• Sexta-feira, 31 de outubro de 2025

Uso indiscriminado de antimicrobianos na suinocultura brasileira ameaça saúde pública global, aponta relatório inédito da Alianima

Com 73% dos antimicrobianos do mundo destinados a animais e 27% a humanos, a pecuária intensiva torna-se grande responsável pela aceleração da resistência bacteriana.

Com 73% dos antimicrobianos do mundo destinados a animais e 27% a humanos, a pecuária intensiva torna-se grande responsável pela aceleração da resistência bacteriana. Apesar dos alertas da ciência e de debates internacionais para conter a resistência antimicrobiana (RAM), o uso de antimicrobianos segue amplamente praticado na produção de carne suína no Brasil. A nova edição do Observatório Suíno, relatório inédito elaborado pela organização sem fins lucrativos Alianima, revela que grandes empresas do setor ainda utilizam esses medicamentos como promotores de crescimento — prática que é proibida ou severamente restrita em diversos países. Estima-se que 73% dos antimicrobianos vendidos no mundo sejam destinados a animais, sendo muitos dos princípios ativos os mesmos usados na medicina humana. Esse uso cruzado contribui diretamente para o avanço da RAM, um dos maiores desafios sanitários da atualidade, segundo a OMS. No Brasil, a prática compromete os esforços da estratégia nacional de Saúde Única, que une os setores humano, animal e ambiental no enfrentamento da crise.
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    Com metodologia técnica e colaborativa, o Observatório Suíno aplica questionários distintos a produtores (fornecedores) e compradores (clientes), como redes de supermercados e restaurantes. A iniciativa busca mapear as práticas e compromissos assumidos em relação ao bem-estar animal, saúde pública e sustentabilidade na cadeia da carne suína. window._taboola = window._taboola || []; _taboola.push({mode:'thumbnails-mid', container:'taboola-mid-article-thumbnails', placement:'Mid Article Thumbnails', target_type: 'mix'});A edição mais recente do relatório mostra que 44% dos fornecedores analisados ainda não baniram o uso de antibióticos como promotores de crescimento. Apesar de haver conhecimento técnico, interesse dos produtores e apoio disponível, muitos ainda não conseguem se planejar para isso. Entre aqueles que não pretendem sequer eliminar a prática (33%), os principais motivos alegados são o aumento no custo de produção, perdas produtivas e a falta de alternativas viáveis. “Nenhuma das empresas mencionou falta de conhecimento ou apoio técnico como barreira, evidenciando que os entraves são majoritariamente econômicos e relacionados à performance dos sistemas de produção”, ressalta Maria Fernanda Martin, zootecnista e gerente de relações corporativas e bem-estar animal da Alianima. O relatório ainda ressaltou outras formas de uso de antimicrobianos:
  • profilático (prevenção de surtos, mesmo sem sinais clínicos nos animais — já proibido em alguns países);
  • metafilático (tratamento de um grupo após surgirem sintomas em alguns — leis em alguns países já restringem seu uso);
  • terapêutico (uso correto, apenas para animais doentes e com prescrição).
  • Segundo o Observatório Suíno, mais da metade (56%) das empresas analisadas não pretendem banir o uso profilático de antibióticos. Os principais obstáculos relatados foram experiências prévias negativas ou tentativas mal-sucedidas (80%), seguidas de falta de alternativas viáveis (60%) e perdas produtivas (60%). Assim como no caso dos promotores de crescimento, as justificativas não envolvem falta de conhecimento técnico, mas sim dificuldades operacionais e resistência à mudança de modelo produtivo. Além disso, o relatório revela que 89% das empresas não pretendem banir o uso metafilático de antibióticos. Entre os principais motivos citados estão perdas produtivas (88%), insegurança sanitária (75%) e experiências prévias negativas ou tentativas mal-sucedidas (75%). Assim como nas demais formas de uso não terapêutico, o argumento recorrente está ligado à manutenção da produtividade e controle sanitário, mesmo diante da urgência em reduzir o uso de antimicrobianos de forma preventiva e coletiva. “Embora todas as empresas afirmem utilizar alternativas aos antimicrobianos, como eubióticos, prebióticos, minerais e fitoterápicos, essas práticas ainda não substituem completamente o uso não terapêutico”, comenta a porta-voz da Alianima. Responsabilidade compartilhada Na ponta da cadeia, o levantamento também mostra que 73% dos compradores (supermercadistas e de food service) não exigem publicamente de seus fornecedores o uso restrito de antimicrobianos apenas para tratamento de animais doentes. Apenas Arcos Dorados, Carrefour e GPA assinalaram possuir compromissos públicos com essa prática. Porém, nenhum deles prevê, de fato, o banimento já que a linguagem dos compromissos públicos se limita a termos genéricos como “redução do uso”, “uso racional” ou “uso responsável”, sem dizer claramente que exigem de seus fornecedores o uso de antimicrobianos apenas para tratar doenças. “É importante que os clientes também estejam cientes das práticas realizadas por seus fornecedores, mesmo não estando diretamente ligados à produção de suínos, já que este deve ser um tema de interesse de toda a população humana. Toda a cadeia precisa estar comprometida: da granja ao prato do consumidor”, conclui Maria Fernanda. Como forma de contribuir com soluções para o enfrentamento da resistência antimicrobiana, a Alianima integra o Grupo de Trabalho sobre Resistência Antimicrobiana, vinculado ao Comitê Uma Só Saúde, do Ministério da Saúde, e defende que o bem-estar animal seja incorporado de forma transversal às políticas públicas e estratégias nacionais. Clique aqui para acessar a 6ª edição do Observatório Suíno. VEJA TAMBÉM:
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  • ℹ️ Conteúdo publicado por Myllena Seifarth sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira Quer ficar por dentro do agronegócio brasileiro e receber as principais notícias do setor em primeira mão? Para isso é só entrar em nosso grupo do WhatsApp (clique aqui) ou Telegram (clique aqui). Você também pode assinar nosso feed pelo Google Notícias
    Por: Redação

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