Ampliar o acesso ao saneamento básico ainda é um desafio pelo Brasil, passando por aspectos estruturais, sociais e de saúde. Em Manaus (AM), onde 53,9% da população vive em regiões vulneráveis, segundo o Censo 2022 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a Águas de Manaus conseguiu universalizar o acesso à rede de água –abrangendo, atualmente, 99% do município– e levar, pela 1ª vez, sistemas de coleta de esgoto, por meio de técnicas diferenciadas, para as moradias construídas nas regiões de igarapés, pequenos cursos d’água que se conectam ao Rio Negro. A concessionária, que atua há 7 anos na capital do Amazonas, é uma empresa do grupo Aegea.
A companhia teve de buscar soluções específicas para os cidadãos de Manaus, já que parte das famílias vive em comunidades com palafitas –construções elevadas sobre estacas de madeira ou concreto acima do nível da água– e rip-raps –em que são utilizadas pedras, blocos de concreto ou sacos de cimento para dar estabilidade a solos instáveis na beira do igarapé.
Como resultado, foram adotadas técnicas inéditas para as palafitas, como redes aéreas. O diretor-presidente da Águas de Manaus, Pedro Augusto Freitas, conta que, inicialmente, ao utilizar o padrão tradicional –com a tubulação encostada no solo e hidrômetros aterrados– o material era levado pela correnteza nas épocas de cheia do rio.
“A gente percebeu uma coisa óbvia: as casas são construídas de forma elevada, portanto, nossa rede e nosso sistema deveriam ser feitos de forma elevada”, disse Freitas. Assim, foi criada a rede aérea de água, em que a tubulação fica ancorada nas passarelas das palafitas e os hidrômetros são chumbados ao solo, mas suspensos. Quando o nível da água sobe, a equipe da concessionária, que monitora o nível do corpo hídrico, eleva toda a estrutura.
A atuação da empresa na busca por soluções em uma cidade com regiões alagadas, além de vias tortuosas, com pouco espaço para a passagem de tubulações, conseguiu levar água potável pela 1ª vez a 200 mil pessoas, considerando o período desde o início da concessão.
No caso do tratamento e coleta de esgoto, a inovação na técnica foi diferente. Optou-se por uma estrutura que utiliza a gravidade para recolher os dejetos e encaminhar o material até uma ETE (Estação de Tratamento de Esgoto). Foi criado um sistema de ancoragem da tubulação, construído de maneira que possa ficar submerso ao igarapé com segurança no período da cheia. O mecanismo é constituído por estacas de concreto armado, pelas quais passam tubos de PVC, reforçadas por blocos de amarração.
O marco desses avanços está em uma comunidade na zona sul de Manaus. Localizado no bairro Cachoeirinha, o Beco Nonato foi a 1ª comunidade de palafitas a ter acesso à água tratada e à coleta de esgoto. Depois, essa estrutura foi replicada para outras regiões vulneráveis de Manaus.
Além de implementar os pontos de conexão à rede de esgoto, a companhia efetua a ligação das moradias ao sistema de coleta para a população de baixa renda. Isso porque, em geral, a responsabilidade pela conexão da casa à rede pública disponível é do proprietário do imóvel.
Freitas afirma que as soluções de engenharia de redes aéreas e tubulações ancoradas criadas pela concessionária, entretanto, não se tornaram um padrão único e são moduláveis de acordo com a realidade e as características de cada local. No caso das casas rip-rap, por exemplo, construídas em solo instável, diferentes moradias exigem técnicas distintas –desde uma rede efetivamente enterrada até a captação no leito do igarapé.
Leia mais no infográfico sobre as técnicas inovadoras utilizadas em Manaus.

O diretor-presidente da Águas de Manaus destaca ainda que o trabalho no município tornou-se um case de sucesso não só pelo pioneirismo nas técnicas de implantação das redes de água e esgoto, mas também pelo impacto na saúde da população e no meio ambiente.
“Quando a gente fez a aplicação dessa rede de esgoto [no Beco do Nonato], houve uma melhora considerável na qualidade da água do igarapé, que fica embaixo das casas. A gente teve a eliminação de mau cheiro, redução do volume de mosquitos e outros bichos que ficavam ali em função daquele esgoto que caía in natura. Então, houve uma melhoria da qualidade de vida daquela população efetivamente”, afirmou.
