Confronto
No Sul da Faixa de Gaza, o exército israelense afirmou na quarta-feira (20) que matou cerca de dez combatentes do Hamas na região de Khan Younis, ao repelir um ataque que teria matado um número ainda desconhecido de soldados israelenses. As tropas de Israel entraram em confronto com mais de 15 militantes do Hamas que surgiram de túneis e atacaram os israelenses com tiros e mísseis antitanque perto de Khan Younis, ao sul da Cidade de Gaza, ferindo três soldados. O governo de Israel anunciou sua intenção de conquistar toda a Faixa de Gaza após o fracasso das negociações indiretas com o Hamas para um cessar-fogo a libertação de reféns, no mês passado. Na quarta-feira, o porta-voz das Forças de Defesa de Israel (IDF), brigadeiro-general Effie Defrin, disse que o Hamas estava "abatido e ferido" após 22 meses de guerra. "Vamos impor mais danos ao Hamas na Cidade de Gaza, um bastião do terror governamental e militar dessa organização terrorista", acrescentou."Iniciamos as ações preliminares e, neste momento, as tropas das Forças de Defesa de Israel (IDF) já controlam os arredores da Cidade de Gaza." Duas brigadas operavam em terra no bairro de Zeitoun, onde nos últimos dias foi localizado um túnel subterrâneo que continha armas. Uma terceira brigada operava na região de Jabalia, acrescentou. Para "minimizar os danos aos civis", acrescentou, a população civil seria avisada para evacuar a Cidade de Gaza, por questões de segurança. O Patriarcado Latino de Jerusalém, que supervisiona a única Igreja Católica de Gaza, localizada na capital do enclave, disse ter recebido relatos de que os bairros próximos da pequena paróquia começaram a receber os avisos de evacuação. Um porta-voz da agência de Defesa Civil de Gaza, gerida pelo Hamas, Mahmoud Bassal, disse à AFP, na terça-feira (19), que a situação era "muito perigosa e insuportável" nos bairros de Zeitoun e Sabra. A agência informou que os ataques e disparos israelitas mataram 25 pessoas em todo o território na quarta-feira. Entre elas, três crianças e os seus pais, cuja casa na zona de Badr, no campo de refugiados de Shati, a oeste da Cidade de Gaza, foi bombardeada, informou a agência. Defrin afirmou que as Forças de Defesa de Israel também estão fazendo todo o possível para evitar danos aos 50 reféns que ainda estão detidos pelo Hamas em Gaza, dos quais acredita-se que 20 ainda estejam vivos. As famílias dos reféns manifestaram receio de que os detidos na Cidade de Gaza possam estar em perigo devido à ofensiva terrestre em curso. A campanha militar de Israel provocou uma devastação generalizada na Faixa de Gaza, que antes da guerra tinha cerca de 2,3 milhões de palestinos. Muitos edifícios, incluindo casas, escolas e mesquitas, foram destruídos, enquanto os militares acusam o Hamas de operar dentro de infraestruturas civis como hospitais – o que o grupo terrorista nega O avanço israelense levou o secretário-geral da ONU, António Guterres, a renovar os apelos para um cessar-fogo imediato "para evitar a morte e a destruição" que um ataque causaria. Guterres apelou também à libertação incondicional de todos os reféns mantidos pelo Hamas, bem como "evitar a morte e a destruição em massa que uma operação militar contra Gaza inevitavelmente causará"."Agravaremos os danos nas infraestruturas terroristas acima e abaixo da terra e cortaremos a dependência da população do Hamas."
