• Sábado, 16 de agosto de 2025

Conheça o Girolando, a raça que sustenta 80% do leite produzido no Brasil

Conheça a origem e a história da raça Girolando, o gado leiteiro que domina a pecuária de leite brasileira; Da mistura entre Gir e Holandês à liderança

Conheça a origem e a história da raça Girolando, o gado leiteiro que domina a pecuária brasileira; Da mistura entre Gir e Holandês à liderança no leite, produzindo 80% do leite brasileiro A raça Girolando é genuinamente brasileira, originada a partir do cruzamento de bovinos das raças Gir (Zebuína) e Holandesa (europeia). Os primeiros registros desse cruzamento remontam à década de 1940, no Vale do Paraíba (SP), quando, segundo o relato tradicional, um touro Gir invadiu pastos vizinhos e cobriu vacas Holandesas, gerando mestiços que chamaram a atenção dos criadores pela rusticidade e boa produção de leite para os padrões da época. Diante do sucesso desses animais meio-sangue, pecuaristas de várias regiões do Brasil passaram a replicar o cruzamento Gir×Holandês de forma dirigida, buscando combinar a elevada produtividade leiteira da Holandesa com a adaptação climática e resistência do Gir. Até mesmo programas organizados de cruzamento foram estabelecidos nas décadas seguintes (como o PROCRUZA em 1978), visando orientar a multiplicação desses mestiços superiores. A consolidação do Girolando como raça ocorreu ao longo da segunda metade do século XX. Em 1989, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) estabeleceu normas oficiais para a formação da raça, definindo um esquema de acasalamentos direcionado para obter um grupo genético capaz de produzir leite de forma sustentável nos trópicos. Nessa época fixou-se como objetivo padronizar a composição de sangue em 5/8 Holandês + 3/8 Gir, considerada ideal para equilibrar produção e rusticidade.
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  • Estado concentra maior número de confinamento de gado no país
    Finalmente, em 1º de fevereiro de 1996, o Girolando foi reconhecido oficialmente como raça pelo MAPA. A Associação Brasileira dos Criadores de Girolando, fundada a partir da antiga ASSOLEITE, foi então designada como responsável única pelo Serviço de Registro Genealógico e pelo apoio ao melhoramento da raça em todo o país. Desde então, além do grau de sangue padrão 5/8, a Associação passou a registrar dentro do programa de formação do Girolando diversas outras composições intermediárias permitidas (de 1/4 Holandês + 3/4 Gir até 7/8 Holandês + 1/8 Gir), todas fazendo parte do processo de absorção e estabilização da nova raça. window._taboola = window._taboola || []; _taboola.push({mode:'thumbnails-mid', container:'taboola-mid-article-thumbnails', placement:'Mid Article Thumbnails', target_type: 'mix'});Nos anos posteriores ao reconhecimento, os esforços de melhoramento se intensificaram. Em 1997, em parceria com a Embrapa Gado de Leite, iniciou-se o primeiro Teste de Progênie específico para avaliar touros mestiços Girolando em larga escala. Esse trabalho evoluiu para o Programa de Melhoramento Genético do Girolando (PMGG), implantado oficialmente em 2007, integrando o registro genealógico, controle leiteiro e avaliações genéticas em um esforço coordenado. A história recente do Girolando, portanto, é marcada por essa colaboração entre a associação de criadores e instituições de pesquisa, resultando em ganhos significativos de desempenho zootécnico e expansão da raça pelo Brasil. Hoje, passadas quase três décadas de reconhecimento oficial, o Girolando se firmou como a principal raça leiteira do país, alicerçada em uma história que combina empirismo dos criadores pioneiros com ciência e melhoramento genético organizado. Características Físicas e Genéticas Vaca Girolando de alta produção em lactação. Apresenta pelagem malhada preto-e-branco (herança da Holandesa) e orelhas largas e pendentes (herança do Gir), ilustrando o fenótipo típico do cruzamento. O úbere volumoso e bem conformado, com tetas de bom tamanho e pele pigmentada, destaca a aptidão leiteira aliada à adaptação aos trópicos. A combinação genética Holandês–Gir confere a esses animais rusticidade, capacidade de termorregulação e resistência a parasitas/tropeço climáticos, sem abrir mão de alto potencial produtivo, longevidade e fertilidade no rebanho. Geneticamente, o Girolando é definido como uma raça sintética composta, cujo grau de sangue padrão é 5/8 Holandês + 3/8 Gir. Isso significa que foi planejada para ter aproximadamente 62,5% de herança da raça europeia Holandesa (conhecida por produtividade) e 37,5% da raça zebuína Gir (conhecida por rusticidade e longevidade). associacaogirolando vaca girolando
    Foto: Divulgação / Girolando
    Essa proporção foi escolhida estrategicamente para maximizar a complementaridade e o vigor híbrido: busca-se reter a alta produção de leite característica da Holandesa ao mesmo tempo em que se incorpora a adaptabilidade ao clima tropical, resistência a doenças e eficiência alimentar do Gir. De fato, os Girolandos “agregam as melhores características do Gir e do Holandês” em um só animal. Vale notar que, embora a pelagem varie (do branco-malhado ao preto ou vermelho, dependendo dos ascendentes), é comum encontrarmos indivíduos malhados de preto e branco, visualmente semelhantes a Holandesas porém com algumas características zebuínas marcantes – por exemplo, orelhas maiores e pendentes, umbigo e barbela desenvolvidos e pele mais escura e espessa, fatores que auxiliam na proteção contra radiação solar intensa e ectoparasitas. Os machos costumam apresentar chifres e as fêmeas podem ser descornadas em manejo, mas ambas os sexos mantêm a docilidade, uma herança comportamental importante para manejo cotidiano. Características marcantes da raça Girolando:
  • Rusticidade e Adaptação Climática: Animais muito bem adaptados ao clima tropical. Suportam temperaturas elevadas graças à capacidade de auto-regulação do calor corporal (tolerância ao calor), pele pigmentada e sudorese eficiente. Essa rusticidade se traduz em resistência a ectoparasitas e enfermidades tropicais, permitindo criá-los a pasto sob sol forte com menor queda de produção em épocas quentes.
