Emprego e propostas de desenvolvimento rendem votos para prefeituras
Especialistas defendem visão voltada para crescimento local
Arte/Agência Brasil
Se Odorico Paraguaçu fosse candidato a prefeito de Sucupira nas próximas eleições municipais, em 6 de outubro, teria dificuldade de se eleger. Para chegar lá, o personagem deveria abandonar o discurso populista e a prática de trocar favores por votos e adotar uma plataforma política com proposta efetivas para saúde, educação, cuidado e zeladoria da cidade, segurança pública, saneamento, infraestrutura e emprego, temas recorrentes em pesquisas eleitorais.
“Eu acho que prefeitos como Odorico Paraguaçu felizmente estão em extinção. Ele não é mais um tipo paradigmático”, avalia o economista Jorge Jatobá, professor titular aposentado da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e ex-secretário nacional de Política de Emprego e Salário (1995-1998).
Segundo o economista, em vez do perfil clientelista como o do personagem criado pelo dramaturgo Dias Gomes (1922-1999) para o teatro, e posteriormente visto na televisão, rendem voto nas eleições locais “discursos consistentes” e propostas que possam gerar empregos. “Os prefeitos têm que ser desenvolvimentistas, no sentido de promover oportunidades de negócio e investimento em seus municípios. Emprego é resultado de crescimento econômico.”
Para isso, os candidatos a novos prefeitos precisam “manter a visão voltada para o crescimento da economia local” e, se eleitos, atrair empreendimento, “melhorando a infraestrutura do município, o acesso à cidade e a qualificação da força de trabalho.”
Conforme o Jatobá, isso exige aptidões para articular e envolver a sociedade civil, forças produtivas locais, como empresários rurais e comerciantes. Também conta positivamente mobilizar o governo estadual e até o governo federal em torno da pauta municipal. “Assim se cria um círculo virtuoso em que quanto maior o crescimento, maior a geração de renda, maior o investimento, maior a capacidade produtiva.”
“Quanto mais bem gerido é o município, mais atraente ele fica para novas empresas. E quanto mais bem gerido, mais as empresas que já estão no local se sentem bem para tocar seus projetos e contratar pessoas”, confirma o economista Cláudio Hamilton Matos dos Santos, técnico de planejamento e pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Para ele, “o crescimento econômico, em geral, é a combinação de esforço público e privado na mesma direção.”
Na opinião do advogado Paulo Ziulkoski, presidente da Confederação Nacional dos Municípios (CNM), “a empregabilidade, por si só, é tema recorrente para a avaliação positiva ou negativa do gestor. Mas, além disso, pesa a qualidade do serviço público prestado e a indução no sentido de que a iniciativa privada assuma também o seu papel.”
Brasília - O presidente da Confederação Nacional de Municípios, Paulo Ziulkoski - Foto José Cruz/Agência Brasil
Grupo focal
“O que vai diferenciar bom prefeito ou mau prefeito é a capacidade de induzir o desenvolvimento”, concorda a cientista política Karina Duailibi, especialista em pesquisas de opinião qualitativas, como as análises de grupo focal no qual os eleitores explicam por que votam ou não em determinado candidato. Ela considera que “emprego hoje faz parte da cesta de demandas da prefeitura”, e a pauta está em ascensão desde a segunda década do século.
Desde então, assiste-se no Brasil a desconcentração de empregos em grandes áreas metropolitanas em favor de cidades de porte médio (100 mil a 500 mil habitantes), motivada pelo agronegócio, pela abertura de novas unidades de saúde e pela interiorização da formação profissional em novos campi das universidades federais e estaduais (cursos superiores) ou dos institutos federais (cursos técnicos).
Com mais de 20 anos de experiência em pesquisa em diversas cidades do Brasil, Karina percebe que se tornou recorrente a avaliação positiva de prefeitos quando são identificados com a transformação urbana, a chegada de empresas e oportunidades. Eleitores participantes de grupos focais avaliam que o “prefeito ideal” tem capacidade de induzir desenvolvimento. “Hoje, isso faz parte das expectativas.”
