O general Augusto Heleno, ex-ministro do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), registrou em sua agenda pessoal informações sobre operações confidenciais realizadas durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). As anotações, apreendidas pela PF (Polícia Federal) e divulgadas pelo jornal O Globo nesta 5ª feira (14.ago.2025), fazem parte das provas no processo sobre a tentativa de golpe de Estado que tramita no STF (Supremo Tribunal Federal), no qual Heleno é réu.
O material manuscrito de 200 páginas documenta desde o monitoramento de estudantes cubanos na USP (Universidade de São Paulo) até investigações envolvendo o Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) e críticas à gestão do então presidente durante a pandemia de covid-19.
Em registro de 9 de fevereiro de 2020, o general escreveu: “Abin – investigar o Coaf [Conselho de Controle de Atividades Financeiras]“, coincidindo com o período em que o órgão havia produzido relatórios sobre movimentações financeiras atípicas nas contas do então deputado Flávio Bolsonaro –atual senador pelo PL do Rio de Janeiro– nas investigações sobre a “rachadinha”.
Sobre a pandemia, Heleno registrou que o “[presidente] tem que tomar vacina” e mencionou um “rombo na popularidade” de Bolsonaro. Em avaliação direta, escreveu: “Desdenha do vírus. Não tem gestão. Nada está bom”.
Em uma das anotações datadas de 25 de janeiro de 2022, disse: “Abin levantando cubanos, infiltrados na USP, para espionagem da área estudantil”.
O ex-ministro também fez referência ao ex-deputado Vicente Cândido (PT), afirmando que ele “é o novo Vaccari”, comparando-o com o ex-tesoureiro petista João Vaccari Neto, investigado na operação Lava-Jato.
As anotações contêm ainda comentários sobre a Polícia Federal. Em um trecho, Heleno afirmou que a PF estava “preparando uma sacanagem grande” –sem especificar a que se referia.
Em outra passagem, defendeu que a corporação deveria estar subordinada ao Presidente da República: “Polícia Federal – é subordinada ao PR. Delegado não pode cumprir diligência que não – diligência tem que estar apoiado. Chamado de genocida e não agiu a suspeição. AGIR. (…) Não tem que falar, tem que agir. Ilegalidades estão sendo cometidas”.
Em 2021, a Abin esteve envolvida em caso relacionado a Jair Renan (PL-SC), filho 04 do ex-presidente. Um grupo empresarial com interesses no governo federal presenteou Renan e um parceiro comercial com um carro elétrico avaliado em R$ 90.000.
Sobre o episódio, Heleno justificou a atuação da agência: “Após notícias da imprensa de que o filho do presidente estava utilizando um veículo cedido por um estranho, apenas apuramos que o referido carro na realidade estava na posse de outra pessoal. Na verdade, o filho do presidente, cuja segurança é de responsabilidade do GSI, nunca utilizou aquele carro. Ele é filho do presidente, portanto é atribuição da Abin verificar um fato”.
O caso envolvendo Jair Renan foi posteriormente incorporado ao inquérito da chamada “Abin paralela”, conforme investigações da Polícia Federal. Durante as apurações, a Polícia Militar do Distrito Federal chegou a abordar um agente da Abin que estava no estacionamento do ex-parceiro comercial do filho do presidente.