Dois jovens e um sonho em comum: conhecer as maravilhas desafiadoras da natureza. A publicitária Juliana Marins, de 26 anos, e o fotógrafo Edson Vandeira, de 36, tinham perfis diferentes, mas compartilhavam o desejo de viver intensamente fora dos limites da rotina.
O destino, no entanto, interrompeu seus caminhos em circunstâncias trágicas. Juliana morreu após uma queda de centenas de metros durante uma trilha em um vulcão na . Edson desapareceu ao tentar escalar uma montanha de mais de 6 mil metros no e foi encontrado morto mais de 20 dias depois.
Os dois casos, ocorridos com poucos dias de diferença, escancararam os riscos de aventuras em regiões de difícil acesso, onde o tempo de resposta das equipes de resgate é limitado, e a natureza impõe suas próprias regras.
Caso Juliana e Edson
Juliana Marins, de 26 anos, deslizou por uma vala enquanto fazia a trilha do vulcão Rinjani, em Lombok, na Indonésia.
Edson Vandeira, de 36 anos, era estudante do Centro de Estudos de Alta Montanha (CEAM) e planejava completar uma rota técnica até o cume do Nevado Artesonraju, no Peru.
O resgate de Juliana durou cinco dias, mas segundo a autópsia, ela já estava morta no quarto, na terça-feira (24/6).
Edson passou 20 dias desaparecido. O retorno dele estava previsto para o dia 1º de junho, mas o corpo só foi encontrado dia 22.
Leia também
A queda no vulcão Rinjani
Juliana Marins estava em um mochilão pela Ásia. Passou por países como Filipinas, Vietnã e Tailândia. Aos 26 anos, a publicitária e dançarina de pole dance recém-formada pela UFRJ dizia estar em sua “melhor fase”.
No dia 21 de junho, ela decidiu subir o vulcão Rinjani, na ilha de Lombok, na Indonésia, ao lado de uma amiga. O local, embora popular entre turistas, exige preparo físico e atenção redobrada. Segundo registros oficiais, desde 2020 foram ao menos oito mortes e quase 200 acidentes na região — muitos causados por quedas e lesões associadas à negligência com protocolos de segurança.
Em um dos vídeos gravados no trajeto, Juliana sorri. . Ela não morreu na hora. Por volta de três horas após o acidente, turistas a avistaram se movendo. Enviaram à família a localização e imagens que alimentaram a esperança.
A mobilização se espalhou pelas redes sociais. Em poucas horas, o perfil criado pela família para divulgar atualizações ganhou mais de um milhão de seguidores. Mariana Marins, irmã de Juliana, se tornou a voz da busca. Cobrou das autoridades, desmentiu boatos e denunciou falhas no socorro.
Segundo ela, equipes indonésias não possuíam cordas longas o suficiente para alcançar a irmã, e o uso de helicóptero foi descartado por conta do mau tempo. “Ela escorregou a montanha inteira”, disse.

16 imagens





Fechar modal.

![]()
1 de 16 Tragédia ocorreu no vulcão Rinjani, na Indonésia Reprodução
![]()
2 de 16 Brasileira caiu em um penhasco durante trilha na última sexta-feira (20/6) Instagram/Reprodução
![]()
3 de 16 Juliana Marins Reprodução/Instagram
![]()
4 de 16 Juliana Marins Instagram/Reprodução
![]()
5 de 16 Juliana Marins Reprodução/Instagram
![]()
6 de 16 Ela foi encontrada morta quatro dias depois Instagram/Reprodução
![]()
7 de 16 Juliana Marins Rede social/Reprodução
![]()
8 de 16 Juliana Marins Reprodução/X
![]()
9 de 16 Juliana Marins Reprodução/X
![]()
10 de 16 Resgate Reprodução/ Parque Nacional do Monte Rinjan
![]()
11 de 16 Resgate na Indonésia Reprodução/ Parque Nacional do Monte Rinjan
![]()
12 de 16 Resgate de Juliana Reprodução/ Parque Nacional do Monte Rinjan
![]()
13 de 16 Resgate de brasileira Reprodução/ Parque Nacional do Monte Rinjan
![]()
14 de 16 Juliana Marins Reprodução
![]()
15 de 16 Juliana Marins Reprodução/X
![]()
16 de 16 Vulcão Indonésia Getty Images
As buscas duraram quatro dias. A cada novo drone, uma imagem de Juliana. Mas o resgate, sempre adiado. No dia 24, ela foi encontrada morta. O corpo estava a 650 metros do ponto da queda. Laudo do Hospital Geral Regional de Bali indicou que Juliana morreu cerca de 20 minutos após o acidente, em decorrência de trauma contundente, fraturas múltiplas e hemorragia interna.
“Foram encontrados ossos quebrados, principalmente na região do peito, costas, coluna e coxas”, revelou o médico legista Ida Bagus Alit à imprensa local. O caso levou o Parque Nacional do Monte Rinjani a suspender temporariamente o acesso ao pico por aquela rota.
O silêncio gelado do Artesonraju
Do outro lado do mundo, o fotógrafo Edson Vandeira, natural de , partia para mais uma jornada. Aos 36 anos, Edson somava quase duas décadas de experiência como montanhista e era conhecido por retratar ambientes extremos. Seu trabalho já havia sido exibido em canais como History Channel e National Geographic, e, em 2021, ele foi finalista do prestigiado concurso Wildlife Photographer of the Year com imagens dos incêndios no Pantanal.
Edson morava em Huaraz, cidade peruana aos pés da Cordilheira Blanca, e conhecia bem a geografia local. No dia 29 de maio, iniciou a escalada do Nevado Artesonraju (6.025 metros de altitude), com dois colegas peruanos, Jesús Huerta Picón e Efraín Pretel Álonzo. Os três eram estudantes do Centro de Estudos de Alta Montanha (CEAM) e planejavam completar uma rota técnica até o cume, retornando até 1º de junho.