Cisjordânia
O secretário-geral da ONU exortou ainda Israel a reverter a decisão de expandir a construção de assentamentos "ilegais" na Cisjordânia. O plano de colonização israelense, que dividiria a Cisjordânia ocupada e a isolaria de Jerusalém Oriental, foi anunciado na semana passada e recebeu o aval final de uma comissão de planeamento do Ministério israelense da Defesa nesta quarta-feira. Fora de Jerusalém Oriental, que foi ocupada e anexada por Israel, vivem na Cisjordânia cerca de três milhões de palestinos, para além de aproximadamente 500 mil israelenses que vivem em assentamentos que a ONU considera ilegais segundo o direito internacional. O Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV), por sua vez, afirmou que novos deslocamentos e a intensificação das hostilidades "correm o risco de agravar uma situação já catastrófica" para a população de 2,1 milhões de Gaza. O CICV alertou para uma situação catastrófica tanto para os civis palestinos como para os reféns caso a atividade militar em Gaza se intensifique. "Após meses de hostilidades implacáveis e repetidos deslocamentos forçados, a população de Gaza está completamente exausta. O que precisam não é de mais pressão, mas sim de alívio. Não de mais medo, mas de uma oportunidade de respirar. Precisam ter acesso ao essencial para viver com dignidade: alimentos, material médico e de higiene, água potável e abrigo seguro", referiu um comunicado.O Comitê Internacional da Cruz Vermelha apelou para um cessar-fogo imediato e para a passagem rápida e livre de assistência humanitária por Gaza"Qualquer intensificação adicional das operações militares só aumentará o sofrimento, desintegrará mais famílias e ameaçará uma crise humanitária irreversível. As vidas dos reféns também podem estar em risco", acrescentou.
Trégua de 60 dias
Os mediadores Catar e Egito tentam garantir um acordo de cessar-fogo e apresentaram uma nova proposta para uma trégua de 60 dias e a libertação de cerca de metade dos reféns, que o Hamas aceitou na segunda-feira. Israel ainda não apresentou uma resposta formal, mas as autoridades israelenses insistiram na terça-feira que não aceitariam mais um acordo parcial e exigiram um acordo abrangente que previsse a libertação de todos os reféns. A proposta, baseada em um plano anterior dos EUA, prevê uma trégua de 60 dias, a libertação de dez reféns vivos e dos restos mortais de 18 reféns em troca da libertação de prisioneiros palestinos, bem como a entrada de mais ajuda humanitária, segundo fontes do Hamas e da Jihad Islâmica. Os demais reféns seriam libertados em uma segunda troca, dentro do período de tréguas, durante o qual serão realizadas negociações para um cessar-fogo permanente. No entanto, há mais de uma semana o exército israelense – que tomou aproximadamente 75% do território palestino em mais de 22 meses de guerra –, intensificou os seus ataques e operações na Cidade de Gaza, na parte norte do território.Hamas
Ontem, o Hamas acusou Netanyahu de desconsiderar a proposta de cessar-fogo dos mediadores e disse que ele era o "verdadeiro obstrucionista de qualquer acordo, não se importando com as vidas [dos reféns] e que não tem qualquer intenção séria de recuperá-los", de acordo com um comunicado citado pela Reuters. “O anúncio feito pelo exército de ocupação terrorista do início de uma operação contra a Cidade de Gaza e os seus quase um milhão de residentes e deslocados (...) demonstra (...) um flagrante desrespeito pelos esforços desenvolvidos pelos mediadores" no sentido de um acordo de cessar-fogo e da libertação dos reféns. "Embora [o Hamas] tenha anunciado sua concordância com a última proposta apresentada pelos mediadores, [Israel] insiste em continuar sua guerra bárbara", acrescentou o movimento palestino em comunicado.Entenda
Em 8 de outubro de 2023, o exército israelense lançou uma campanha em Gaza em resposta a um ataque liderado pelo Hamas ao sul de Israel, no dia anterior, no qual cerca de 1,2 mil pessoas morreram e outras 251 foram feitas reféns. Desde então, pelo menos 62.122 pessoas foram mortas em Gaza, de acordo com o Ministério da Saúde do território. Os números do ministério são citados pela ONU e outros como a fonte mais confiável de estatísticas disponíveis sobre as vítimas. Relacionadas
Hamas aceita nova proposta de cessar-fogo em Gaza

Israel anuncia nova fase da ofensiva na cidade de Gaza

Milhares de palestinos deixam Gaza com medo de ofensiva israelense