Um dos indicadores que demonstram isso é a DBO (Demanda Bioquímica de Oxigênio), usada para medir a poluição das águas e a qualidade do tratamento do esgoto. Quanto mais DBO, maior o grau de poluição do corpo hídrico. As amostras coletadas e analisadas pelo laboratório da concessionária e de uma empresa terceirizada mostram que a DBO encontrada no Beco do Nonato antes do início da coleta de esgoto, em setembro de 2022, era de 68 mg/L. Em janeiro de 2024, após a obra, o DBO chegou a 22,8 mg/L.
Um dado que também evidencia a importância do saneamento está relacionado às enfermidades de veiculação hídrica, cuja incidência, geralmente, está ligada à falta de tratamento sanitário. Entre 2018 e 2024, houve uma redução de 88% nos casos de hepatite A em Manaus, coincidindo com a expansão dos serviços de água e esgoto na cidade.
Dados da FVS-RCP (Fundação de Vigilância em Saúde Dra. Rosemary Costa Pinto), ligada à Secretaria Estadual de Saúde do Amazonas, mostram que foram 52 registros em 2018 contra 6 em 2024. A hepatite A é uma enfermidade diretamente ligada à falta de saneamento básico, já que a principal forma de contágio é a ingestão de água e alimentos contaminados com fezes.
Devido a fatores históricos e conjunturais, como o crescimento urbano desordenado e desafios geográficos da região amazônica, a coleta e o tratamento de esgoto em Manaus ainda não é universalizada –deve chegar a 38% no fim de 2025, segundo Pedro Freitas.
A Águas de Manaus atua para a universalização. A empresa lançou, em 2024, o programa “Trata Bem Manaus”, que prevê um investimento de R$ 2 bilhões até 2033. A iniciativa traça um plano para que o serviço chegue a mais de 90% da cidade em menos de 10 anos.
Pelo projeto, a Águas de Manaus fará a implantação de mais de 2,7 milhões de metros de redes coletoras de esgoto nos próximos anos, além de obras de implantação e ampliação de pelo menos 70 ETEs espalhadas por todas as zonas da cidade. As intervenções já começaram, e a 1ª ETE do programa foi entregue em outubro deste ano.
Mesmo antes do lançamento do programa, a capital amazonense recebia investimentos elevados. Levantamento do Instituto Trata Brasil com a consultoria GO Associados publicado neste ano mostra que, entre 2019 e 2023, Manaus foi a capital do Norte do país com mais investimentos no setor. Foi aportado R$ 1,15 bilhão –no ranking do país, é a 6ª capital. O estudo utiliza dados do Sinisa (Sistema Nacional de Informações em Saneamento Básico).
O “Trata Bem Manaus” considerou as particularidades geográficas e dos corpos hídricos de Manaus no planejamento para a expansão da rede de esgoto. A partir dessa análise, a Águas de Manaus optou pelas microbacias como a solução mais eficaz para que o acesso ao serviço seja expandido de maneira mais rápida e eficiente na capital do Amazonas.
As microbacias possibilitam a divisão da cidade em diversas áreas onde funcionarão ETEs de todos os portes, que tratarão o esgoto bruto coletado nas residências de cada região, devolvendo a água limpa para os igarapés. O método considera a mudança de níveis topográficos em diferentes pontos da capital amazonense e, por isso, modelou as ações de forma específica, conforme a capacidade de cada igarapé.
“Na lógica da microbacia, a gente divide Manaus em um grande quebra-cabeça. Cada peça do quebra-cabeça é um pequeno sistema de coleta e tratamento de esgoto, que funciona por si só. Então, em vez de considerar Manaus com apenas uma ou duas estações de tratamento maiores, a gente vai ter pequenas estações, pequenos sistemas que funcionam de forma independente, espalhados pela cidade”, disse o diretor-presidente da Águas de Manaus.
Com isso, explica Freitas, o tempo de espera entre a implementação da rede e o tratamento do esgoto é reduzido. Como as estruturas são menores, as obras são mais ágeis.
“A universalização do saneamento vai ser um dos marcos do desenvolvimento da cidade. Com o avanço do saneamento básico, a gente avança na inclusão social e cria um ciclo virtuoso para a cidade. Os investimentos em tratamento sanitário corrigem uma iniquidade histórica, mudando a cara da cidade”, disse.
O trabalho para universalização do acesso das redes de água e esgoto está alinhado à atualização do Marco Legal do Saneamento pela lei 14.026 de 2020. O texto estabelece metas de atendimento de 99% da população com água potável e de 90% com coleta e tratamento de esgoto até 31 de dezembro de 2033.