  • Alta Produtividade Leiteira: As fêmeas apresentam úberes bem conformados e de boa capacidade, tetas de tamanho adequado e excelente potencial de produção de leite – qualidade herdada da seleção centenária da raça Holandesa. Mesmo em clima quente, vacas Girolando conseguem produzir volumes de leite elevados (ver seção de produtividade), superando facilmente raças zebuínas puras e aproximando-se das taurinas em sistemas adaptados.
  • Precocidade, Fertilidade e Longevidade: As novilhas geralmente podem emprenhar a partir de 30 meses de idade (média em torno de 33 meses ao primeiro parto na raça), o que embora um pouco mais tarde que raças europeias puras, é compensado pela facilidade de reprodução e baixíssimos índices de problemas reprodutivos. As vacas Girolando têm partos fáceis e baixo risco de retenção de placenta comparado a raças puras, devido à conformação pélvica vantajosa e vigor híbrido. Além disso, apresentam longa vida produtiva, muitas permanecendo no rebanho produzindo eficientemente até 15 anos de idade, com pico de produção láctea por volta dos 8 anos. Essa longevidade e fertilidade elevadas reduzem a necessidade de reposição constante de matrizes, aumentando a rentabilidade.
  • Eficiência Alimentar e Desempenho Corporal: O Girolando desenvolveu grande capacidade ruminal e de conversão alimentar, reflexo de sua adaptação ao pastejo e eficiência metabólica. Possui aprumos fortes e estrutura corporal robusta que lhe permite percorrer pastagens extensas em busca de alimento, além de bom ganho de peso nas crias. Embora seja uma raça leiteira por definição, os machos não aproveitados na reprodução podem atingir ganhos médios superiores a 1 kg/dia em regime de engorda, tendo desempenho de carcaça comparável a bovinos de corte cruzados nas mesmas condições. Essa versatilidade duplo-propósito (leite e corte) agrega valor econômico sobretudo em sistemas de produção menores, onde os bezerros podem ser recriados para venda como carne.
  • Temperamento Dócil: De maneira geral, os animais da raça têm disposição mansa e manejável, facilitando a lida diária, ordenha e demais práticas zootécnicas. Essa docilidade é frequentemente citada como uma vantagem para o bem-estar animal e segurança do tratador, melhorando a eficiência das operações na fazenda.
  • Geneticamente, a raça Girolando admite variações de composição, mas a categoria Puro Sintético (PS) – considerada a realização da “raça propriamente dita” – é obtida exclusivamente quando se acasalam reprodutores 5/8 × 5/8 entre si, dentro de livro genealógico fechado. Filhos de dois reprodutores 5/8 PS manterão a proporção 62,5% Holandês / 37,5% Gir e já nascem Girolando puros (PS). Já os indivíduos resultantes de outros graus de sangue (por exemplo, 1/2, 3/4, 1/4 etc.) podem ser registrados como “Girolando em formação” e usados no esquema de cruzamentos até atingir o grau de sangue 5/8 desejado. Em suma, o padrão racial da raça envolve tanto atributos físicos (pelagem, úbere, conformação, etc.) quanto composição genealógica balanceada, assegurando que o Girolando conserve, geração após geração, o melhor dos dois grupos raciais que lhe deram origem. Produtividade Leiteira O desempenho leiteiro do Girolando tem apresentado notável evolução nas últimas décadas, fruto da seleção genética e de melhorias de manejo. Vacas Girolando modernas alcançam produções médias elevadas, comparáveis às de raças europeias em sistemas adaptados. Considerando lactações padronizadas de 305 dias, a produção média saltou de cerca de 3.700 kg de leite em 2000 para 5.671 kg em 2019. Dados ainda mais recentes indicam que em 2021 a média chegou a aproximadamente 6.821 kg/vaca em 305 dias – um incremento de 85% em 21 anos, refletindo os ganhos genéticos obtidos na raça. Para contexto, um estudo de 2018 já apontava média em torno de 5.041 litros/305 dias para vacas Girolando avaliadas, corroborando essa tendência de alta produtividade. Esses números colocam o Girolando bem acima das raças zebuínas puras (como a Gir Leiteiro) e próximo das raças taurinas especializadas quando comparadas em condições tropicais. Ressalte-se que a duração média da lactação costuma variar de 280 a 305 dias, dependendo do manejo; muitas vacas Girolando continuam produzindo leite além dos 305 dias convencionais, se não forem secas, graças à persistência de lactação herdada do Gir. A qualidade do leite