O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou, em entrevista ao New York Times publicada nesta 4ª feira (30.jul.2025), que se Donald Trump (Partido Republicano) o conhecesse, saberia que ele é “20 vezes melhor” que Jair Bolsonaro (PL).
A declaração do presidente foi feita a 3 dias do prazo dado pelo presidente dos Estados Unidos para que as tarifas de 50% contra os produtos brasileiros entrem em vigor —1º de agosto.
Em 9 de julho, ao divulgar a imposição das medidas, por meio de carta destinada a Lula, Trump mencionou como uma das justificativas o que chamou de “caça às bruxas” contra Bolsonaro, que é réu em uma ação penal no STF (Supremo Tribunal Federal) por tentativa de golpe de Estado em 2022.
“Honestamente, não sei o que o Trump ouviu sobre mim. Mas, se ele me conhecesse, saberia que sou 20 vezes melhor [do que Bolsonaro]”, afirmou o presidente.
Durante a entrevista concedida na 3ª feira (29.jul) no Palácio da Alvorada, em Brasília, Lula também declarou que o povo brasileiro e o povo norte-americano “não merecem ser vítimas da política, se a razão pela qual o presidente Trump está impondo essa tarifa ao Brasil é por causa do processo” contra Bolsonaro.
“O povo brasileiro vai pagar mais por alguns produtos, e o povo norte-americano vai pagar mais por outros produtos. E eu acho que a causa não justifica isso. O Brasil tem uma Constituição, e o ex-presidente está sendo julgado com pleno direito à defesa”, afirmou.
Questionado sobre o que vai acontecer se as tarifas, de fato, forem efetivadas em 1º de agosto, Lula comparou a situação com o chamado “bug do milênio”, quando se pensou que haveria uma falha global no sistema informático na virada de 1999 para 2000.
“Você se lembra de quando estávamos prestes a passar de 1999 para 2000, e houve um pânico mundial de que os sistemas de computador iam travar? Nada aconteceu. Não estou dizendo que nada vai acontecer, mas estou dizendo que temos de esperar o Dia D para saber”, disse.
Acerca das estratégias do Brasil para depois do dia 1º, Lula disse que não vai “chorar sobre o leite derramado” e que seu governo trabalhará para atrair parceiros e compradores para os produtos brasileiros.
“Se os EUA não querem comprar alguma coisa de nós, vamos procurar alguém que queira”, disse o presidente.
“Nós temos um relacionamento comercial extraordinário com a China. Se os EUA e a China querem entrar numa Guerra Fria, nós não vamos aceitar. Não tenho preferência. Eu tenho interesse em vender para quem quiser comprar de mim –para quem pagar mais”, acrescentou.
O presidente brasileiro também afirmou que “pediu para estabelecer contato” com o governo Trump, mas o que impede a conversa é que “ninguém” da administração norte-americana “quer dialogar” sobre as tarifas.
“Designei meu vice-presidente, meu ministro da Agricultura, meu ministro da Fazenda, para que cada um conversasse com o seu homólogo e entendesse qual era a possibilidade de diálogo. Até agora, isso não foi possível”, disse Lula.
Lula voltou a dizer que a sua equipe realizou 10 reuniões com o Departamento de Comércio dos EUA. O presidente brasileiro mencionou que, em 16 de maio, o Brasil enviou uma carta solicitando uma resposta do governo norte-americano em relação às primeiras tarifas impostas ao Brasil em abril.
“A resposta que recebemos foi por meio do site do presidente Trump, anunciando as tarifas contra o Brasil”, disse o petista em referência à Truth Social, rede social de Trump, meio pelo qual a alíquota de 50% foi divulgada no início do mês.
“Espero que a civilidade volte à relação entre o Brasil e os EUA. O tom da carta dele é claramente o de alguém que não quer conversar”, completou.
O presidente brasileiro disse que não há problema nenhum que 2 países entrem em uma disputa política, desde que ela seja tratada como tal.
“Se ele [Trump] quer ter uma disputa política, então tratemos isso como uma disputa política. Se ele quer falar de comércio, vamos discutir comércio. Mas não se pode misturar tudo”, afirmou o presidente.
“Eu não posso simplesmente mandar uma carta para o Trump dizendo: ‘Olha, Trump, o Brasil não vai fazer tal coisa se você não fizer tal coisa com Cuba’. Eu não posso fazer isso –por respeito aos EUA, à diplomacia e à soberania de cada nação”, acrescentou.
Questionado pela reportagem se não teme que sua retórica contra Trump piore a situação, Lula respondeu que não. Em 17 de julho, por exemplo, Lula afirmou, em entrevista concedida à CNN, que o presidente dos EUA não foi eleito “imperador do mundo”.
“Não há razão para temer. Eu estou preocupado, obviamente, porque eu tenho interesses econômicos, políticos e tecnológicos. Mas de modo nenhum o Brasil vai negociar como se fosse um país pequeno diante de um gigante. O Brasil vai negociar como um país soberano”, declarou ao New York Times.
Lula disse que, nas relações entre 2 Estados, a vontade de nenhum dos pares deve prevalecer e é preciso encontrar um meio-termo. “Isso não se conquista estufando o peito e gritando sobre coisas que você não pode cumprir, nem abaixando a cabeça e simplesmente dizendo ‘amém’ para tudo que os EUA quiserem”, disse.