5 imagens




Fechar modal.

![]()
1 de 5 O fotógrafo e montanhista Édson Vandeira, de 36 anos Reprodução/Redes sociais
![]()
2 de 5 Montanhista brasileiro desaparece em expedição em montanha no Peru Reprodução / Redes Sociais
![]()
3 de 5 Montanhista brasileiro desaparece em expedição em montanha no Peru Reprodução / Redes Sociais
![]()
4 de 5 O fotógrafo e montanhista Édson Vandeira, de 36 anos Reprodução / Redes Sociais
![]()
5 de 5 Nevado Artesonraju Getty Images
Segundo testemunhas, luzes foram vistas na crista da montanha na madrugada daquele dia — um indicativo de que o trio conseguiu alcançar o topo. Mas descer é muitas vezes mais difícil do que subir.
As buscas foram longas. Com o tempo e o silêncio, cresceu a suspeita de que não houvesse sobreviventes. A escola CEAM confirmou que a expedição foi feita por conta própria, sem o apoio de agências, o que é comum entre guias em formação.
A morte de Edson foi lamentada por colegas de profissão e pela comunidade da fotografia de natureza. Ele já havia liderado grupos no Brasil, nos Andes e até no Himalaia. Também participava, todos os anos, de expedições científicas à Antártida, onde passava meses coordenando a segurança de pesquisadores.
Cuidados com turismo de aventura
Atividades em trilhas e montanhas estão entre as práticas mais procuradas por quem busca contato com a natureza e um pouco de adrenalina. Mas, justamente por envolverem riscos, exigem cuidados e preparação. O orienta que tanto os turistas quanto as agências sigam boas práticas para garantir a segurança e a qualidade da experiência. Confira algumas recomendações:
Escolha agências preparadas
Empresas que oferecem turismo de aventura devem contar com condutores experientes e treinados para lidar com situações de risco. Eles precisam conhecer bem o trajeto, saber prestar primeiros socorros e ter preparo para atender pessoas com diferentes perfis físicos.
Informe-se antes de contratar
O turista deve receber, antes mesmo da contratação, informações claras sobre o percurso, grau de dificuldade da trilha, tempo estimado, exigências físicas, riscos envolvidos e o que está incluso no serviço. Isso ajuda a escolher atividades compatíveis com seu preparo.
Equipamentos em boas condições
A agência precisa fornecer equipamentos adequados e em bom estado de conservação. Capacetes, bastões, lanternas, coletes e outros itens devem estar disponíveis em número suficiente e adaptados ao tipo de atividade.
Cuidados com grupos grandes
É importante limitar o número de participantes por grupo. Grupos muito grandes dificultam o controle e o atendimento em caso de imprevistos. A quantidade ideal depende do tipo de trilha, do ambiente e do perfil dos visitantes.
Acessibilidade é essencial
Trilhas e passeios também devem considerar a participação de pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida. Isso inclui não apenas a infraestrutura, como rampas e sinalizações, mas também o preparo dos condutores para oferecer apoio adequado.
Planejamento para emergências
Qualquer atividade na natureza precisa ter um plano de emergência. Isso inclui rotas de fuga, formas de comunicação, conhecimento da unidade de saúde mais próxima e acesso rápido a equipes de resgate.
Respeito à natureza
O turismo de aventura deve ser feito de forma responsável, respeitando os limites do ambiente natural. Além da segurança dos visitantes, é importante cuidar para que o impacto ambiental seja o menor possível.
No caso de montanhismo e escaladas, os cuidados devem ser ainda maiores. Os condutores precisam ser especialistas nessas práticas e conhecer técnicas específicas. Além disso, a checagem dos equipamentos e o planejamento detalhado da atividade são fundamentais.
Em todos os casos, o mais importante é lembrar que a aventura só vale a pena quando feita com segurança — e que a preparação pode ser a diferença entre um passeio inesquecível e uma tragédia.