do Girolando também merece destaque. Por sua composição mestiça, o leite tende a ter teores intermediários de gordura e proteína, frequentemente superiores aos da Holandesa pura. Estudos indicam que o leite de vacas Girolando apresenta em média 3,5% a 4,5% de gordura e 3,0% a 3,5% de proteína, valores esses competitivos com outras raças leiteiras. Esse teor de gordura, ligeiramente mais alto que o típico de raças europeias puras, é valorizado pela indústria – especialmente para fabricação de queijos e derivados lácteos – pois confere maior rendimento industrial. De fato, observa-se que cruzamentos 5/8 costumam produzir leite um pouco mais gorduroso do que animais com maior proporção de Holandês, evidenciando a contribuição do sangue zebuíno na solidez do leite. Além disso, a qualidade nutricional (perfil de caseína, minerais, etc.) do leite Girolando é considerada equilibrada, atendendo plenamente aos padrões de mercado e consumo familiar. Outro ponto positivo é a longevidade produtiva já mencionada. Enquanto vacas de raças especializadas frequentemente têm vida útil mais curta em clima tropical (devido a estresse térmico e sanitário), muitas vacas Girolando mantêm 4, 5 ou mais lactações de bom nível ao longo da vida. Tipicamente, o pico de produção de leite de uma vaca Girolando ocorre por volta do 6º ao 8º ano de idade (quando atinge maturidade plena), e a partir daí mantém produção satisfatória até 12-15 anos, se bem manejada. Há casos notáveis de produtividade: em 2019, uma vaca Girolando chamada Ortiga alcançou a marca histórica de 100 mil kg de leite produzidos em oito lactações, tornando-se recordista nacional em volume total produzido. Em 2025, essa mesma vaca superou 150 mil litros ao longo da vida, demonstrando o potencial extraordinário que exemplares da raça podem atingir sob manejo de excelência. Tais recordes, embora não sejam a média do rebanho, reforçam a capacidade genética do Girolando e servem de referência para programas de melhoramento. No que se refere à comparação com outras raças, o Girolando preenche uma posição de equilíbrio. Raças taurinas como a Holandesa podem, em condições ideais (clima ameno, alta tecnologia), ter produções anuais maiores; entretanto, em regiões quentes do Brasil muitas vezes as Holandesas sofrem queda de produção significativa devido ao estresse calórico. Já raças zebuínas leiteiras (Gir, Guzerá leiteiro, Sindi etc.) apresentam produção bem menor (geralmente 1.500–3.000 kg/lactação) porém resistem ao calor e a dietas de baixo nível nutricional. O Girolando combina parte do potencial da Holandesa com a resiliência do Gir, resultando em produção elevada mesmo em ambientes desafiadores. Por exemplo, em fazendas de clima quente com bom manejo, vacas meio-sangue e 3/4 Holandês têm desempenho semelhante a 7/8 ou mesmo Holandesas puras, sem necessidade de instalações climatizadas. Essa robustez produtiva em diferentes sistemas faz do Girolando uma escolha praticamente obrigatória na pecuária leiteira tropical. Em resumo, a raça consegue unir quantidade e qualidade de leite de forma extremamente competitiva, sendo responsável atualmente por cerca de 80% de todo o leite produzido no Brasil – um testemunho de sua superioridade econômica e zootécnica nas condições brasileiras. Importância Econômica da raça Girolando O Girolando exerce um papel central na cadeia produtiva do leite no Brasil, tanto em termos de participação no volume total quanto na inclusão de diversos perfis de produtores. A raça consolidou-se como a espinha dorsal da pecuária leiteira nacional, contribuindo decisivamente para que o país esteja entre os maiores produtores de leite do mundo. Abaixo, destacamos alguns pontos que exemplificam a relevância econômica do Girolando:
  • Participação na Produção Nacional: Aproximadamente 80% do leite brasileiro é produzido por vacas Girolando ou mestiças Holandês×Zebu. Isso equivale, em números absolutos, a uma produção anual da ordem de 27 a 28 bilhões de litros (considerando os ~34,6 bilhões de litros produzidos no país em 2022). Em outras palavras, a expansão do Girolando tornou possível atender à crescente demanda interna por lácteos e alavancar excedentes exportáveis, reduzindo a dependência de importação de leite. Hoje o Brasil ocupa posição de destaque global na produção leiteira e muito disso se deve à massificação do Girolando nas últimas décadas.