O sociólogo Jorge Alexandre Neves, professor titular da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e diretor do Centro Internacional de Gestão Pública e Desenvolvimento, atesta que a pauta de emprego “é tema fundamental e costuma estar sempre entre os mais relevantes nas pesquisas de opinião.”
Ele alerta que a falta de propostas para a geração de emprego e a desatenção ao assunto por parte dos candidatos podem gerar reveses, especialmente se o postulante é um prefeito que busca a reeleição. “Isso pode contaminar negativamente a campanha se um município vizinho consegue muitos investimentos que trazem bons empregos e a cidade do eleitor não atrai recursos.”
“Entre os eleitores existe uma crença geral que as prefeituras cobram muito imposto, por isso as empresas não vão para o município”, acrescenta o engenheiro e administrador Gérson Engrácia Garcia, dono de um instituto de pesquisa de mercado e opinião com sede em Ribeirão Preto, no interior paulista.
Indutor ou empregador
A cientista política Karina Duailibi pondera que as perspectivas dos eleitores mudam conforme o porte da cidade. Em municípios menores, a maior esperança é que o emprego seja criado na prefeitura. “Quanto menor o município, mais a população é dependente da máquina municipal.” Nesses casos, “o prefeito não é um indutor de crescimento e ofertas de trabalho, mas o próprio empregador.”
Cidades pequenas não podem prescindir do repasse constitucional de verbas dos estados e da União e do pagamento de benefícios sociais, aposentadorias e pensões. “Quanto mais o município é dependente disso, mais forte é a prefeitura como empregadora”, ressalta.
Cláudio Hamilton Matos dos Santos, do Ipea, destaca que as transferências da União e dos estados resultam da descentralização de políticas públicas. “Os municípios têm tido cada vez mais atribuições e cada vez mais recursos para trocar essas atribuições”. Por isso, “o emprego municipal tem crescido muito fortemente ao longo das duas últimas décadas deste século.”
O presidente da CNM, Paulo Ziulkoski, afirma que os municípios têm a maior parcela de servidores públicos do Brasil, empregados na provisão de serviços essenciais à população. Dados de 2022, repassados à Agência Brasil pela entidade, contabilizavam que as prefeituras tinham 2,3 milhões de profissionais da educação. Na saúde, eram 1,3 milhão de profissionais atuando em atenção básica e outros atendimentos. Na área administrativa, as prefeituras empregavam mais de 1,2 milhão de servidores e técnicos. E nos serviços gerais, como limpeza e alimentação, 940 mil servidores municipais.
A CNM calcula que a remuneração média dos servidores municipais naquele ano era de R$ 3.604. Os salários pagos variam conforme o cargo que o servidor ocupa. Assim, a média da remuneração de médicos era de R$ 11 mil. Os funcionários dos serviços de limpeza e alimentação tinham remuneração média de R$ 1,8 mil.
Subemprego
De acordo com o Censo Demográfico 2022 (IBGE), sete de cada dez municípios brasileiros (total de 3.935 cidades) são considerados de pequeno porte, têm até 20 mil habitantes. Nessas cidades, os salários são menores e a empregabilidade também é mais reduzida.
Brumadinho, Minas Gerais - Imagem Google Maps
“As pessoas nas cidades menores não têm muitas oportunidades de trabalho. Ou trabalham na prefeitura ou no comércio local - esse não paga nem o salário mínimo e não faz registro em carteira de trabalho. Essas pessoas vivem do subemprego”, diz Gérson Engrácia Garcia.
De acordo com ele, o perfil mais exposto ao subemprego e até ao desemprego é o de pessoas com mais de 40 anos sem ofício, mães que querem voltar ao mercado de trabalho e jovens que se terminam o ensino médio, “não tem o que fazer”.
