Em agosto de 2025, o Brasil passou a ter acesso, no setor privado, à 1ª forma de PrEP (profilaxia pré-exposição) de longa duração contra o HIV, administrada via intramuscular a cada 2 meses. Trata-se do cabotegravir, aprovado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) em 5 de junho de 2023.
Para especialistas em saúde pública e infectologia, o impacto pode ir além da inovação terapêutica: o medicamento promete superar o maior gargalo da PrEP oral, que é a baixa adesão.
Estudos demonstram que esquecimentos, preconceito e barreiras logísticas reduzem a adesão à PrEP oral. Em contraste, nos ensaios com PrEP injetável, verificaram-se taxas próximas a 95%, justamente por eliminar a necessidade de uso diário.
A Conitec (Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS) avalia a inclusão da PrEP injetável na rede pública. Hoje, o SUS já oferece PrEP na forma de comprimidos, tomados diariamente. O Ministério da Saúde avalia as vantagens do novo formato por meio da pesquisa ImPrEP CAB, conduzida pela Fiocruz.
Em 2023, o Brasil registrou 46.495 novos casos de HIV. Modelos epidemiológicos sugerem que, adotado em escala nacional, o cabotegravir poderia prevenir até 385 mil infecções até 2033.
Além da redução de casos, o uso da PrEP injetável pode aliviar o custo de tratamentos antirretrovirais de longo prazo no SUS. Mas, para isso, é preciso enfrentar o obstáculo central: o preço. Cada dose privada custa cerca de R$ 4.000 e deve ser repetida a cada 2 meses. Em consequência, só uma parcela com maior poder aquisitivo terá acesso imediato, enquanto populações vulneráveis permaneceriam reféns da PrEP oral.
A trajetória brasileira no enfrentamento ao HIV –pioneira na oferta universal de antirretrovirais desde os anos 1990– pode pesar a favor da incorporação do novo método. Mas a decisão exige negociação robusta e planejamento econômico sustentável.
Estudos de aceitação nacional indicam que 83% dos jovens de 18 a 29 anos preferem injeção bimestral à pílula diária. Em adolescentes de 15 a 19 anos, a justificativa predominante foi a praticidade. Esses dados apontam que o cabotegravir pode desempenhar papel estratégico entre segmentos com maior vulnerabilidade ao HIV.
Já no horizonte terapêutico, drogas como o lenacapavir prometem proteção por até 6 meses via administração subcutânea, com ensaios clínicos recentes reportando eficácia total em mulheres —um indício de que intervalos mais longos podem se tornar padrão.
A entrada da PrEP injetável representa uma chance rara: garantir que a inovação não se torne privilégio de poucos. No Brasil, onde o SUS já demonstrou competência na universalização de tratamento, esse desafio agora se estende à prevenção.
Se incorporada equitativamente, a PrEP injetável pode evitar milhares de novas infecções e reafirmar o compromisso com equidade em saúde.
Com informações da The Conversation.