  • Abrangência entre Pequenos e Grandes Produtores: Uma das grandes virtudes econômicas do Girolando é atender perfis diversos de propriedades. Pequenos produtores familiares, que geralmente operam sistemas de baixo custo com vacas a pasto, encontram na rusticidade do Girolando a única raça capaz de produzir volumes significativos de leite em regime extensivo, gerando renda diária com a venda de leite in natura. Além disso, os bezerros machos têm valor de mercado maior do que os de raças européias puras, pois podem ser recriados para corte graças à genética zebuína de aptidão cárnea. Isso adiciona uma fonte extra de receita ao pequeno produtor. Por outro lado, grandes fazendas leiteiras comerciais também adotaram amplamente o Girolando, especialmente em regiões de clima quente (Sudeste, Centro-Oeste, Norte/Nordeste). Nesses sistemas mais tecnificados, o Girolando mostra vantagens econômicas claras: exige menores investimentos em climatização de estábulos, tem menor mortalidade e problemas de saúde em comparação a rebanhos 100% europeus, e mantém alta produção mesmo em regime semi-intensivo (pasto com suplementação). Assim, grandes laticínios e grupos agropecuários encontram no Girolando a base para produção eficiente de leite a baixo custo nos trópicos. Segundo a Associação Girolando, somente no estado de Minas Gerais há cerca de 1.100 criadores associados (o que inclui desde sítios familiares até fazendas empresariais), respondendo por ~50% dos registros nacionais. Isso ilustra como a raça está distribuída em diferentes escalas de produção.
  • Número de Animais e Valor Genético: O rebanho Girolando, embora presente em praticamente todo o território brasileiro, é parcialmente mensurado pelos animais registrados oficialmente. Entre 1989 e 2022, foram registrados mais de 2,13 milhões de exemplares Girolando no país, tornando-o o maior rebanho registrado dentre as raças leiteiras brasileiras. Apenas em 2022, houve 93.551 novos registros de Girolando, demonstrando a contínua expansão da raça. Esses números refletem não só a quantidade de animais, mas também o imenso valor genético e comercial atrelado a eles – cada vaca ou touro Girolando de genealogia comprovada pode valer preços elevados em leilões, dado o interesse de produtores em melhorar seus plantéis com genética superior. O mercado de sêmen também ilustra essa valorização: o Girolando é hoje a raça leiteira que mais cresce em vendas de sêmen no Brasil, tendo alcançado a marca de 920.848 doses produzidas em 2021, um aumento de 9% sobre o ano anterior. Ou seja, há forte demanda dos produtores pela genética Girolando de touros provados, movimentando um robusto mercado de inseminação artificial e tecnologias reprodutivas.
  • Relevância na Economia Leiteira: O leite é um dos principais produtos do agronegócio brasileiro, e o Girolando é fundamental nessa equação. Estima-se que a bovinocultura de leite envolva cerca de 1 milhão de famílias produtoras no Brasil e responda por uma fatia significativa do PIB agropecuário. Nesse contexto, o Girolando impulsiona economias regionais: em polos leiteiros como o sul de Minas, o oeste do Paraná, o Triângulo Mineiro, o Agreste nordestino e muitas outras regiões, a raça garante a oferta constante de leite para laticínios e queijarias, gerando empregos na zona rural e divisas. Por ser uma raça produtiva sob pastagem, ela possibilita a interiorização da atividade leiteira, mantendo-a viável em áreas onde raças mais exigentes não prosperariam. Assim, o Girolando contribui para a segurança alimentar (leite acessível para a população) e para a inclusão social no campo, ao viabilizar a atividade leiteira como fonte de sustento.
  • Expansão Internacional e Exportações: A comprovada eficiência do Girolando em clima tropical úmido atraiu o interesse de outros países com condições similares. O Brasil exporta material genético da raça (sêmen e embriões) para diversos destinos na América Latina, África e Ásia. Já houve vendas de genética Girolando para países como Peru, Bolívia, Tailândia, Nigéria e Índia, entre outros, onde produtores buscam melhorar seus rebanhos leiteiros locais usando o “modelo brasileiro”. Essa internacionalização representa um potencial de divisas para o Brasil e consolida a imagem do Girolando como a raça leiteira tropical de referência no mundo. Além disso, técnicos brasileiros têm prestado consultoria em programas de cruzamento similares em outros países, transmitindo a expertise desenvolvida aqui. Em resumo, o Girolando transcendeu as fronteiras nacionais, tornando-se um ativo do agronegócio brasileiro no mercado global de genética bovina.
  • Em face de todos esses pontos, fica claro que a importância econômica do Girolando vai muito além dos números de produção – ela engloba aspectos sociais, tecnológicos e comerciais. A raça revolucionou a pecuária leiteira brasileira, a ponto de ser frequentemente chamada de “ a raça que mudou a produção de leite no Brasil”, assegurando produtividade com sustentabilidade e impulsionando o país a um novo patamar no cenário leiteiro mundial. Manejo e Alimentação Uma das grandes vantagens do Girolando é sua flexibilidade de manejo – a raça se adapta bem a diferentes sistemas de criação, do extensivo a pasto até o confinamento intensivo, respondendo positivamente aos investimentos em alimentação e sanidade. No entanto, para aproveitar todo o potencial produtivo desses animais, alguns cuidados de manejo específico são recomendados:
  • Alimentação a Pasto: Em sistemas a pasto, que são muito comuns no Brasil, o Girolando expressa sua rusticidade consumindo forrageiras tropicais de forma eficiente. É importante utilizar pastagens de qualidade (capins como Brachiaria, Panicum etc., bem manejados em sistema de lotação rotacionada) e ajustar a carga animal à capacidade de suporte. Devido ao bom apetite e capacidade ruminal da raça, os animais podem ingerir grande volume de forragem, mas para altas produções de leite geralmente o pasto sozinho não basta. Suplementar com volumoso conservado (silagem de milho, cana, capineira) nos períodos de seca e prover ração concentrada energética/proteica nas ordenhas são práticas que elevam significativamente a produtividade por vaca. Muitos criadores optam pelo sistema de semi-confinamento, onde as vacas passam parte do dia no pasto e recebem concentrado no cocho durante a ordenha, aproveitando o melhor dos dois mundos em termos de custo e produção.