Nessas circunstâncias, as alternativas são o êxodo para municípios mais atrativos ou tentar o subemprego na própria cidade. “Então, um trabalha de mototáxi, o outro faz pequenos consertos, presta determinado serviço, ou vende bugigangas. As mulheres vendem peças íntimas, perfumes e cosméticos”, relata o pesquisador.
Por: Redação
Artigos Relacionados:
Ministros do STF apostam em ação do governo contra sanção a Moraes e avaliam efeitos práticos
há 48 minutos
Lula convoca ministros para reunião de emergência após tarifaço de Trump
há 1 hora
Lula lamenta morte de funcionários do IBGE em incêndio
há 1 hora
É estar com Moraes ou com o Brasil, diz Eduardo após sanção ao ministro
há 2 horas
Assassinatos de indígenas crescem em 2024 e chegam a 211, indica Cimi
há 2 horas
Lula lamenta morte de servidores do IBGE em combate a incêndio
há 2 horas
Comitiva de senadores diz que abriu diálogo com autoridades dos EUA
há 2 horas
Brasil negociará como país soberano, diz Lula ao New York Times
há 2 horas
Políticos demonstram apoio a Moraes após sanção com Lei Magnitsky
há 2 horas
PL pede ao governo italiano asilo político para Carla Zambelli
há 2 horas
AGU classifica como “injustificável” sanção dos EUA a Moraes
há 3 horas
Flávio Dino sai em defesa de Moraes: 'Está apenas fazendo o seu trabalho'
há 3 horas
Eduardo Bolsonaro quer Lei Magnitsky focada em Moraes
há 3 horas
"Nova ordem" de Trump exige crescimento das economias, diz Renan Filho
há 3 horas
Sanção dos EUA a Moraes é ato “violento e arrogante”, diz Gleisi
há 3 horas
Ouvidoria da Câmara de Cuiabá registra aumento de manifestações em 2025
há 4 horas
Veja na íntegra o comunicado do governo Trump para punir o Moraes
há 4 horas
Lei garante Wi-Fi para usuários das Unidades Básicas de Saúde (UBSs) de Cuiabá
há 5 horas
Ministro Alexandre de Moraes é sancionado pelos EUA com lei Magnitsky
há 5 horas
Não viemos com pretensão de resolver, dizem senadores nos EUA
há 5 horas
Deputado italiano diz sofrer ameaças por ter localizado Zambelli
há 5 horas
Leia as principais declarações de Lula ao "NY Times"
há 6 horas
Câmara de Cuiabá realiza treinamento para aprimorar atendimento ao público e servidores
há 6 horas
Deputado italiano diz que Zambelli adota versão falsa sobre prisão e cita ameaças
há 7 horas
Ao vivo: comitiva de senadores nos EUA concede entrevista a jornalistas
há 7 horas
Eduardo Bolsonaro tenta sabotar o país, diz Rui Costa
há 7 horas
Morre Wadih Mutran, ex-vereador da cidade de São Paulo
há 8 horas
Comissões Permanentes da Câmara de Cuiabá emitiram 555 pareceres no 1º semestre de 2025
há 8 horas
Preço é barreira para obter CNH, diz pesquisa do governo Lula
há 8 horas
Prisão de Zambelli joga pressão sobre fila de ameaçados de cassação na Câmara
há 8 horas
Se Trump me conhecesse, saberia que sou melhor do que Bolsonaro, diz Lula
há 8 horas
“Dinossauros surtam”, diz BYD sobre críticas de montadoras
há 9 horas
Extradição de Zambelli depende de decisão de Justiça italiana e processo pode demorar anos
há 12 horas
Senador democrata diz que irá contestar tarifaço de Trump
há 12 horas
50% dizem que idade de Lula é um problema para reeleição
há 12 horas
Trabalho pessoal de Lula: 41% de ruim/péssimo e 22% de ótimo/bom
há 12 horas
Lula é pior que Bolsonaro para 40% dos eleitores, diz PoderData