Dentre os cerca de 900 moradores da comunidade do Beco do Nonato beneficiados com a estrutura construída pela Águas de Manaus, estão a líder comunitária Gisele Dantas e sua mãe, Yvone Dantas. “Nós vivíamos aqui praticamente abandonados. Não tinha limpeza do igarapé, não tinha esgoto tratado, era a céu aberto. Com a obra, eu fiquei radiante, isso só trouxe benefício para a gente”, disse Yvone. A filha destaca que a mudança vai além da qualidade da água.
“Foi uma conquista. A gente bebe água da própria torneira e hoje em dia tem um CEP [Código de Endereçamento Postal], coisa que a gente não tinha. Isso é dignidade”, afirmou Gisele.
A questão do CEP foi uma consequência indireta da atuação da Águas de Manaus. Pedro Freitas explica que, além da implantação das técnicas inovadoras das redes de água e esgoto nas localidades vulneráveis do município, há um trabalho social desenvolvido nas comunidades que a concessionária atende.
Por meio do programa “Vem Com a Gente”, ao longo de 4 anos, equipes da empresa fizeram uma varredura em todas as comunidades para conhecer a situação de cada imóvel –se havia ou não rede, ligação irregular ou precária e quais eram as necessidades de cada localidade.
“Quando a gente chega a uma palafita, a um beco, a um rip-rap, a 1ª coisa que temos que fazer é pedir licença para entrar nessas áreas. A gente dialoga com a comunidade através dos líderes comunitários e, a partir dessa autorização para entrar nas áreas, faz um mapeamento de todos aqueles imóveis que estão naquela localidade. Feito o mapeamento, partimos para atividade, que efetivamente é de extensão da rede de água e esgoto”, disse Freitas.
A etapa final da implementação da rede de água é a instalação dos hidrômetros e, paralelamente, a concessionária faz a adesão dessas pessoas às tarifas sociais. Nesse processo, é realizada a emissão da fatura do cliente. Segundo Pedro Augusto Freitas, a fatura, em muitos casos, foi o 1º documento de comprovação de endereço dessas famílias, antes totalmente marginalizadas.
“Isso quer dizer que a pessoa, até ali, também esteve alijada de todo um sistema bancário, de um sistema de crédito, de ter uma vida formal. Então, esse efeito de dar visibilidade para essas pessoas foi uma coisa que a gente não previu, mas que tem um impacto muito significativo na vida delas”, afirmou o diretor-presidente.
Leia mais sobre os investimentos e a atuação social da Águas de Manaus.

Também parte da atuação social da companhia, os benefícios tarifários à população cresceram mais de 4.500 vezes desde o início da concessão, em junho de 2018 –eram 30 e chegaram a mais de 140 mil famílias.
Além da Tarifa Manauara –com 111 mil usuários–, que oferece 50% de desconto a famílias de baixa renda, a companhia lançou, em 2023, a Tarifa 10 –com 28.000 famílias beneficiadas– que estabelece um valor fixo de R$ 10 pelo serviço para famílias em situação de pobreza extrema. A tarifa social de água e esgoto virou lei federal em 2024, mas algumas concessionárias já ofereciam esse tipo de desconto antes, caso da Águas de Manaus.
O trabalho social iniciado com o “Vem Com a Gente” tem continuidade no programa “Afluentes”, cujo principal objetivo é promover um relacionamento aberto entre a empresa e líderes locais. A iniciativa permite um canal de comunicação entre a companhia e 1.376 líderes comunitários, representando todas as áreas da cidade, especialmente as regiões vulneráveis.
Por meio do relacionamento com as lideranças comunitárias, a Águas de Manaus se aproxima dos moradores, conhece as necessidades deles e ouve sugestões e opiniões sobre os serviços prestados. Periodicamente, realiza encontros com a presença da diretoria e gerentes. Além de fazer um balanço dos investimentos e ações desenvolvidas na cidade, as reuniões são uma oportunidade de esclarecer dúvidas e oferecer uma resposta às solicitações da comunidade.
O diretor-presidente, Pedro Augusto Freitas, informou que, considerando o crescimento da população de Manaus, o programa “Vem Com a Gente” deverá realizar levantamento de informações em outros momentos. Conforme o IBGE, o número de residentes da capital do Amazonas saiu de 1,8 milhão em 2010, para 2,3 milhões em 2025.
A publicação deste conteúdo foi paga pela Aegea.