  • Suplementação Mineral Contínua: Nunca descuidar do sal mineral. Mesmo animais rústicos como o Girolando precisam de suplementação mineral balanceada o ano todo, sobretudo em sistemas de pasto. Recomenda-se disponibilizar sal mineral de alta qualidade, rico em fósforo e microminerais essenciais, no cocho coberto, à vontade. Durante o período chuvoso, quando as forrageiras tropicais crescem rápido mas podem ser pobres em alguns nutrientes, o uso de um sal mineral completo ajuda a suprir elementos como fósforo, cálcio, sódio, zinco, etc., mantendo a saúde e a produção leiteira das vacas. Já no período seco, muitos técnicos indicam a troca do sal mineral convencional por sal proteinado, que além de minerais fornece uma fração de proteína não degradável no rúmen, importante para sustentar a flora ruminal quando as pastagens estão fibrosas e pobres em proteína. Essa dica é valiosa especialmente para vacas em final de gestação ou secas durante a entressafra, garantindo que não percam muito escore de condição corporal. Em resumo, minerais e aditivos (uréia, enxofre no caso de proteinados) devem fazer parte da rotina de manejo nutricional do Girolando, conforme a época do ano.
  • Conforto Térmico e Hídrico: Embora o Girolando tolere bem o calor, prover sombra e água fresca ao gado leiteiro é fundamental para maximizar o bem-estar e a produção. É recomendável ter árvores nas pastagens ou sombrites/coberturas em pontos de descanso, pois em dias de sol intenso as vacas buscarão alívio na sombra para evitar estresse térmico. Bebedouros de água limpa e abundante devem estar sempre disponíveis; uma vaca em lactação pode consumir mais de 100 litros de água por dia em clima quente, portanto o fornecimento hídrico adequado impacta diretamente na produção de leite. Em sistemas mais intensivos, pode-se utilizar resfriamento evaporativo (ventiladores e aspersores) na sala de espera da ordenha para reduzir a temperatura corporal das vacas, mas na maioria das fazendas a própria adaptação do Girolando dispensa medidas onerosas – bastam práticas simples de manejo (ordenhar nos horários mais frescos do dia, manejo cuidadoso para evitar agitação excessiva, etc.) para manter o rebanho confortável nos trópicos.
  • Sanidade e Cuidados Veterinários: A profilaxia sanitária é semelhante à de outros rebanhos leiteiros, devendo seguir o calendário recomendado na região. Vacinações obrigatórias (febre aftosa, brucelose) e estratégicas (clostridioses como o carbúnculo sintomático, leptospirose, raiva, IBR/BVD etc.) devem ser aplicadas rigorosamente, já que mesmo sendo mais resistentes, os Girolandos não estão imunes a essas doenças de grande impacto produtivo. O controle de parasitas (endo e ectoparasitas) é facilitado pela maior resistência zebuína da raça – nota-se menor infestação por carrapatos em Girolandos do que em europeus puros – contudo, um programa de controle integrado (banhos carrapaticidas ou carrapaticidas pour-on quando necessário, rotação de pastagens, controle de mosca-do-chifre) garante melhores resultados a longo prazo. Além disso, como são animais de alta produção, é importante fornecer acompanhamento veterinário periódico, monitorando a saúde do úbere (programa de controle de mastite, CMT, manutenção de ordenhadeiras) e a saúde reprodutiva (toques, ultrassom para prenhez precoce, etc.). Em sistemas bem manejados, vacas Girolando apresentam baixos índices de mastite e ótima taxa de prenhez, mas a prevenção é sempre mais barata que o tratamento de casos avançados.
  • Ordenha e Manejo Reprodutivo: O manejo do Girolando na ordenha é beneficiado pela docilidade dos animais, que facilita a rotina de ordenha manual ou mecânica. É importante manter horário fixo de ordenha (uma ou duas vezes ao dia, conforme a produção), realizar pré-dipping e pós-dipping nos tetos e cuidar da higiene do local, como em qualquer rebanho leiteiro, para garantir qualidade do leite. No tocante à reprodução, buscar intervalo entre partos de 12 a 14 meses é o ideal para otimizar a produção por vaca/ano. As fêmeas Girolando entram em puberdade por volta de 15-18 meses, mas usualmente são cobertas/inseminadas a partir dos 18-24 meses quando atingem peso adequado (cerca de 320-350 kg). A raça apresenta alto índice de prenhez e baixo índice de distocia, podendo parir sem assistência na maioria das vezes. Novilhas bem desenvolvidas podem parir pela primeira vez entre 2,5 e 3 anos de idade, e graças à fertilidade herdada do Gir, muitas vacas voltam ao cio rapidamente após o parto, permitindo uma cria por ano de forma consistente. Para o pequeno produtor que usa touro em monta natural, recomenda-se evitar reprodutores muito pesados (preferir touros Girolando ou Gir bem avaliados) para não prejudicar as novilhas; já grandes fazendas utilizam amplamente a Inseminação Artificial (IA) em Girolando, aproveitando o sêmen dos melhores touros provados da raça.
