voltar a ocupar o lugar de protagonismo que lhe pertence e que nunca deveria ter deixado de exercer. A fragmentação da representatividade das classes empresariais ao longo do tempo diluiu severamente a força da defesa dos nossos interesses como grupo. É urgente que nos reagrupemos para assegurar uma defesa plena e intransigente da nossa classe empresarial.
“E faz-se necessário aqui não restar dúvidas de que, embora tenhamos ‘comercial’ no nome, a nossa defesa não se restringe às pautas do comércio. A convocação aqui é para os empresários: seja da indústria, do agro, do comércio, das micro e pequenas empresas. Esta, sim, é a casa mãe de vocês! A Associação Comercial da Bahia é aliada. É rede de apoio. É parceira para enfrentar desafios e construir sonhos.
“Por isso, agora me dirijo diretamente a você, empresário e associado: me comprometo a ser a sua voz de defesa a partir desta noite. A Associação Comercial da Bahia será o maior escudo e a maior ponte para quem empreende, investe, produz e acredita no Brasil. Sem o empresariado, o Brasil para. Sem o empreendedor, o país não cresce.
“Por isso, é legítimo que tenhamos a nossa presença ativa e ativa nas decisões deste país. A presença ativa de quem gera emprego, produz riqueza e move a economia. Contem comigo para que tenhamos aqui uma verdadeira trincheira da defesa legítima dos nossos interesses. Unidos e fortes vamos ser respeitados e valorizados! Trabalharei de forma incessante para que sejamos ouvidos, para que não haja mais espaço que ignore a voz do empresariado, sejam nas decisões políticas, econômicas e institucionais ou nos debates que moldam o presente e o futuro do nosso estado. Teremos mãos firmes. Teremos passos seguros. Teremos voz inabalável.
“Eu, Isabela Silva Suarez, assumo hoje não apenas a presidência desta Casa, mas o compromisso inquebrantável de defender, com paixão e entrega total, a nossa causa. Contem comigo. Contem com a Associação Comercial da Bahia, a instituição mais antiga das américas e, ainda assim, a mais atenta ao futuro. Ao nosso futuro e absolutamente pronta pro que vem!
“Que os orixás abram nossos caminhos, que Santa Dulce dos pobres sempre olhe por nós e que nosso Senhor do Bonfim nos abençoe. Boa noite e obrigada a todos”.