O início da produção do mega-projeto de minério de ferro de Simandou, localizado na Guiné, na África, foi um marco para o setor de mineração, principalmente para quem tem sido o protagonista neste mercado nos últimos anos: a China. Embora esteja localizado no continente africano, são as empresas chinesas que detém grande influência na maior mina de minério de ferro a entrar em operação na década.
As perdedoras com a produção de Simandou são a brasileira Vale e a anglo-australiana BHP. A China é o maior cliente das mineradoras, sendo responsável por mais de 60% das vendas de minério de ferro das duas empresas. Com uma nova alternativa, que pode alcançar uma produção de 120 milhões de toneladas anuais –10% da demanda chinesa– , a dependência enfraquece.
Segundo o site especializado World Steel, a China importou 1,2 bilhão de toneladas de minério de ferro em 2024. Isso é 71,3% de todas as exportações do planeta. Desse total, 60% é proveniente da Austrália e 21% do Brasil.

O complexo de Simandou não vai abalar por completo essas relações comerciais, mas dá flexibilidade para a China negociar. Segundo um artigo da Bloomberg, em setembro deste ano a estatal CMRG (Grupo de Recursos Minerais da China) instruiu as companhias do país a suspender novos carregamentos da BHP. O motivo foi uma renegociação do preço do minério.
Já em outubro, o imbróglio foi solucionado a partir de um acordo de que a BHP aceitaria 30% dos pagamentos por minério em yuans, a moeda chinesa. Foi uma vitória da China, que garantiu em parte uma independência do dólar na negociação.
A própria CMRG foi uma estatal pensada para fortalecer a interlocução entre o setor mineral chinês e as mineradoras. Foi criada em 2022 e tem como principal função monitorar esse mercado crítico para o país e concentrado na mão de poucas empresas.
A mina de Simandou entrou em operação oficialmente em novembro, mas o projeto realizou em outubro sua 1ª entrega: 10.000 toneladas de minério de ferro para a China.
Os minérios percorreram 552 km em uma linha férrea do interior da Guiné até o porto de Morebaya, de onde embarcaram em um cargueiro para o país asiático.
Foi o início de um projeto que se arrastou por cerca de 30 anos e envolveu uma série de disputas entre mineradoras e golpes de Estado na Guiné. A Vale chegou a ter participação na mina em 2010, mas o negócio não prosperou.

Para sair do papel, entrou em cena um dos principais projetos do governo chinês: a Nova Rota da Seda. Esse plano econômico consiste em parcerias entre países na área da infraestrutura e permitiu que a China se tornasse a principal aliada econômica de diversos países. Na África, quase todos são parte do programa.
Os investimentos na mina incluíram a construção de uma linha de trem que corta toda a Guiné e foi construída com apoio chinês. Ao todo, foram investidos cerca de US$ 20 bilhões no complexo de Simandou.
Na configuração final da sociedade acionária do projeto, empresas de capital chinês abocanharam cerca de 70%. Outra parceira importante no projeto é o conglomerado anglo-australiano Rio Tinto.
A Rio Tinto ocupa o top 3 do setor de mineração junto com a Vale e a BHP. Segundo um relatório divulgado em outubro, Simandou deve alcançar uma produção de 120 milhões de toneladas anuais a partir da 2ª metade de 2028. Eis a íntegra (PDF – 304 kB, em inglês).
Esse volume é capaz de posicionar a Guiné como uma das maiores potências de mineração de ferro do planeta. Em capacidade plena, o complexo é a 5ª maior produtora de minério de ferro no mundo, acima de países como Rússia e Canadá.