  • Foto Divulgação
    Em síntese, o manejo do Girolando combina práticas convencionais da pecuária leiteira com ajustes específicos para aproveitar sua rusticidade. A raça responde muito bem a dieta de alta densidade energética (concentrado + silagem), aumentando significativamente a produção de leite quando bem alimentada. Mas também é capaz de produzir a baixo custo em pastagens, fator que a tornou popular entre produtores que não têm condição de confinar animais europeus puros. Esse dualismo exige do técnico acompanhar de perto a nutrição conforme as estações (como mostrado nas dicas de suplementação no período de chuvas e seca). Felizmente, a abundante literatura técnica da Embrapa e de universidades sobre manejo de vacas Girolando oferece apoio aos pecuaristas, e a própria Associação Girolando mantém programas de treinamento e assistência. Com boa comida, água, sombra e sanidade, uma vaca Girolando expressará todo seu potencial genético, recompensando o criador com muitos litros de leite ao longo de vários anos. Melhoramento Genético e Cruzamentos A raça Girolando nasceu e se aprimora por meio de estratégias planejadas de cruzamento e seleção genética. Diferentemente de raças puras formadas por seleção fechada, o Girolando é uma raça sintética, ou seja, foi desenvolvida intencionalmente pela combinação de duas raças distintas, necessitando de um processo de estabilização do grau de sangue ao longo de gerações. Os programas de melhoramento atuais concentram-se em dois aspectos: (1) esquemas de acasalamento para obter e fixar o grau de sangue ideal (5/8 Hol+3/8 Gir) e (2) seleção/genética para identificar e multiplicar os animais de melhor desempenho dentro da população. A seguir, detalhamos esses pontos. Formação e Cruzamentos da Raça: Para fixar o grau de sangue 5/8 Holandês + 3/8 Gir na prática, seguem-se alguns passos de cruzamento intercalado entre as raças originais. O esquema clássico, conforme recomendado pela Embrapa e pela Associação, é o seguinte:
  • Inicia-se produzindo um F1 ½ Holandês + ½ Gir – geralmente usando um touro Holandês Puro de Origem (PO) de alta genética em vacas Gir puras (Gir PO) de boa qualidade. O resultado são filhas meio-sangue (50% de cada raça).
  • Em seguida, cruza-se a fêmea F1 (½ sangue) com um touro Gir PO (preferencialmente um Gir leiteiro provado). Os produtos desse acasalamento terão composição ¼ Hol + ¾ Gir (25% Holandês, 75% Gir).
  • Depois, cruza-se a fêmea ¼ Hol + ¾ Gir obtida no passo anterior com um touro Holandês PO novamente. Os bezerros resultantes desse cruzamento serão de composição genética 5/8 Hol + 3/8 Gir (62,5% Holandês, 37,5% Gir). Essas fêmeas 5/8 já são consideradas Girolando padrão.
  • Por fim, realiza-se o acasalamento entre indivíduos 5/8 × 5/8 (ou 5/8 × PS), já dentro do registro genealógico fechado, para “fixar” definitivamente o novo grupamento racial – os filhos provenientes de pais 5/8 estáveis são Puros Sintéticos (PS) da raça Girolando.
  • Esse processo pode ser visualizado como um zigue-zague entre Holandês e Gir até alcançar o 5/8, ou seja, uma absorção parcial e estabilização. Há variações de esquemas possíveis (por exemplo, alguns cruzamentos utilizam 3/4 x 1/2 para chegar em 5/8), mas a essência é sempre alcançar aproximadamente 62,5% de genética europeia. Uma vez obtido o animal 5/8, deve-se evitar cruzamentos de retorno a qualquer das raças originais; ao invés disso, cruza-se 5/8 com 5/8 para manter a composição. A Associação Girolando possui regras claras para registros: matrizes 5/8 ou PS só podem ser acasaladas com reprodutores 5/8 ou PS, garantindo que os filhos permaneçam no grau de sangue pretendido. Vale mencionar que fêmeas com composição próxima de 5/8 (por ex. 9/16, 11/16) são registradas como 5/8, arredondando-se o grau de sangue para facilitar o ingresso no programa, enquanto reprodutores machos têm seu sangue exato controlado sem arredondamentos. Assim, o livro genealógico assegura a estabilidade genética da raça ao longo das gerações. Graças a essa estrutura, hoje existem milhares de touros e matrizes Girolando PS, filhos de sucessivas gerações 5/8×5/8, que compõem efetivamente uma população estável – ou seja, já é possível obter Girolandos “puros” sem recorrer constantemente a Holandês ou Gir externos, embora estes sejam utilizados estrategicamente para ampliar a variabilidade genética quando necessário. Programa de Melhoramento Genético (PMGG): Paralelamente ao controle de cruzamentos, o Girolando conta com um robusto programa de melhoramento genético para ganhos de produtividade, conduzido em parceria pela Associação Brasileira de Girolando e a Embrapa Gado de Leite. O Teste de Progênie de touros mestiços, iniciado em 1997, foi o marco inicial desse esforço organizado, permitindo estimar com precisão o mérito genético de reprodutores Girolando em rebanhos colaboradores pelo Brasil. Em 2007, o programa evoluiu e formalizou-se como PMGG – Programa de Melhoramento Genético do Girolando, integrando diversas ações (registro genealógico, teste de progênie, controle leiteiro oficial, avaliação linear de tipo, banco de DNA para genômica etc.) sob um mesmo guarda-chuva. Os principais objetivos do PMGG incluem: identificar indivíduos geneticamente superiores (tanto fêmeas quanto machos, com ênfase especial em touros jovens promissores); multiplicar essa genética de forma orientada (via inseminação artificial, transferência de embriões, acasalamentos dirigidos nos rebanhos participantes); avaliar geneticamente características economicamente importantes (não apenas produção de leite, mas também % de gordura/proteína, fertilidade, saúde, longevidade, conformação, etc., cada vez mais usando ferramentas de avaliação genômica para aumentar a acurácia); e, por fim, promover a sustentabilidade da atividade leiteira através do ganho genético – ou seja, produzir vacas que façam mais leite com menos recursos, adaptadas às condições tropicais. Os resultados do melhoramento têm sido notáveis. Em termos de produtividade, conforme citado, a média de produção das vacas Girolando subiu de ~3.683 kg em 2000 para ~6.821 kg em 2021. Esse avanço de 85% reflete diretamente a seleção de filhas de touros provados com lactações mais longas e volumosas. Outro indicador é o aumento da oferta de genética de qualidade: em 2012, venderam-se cerca de 500 mil doses de sêmen Girolando no mercado; já em 2021 foram produzidas mais de 920 mil doses, indicando ampla adesão dos pecuaristas à inseminação com touros melhoradores da raça. O Girolando tornou-se o líder em vendas de sêmen leiteiro no Brasil nos últimos anos, ultrapassando até mesmo raças tradicionais, o que demonstra a confiança na sua genética. Além disso, o PMGG incorporou as tecnologias genômicas mais modernas: desde 2015, as avaliações genéticas de touros e matrizes passaram a incluir informações de marcadores de DNA, aumentando o nível de confiança (acurácia) nas DEP’s mesmo para animais jovens. Em 2022-2023, a associação passou a avaliar geneticamente 18 novas características via genômica (como taxas de prenhez, escore de úbere, temperamento, persistência de lactação, entre outras) além das três clássicas iniciais (produção de leite, intervalo entre partos e idade ao primeiro parto). Essa expansão para características de saúde e funcionalidade vai permitir seleção de vacas cada vez mais completas – produtivas e ao mesmo tempo férteis, sãs e adaptadas. O esforço de genotipagem já atinge milhares de animais avaliados, construindo-se uma base de dados genômicos específica do Girolando. Outro ponto fundamental no melhoramento é o Controle Leiteiro Oficial (SCL), conduzido pela Associação em fazendas participantes. Os dados de produção de leite no dia a dia, coletados nas propriedades, retroalimentam o programa de seleção, identificando as vacas de maior mérito dentro de cada grau de sangue. Essas informações também servem para montar os Sumários de Touros e Vacas da raça, publicados periodicamente (semestralmente ou anualmente). Nesses sumários constam os rankings dos reprodutores com melhores PTA’s (Predições de Transmissão Esperada) para leite e demais características, orientando os criadores na escolha de sêmen. A edição de junho de 2024, por exemplo, trouxe avaliações genético-genômicas atualizadas de dezenas de touros, incluindo indivíduos jovens provados genomicamente e touros com várias filhas em lactação. A difusão de material genético superior é facilitada por esses sumários e pela parceria da Associação com centrais de inseminação e empresas de melhoramento. Em síntese, o melhoramento genético do Girolando é um caso de sucesso na pecuária nacional. Ele combina o conhecimento empírico dos pecuaristas (que desde a origem perceberam o valor do cruzamento) com ferramentas técnico-científicas de ponta (testes comparativos, estatística, genômica). O resultado tem sido um animal cada vez mais produtivo e adaptado, que torna realidade o conceito de “vaca tropical perfeita”. Não por acaso, o Girolando tem sido chamado de “ vaca do futuro” pela capacidade de unir alta eficiência e menor impacto ambiental. Esse contínuo melhoramento garante que a raça mantenha sua liderança e competitividade frente a novas demandas – seja produzindo leite A2A2 de maior valor agregado (alguns criatórios já selecionam para a variante beta-caseína A2), seja desenvolvendo linhagens mais eficientes em pasto, ou até colaborando com pesquisas de tolerância à seca e mudanças climáticas. A base genética ampla (mistura de Bos taurus e Bos indicus) é uma fortaleza do Girolando, oferecendo variabilidade para enfrentar os desafios futuros da pecuária leiteira. Impacto Ambiental Com a crescente preocupação em alinhar produção agropecuária e sustentabilidade, a raça Girolando tem se destacado positivamente. Por reunir alta produtividade com adaptação, o Girolando permite produzir mais leite por unidade de recurso utilizado – seja terra, ração ou água – resultando em menor pegada ambiental por litro de leite. Estudos de longo prazo conduzidos pela Embrapa Gado de Leite demonstram ganhos notáveis em eficiência ambiental da raça. Entre 2000 e 2018, enquanto a produção média de leite por vaca Girolando aumentou ~60%, a emissão de metano entérico por unidade de leite caiu ~40% no mesmo período. Essa redução significa que, graças ao melhoramento genético e manejos aprimorados, as vacas Girolando de 2018 produziam cada litro de leite com 40% menos emissão de gás de efeito estufa (CH₄) do que em 2000 – um avanço importantíssimo em termos de sustentabilidade. Na prática, a maior eficiência alimentar (mais leite por kg de matéria seca ingerida) e reprodutiva da raça resulta em menor emissão de metano por litro de leite, já que animais mais produtivos diluem a produção de metano (que é um subproduto natural da fermentação ruminal) em um volume maior de leite. Esse fato coloca o Girolando como protagonista na busca por uma pecuária de baixo carbono. Registros de gado Girolando descolam do preço do leite pela primeira vez na história
    Montagem CompreRural
    A própria Associação Girolando adotou o slogan de “ vaca do futuro” para a raça, enfatizando atributos que contribuem para a sustentabilidade: animais de menor impacto ambiental, maior eficiência produtiva, tolerantes às mudanças climáticas e capazes de reduzir emissões na atividade leiteira. De fato, o Girolando atende a esses quesitos. Sua tolerância ao calor e robustez significa que os criadores não precisam gastar tanta energia elétrica com sistemas de climatização ou refrigeração de estábulos, reduzindo a pegada de carbono indireta. Além disso, a raça é apta a utilizar pastagens tropicais – muitas vezes em sistemas integrados agricultura-pecuária – o que possibilita práticas como ILP (Integração Lavoura-Pecuária) e pastejo rotacionado intensivo, que por sua vez podem contribuir para sequestro de carbono no solo e uso mais sustentável da terra. Em contrapartida, raças menos adaptadas exigiriam desmatamento adicional (para abrir áreas maiores de plantio de alimento concentrado, por exemplo, já que não pastam com eficiência em clima tropical) e gerariam mais resíduos por litro de leite. O Girolando permite a produção leiteira em harmonia com o meio ambiente, ocupando áreas já abertas de pasto de forma produtiva e reduzindo a pressão por abertura de novas fronteiras agrícolas. Outro ponto relevante é a longevidade e saúde do Girolando, que traz ganhos ambientais sutis porém significativos. Vacas que vivem e produzem até 12-15 anos significam menos descarte e renovação de plantel; em outras palavras, é menor o número de novilhas de recria necessárias para substituir vacas descartadas, o que implica menos animais “improdutivos” emitindo antes de entrar em produção. Essa taxa de reposição menor diminui o impacto ambiental do rebanho como um todo, já que a fase de recria até o primeiro parto gera emissões e consome recursos sem produção de leite. Além disso, a boa resistência a doenças do Girolando reduz a necessidade de medicamentos e intervenções veterinárias frequentes, contribuindo para uma pecuária mais “limpa” (menor risco de resíduos de fármacos no ambiente, por exemplo). Do ponto de vista de utilização de recursos naturais, o Girolando apresenta eficiência alimentar destacada, graças à heterose e à genética adaptada. Esses animais convertem pasto em leite de forma eficaz, aproveitando fibras de baixo valor nutritivo que outras raças custariam a digerir. Com manejo nutricional adequado, a produção por hectare de pasto de um rebanho Girolando pode ser bem elevada, significando mais alimento produzido sem expandir área agrícola. Em sistemas mais intensivos, eles também demonstram ótimo rendimento com dietas equilibradas, transformando alimento concentrado em leite com eficiência comparável à de Holandesas, mas sem requerer climas temperados. Essa adaptabilidade permite a utilização de subprodutos agroindustriais regionais (polpa cítrica, farelo de algodão, palma forrageira, etc.) na dieta, diminuindo desperdícios e potencialmente reduzindo a necessidade de insumos importados de outras regiões. Em termos de emissões climáticas, além do metano, o setor leiteiro também se preocupa com óxido nitroso (proveniente de dejetos no solo) e CO₂ de fontes fósseis. Novamente, a maior produtividade por vaca proporcionada pelo Girolando ajuda a diluir esses impactos. Por exemplo, 10 vacas Girolando podem produzir o mesmo leite que 15 vacas menos produtivas – logo, menos animais no pasto excretando nitrogênio e menos transporte de insumos por litro produzido, diminuindo as emissões totais da cadeia. Não é surpresa, portanto, que o Girolando venha sendo apontado como peça-chave na pecuária leiteira sustentável do Brasil. Relatórios recentes indicam quase 40% de redução na emissão de metano por kg de leite de 2000 a 2020 na pecuária nacional, muito em função da substituição de vacas de baixa produção por vacas Girolando de maior produção nas fazendas.
    Por: Redação

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