O ex-prefeito de Araraquara (SP) Edinho Silva diz que é possível o Partido dos Trabalhadores retomar o diálogo com partidos de centro e de centro-direita para refazer a chamada frente ampla das eleições de 2022 no pleito de 2026. Edinho é o favorito a vencer a eleição para a presidência do PT. Conta com o apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Se for realmente escolhido para comandar a legenda a partir de agosto, ele terá como uma das principais missões organizar as candidaturas do PT em 2026. Em especial, a reeleição de Lula para um 4º mandato. Segundo Edinho, não há dúvidas de que o presidente será candidato.
“Claro que o PT tem que consolidar o seu campo, consolidar o campo para os seus parceiros históricos. Evidente que sim. Mas para que a democracia vença mais uma vez, nós teremos que dialogar com aqueles que não são tão parecidos com a gente, que não defendem historicamente as mesmas coisas que nós. E claro, sem abrir mão do nosso programa histórico, construído pelos nossos aliados, o que nos trouxe até aqui. Sou plenamente favorável a que esse diálogo se estabeleça”, afirma em entrevista ao Poder360.
Assista à íntegra da entrevista realizada por videoconferência em 26 de junho de 2025:
Em 2022, para vencer o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Lula formou a chamada frente ampla. Teve o apoio formal do PT, seu partido, e de outras legendas de esquerda: PC do B, PV, Solidariedade, Psol, Rede, PSB, Agir, Avante, e Pros.
O PSDB, o MDB, o PSD, o Novo e o DC ficaram neutros e liberaram seus filiados, mas alguns de seus expoentes apoiaram o petista. Foi o caso do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e de Simone Tebet (MDB), que ficou em 3º lugar na disputa pela Presidência e apoiou Lula no 2º turno. Depois, veio a ser a ministra do Planejamento lulista. Lula acomodou também parte do União Brasil, do PP, do Republicanos, do MDB e do PSD depois de vencer o pleito com o objetivo de assegurar sustentação política no Congresso.
Passados 2 anos e meio, o presidente perdeu essa base de apoio no Legislativo e agora conta apenas com os partidos mais próximos. A derrota do governo na tentativa de elevar alíquotas do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) no Senado e na Câmara na 4ª feira (25.jun.2025) revelou esse momento de inflexão na relação dos congressistas com o Planalto.
Edinho refuta a crítica de seus adversários de que defende um reposicionamento do PT mais ao centro. “Quando eu enfrento esse debate, nos debates internos, eu digo assim: ‘Olhem para a minha história’ […] As bandeiras do Partido dos Trabalhadores, eu sempre as implementei 100% dialogando com os movimentos sociais, com o movimento sindical, com a sociedade. Mas também tinha política de desenvolvimento econômico, tinha capacidade de dialogar com o empresariado regional”, declara.
O ex-prefeito diz que o regime de governo presidencialista no país ruiu. Afirma que o que há é um modelo de “presidencialismo híbrido”, em que o Legislativo ganhou protagonismo ao decidir sobre parte relevante do Orçamento.
“Eu penso que é plenamente possível retomar o diálogo com os partidos. O PT vai ter que sentar para discutir esses temas. Nós vamos negar essas desorganizações institucionais do país, ou nós vamos sentar para pensar uma saída para essa crise que nós estamos vivendo? Da descaracterização das atribuições do Executivo pela transferência das atribuições ao Executivo […] A mesa está posta. Nós vamos achar aquilo que nos une. E ter maturidade para lidar com aquilo que nos diferencia”, afirma.
A Câmara aprovou o decreto legislativo com 383 votos para derrubar o aumento de alíquotas do IOF. Desses, 242 foram de deputados filiados a partidos com ministérios na Esplanada lulista. Apenas 98 votos foram contrários à medida, sendo de congressistas do PT, PC do B e Psol, principalmente.
O ex-prefeito discorda da estratégia do governo de acionar o STF (Supremo Tribunal Federal) para reverter a decisão do Congresso. Para ele, a questão deveria ser resolvida no campo político.
“Está faltando às lideranças entenderem de fato o papel que elas têm nesse momento da nossa história. Está faltando a gente ter uma compreensão de que a política tem que ser o espaço de superação desses problemas, que a política é quem tem que construir uma saída para essa descaracterização do presidencialismo que nós estamos vivendo”, diz.
Edinho afirma que o partido terá como objetivo ampliar o número de deputados e senadores em 2026. Atualmente, o PT tem 67 deputados e 9 senadores.
Para ele, a estratégia de partidos de direita, ligados ao bolsonarismo, de eleger mais senadores para pressionar pela saída de ministros do STF (Supremo Tribunal Federal), visa provocar instabilidade política no país.
“Com instabilidade política, investidor internacional não vem e o nacional recua. Ninguém quer investir quando se caracteriza instabilidade”, diz.
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Edinho diz que o presidente será o nome do PT na disputa presidencial e que não há nada, neste momento, que possa tirá-lo da disputa. Afirma que a saúde de Lula é muito boa e que o petista, de 79 anos, se cuida muito bem. Para o ex-prefeito, Lula é único político que tem hoje capacidade de repactuar o país.
“O 3º mandato foi de muita reorganização, de muita reconstrução, de muito ajuste, de muito alinhamento […] E eu não tenho nenhuma dúvida de que, superando as dificuldades, o Brasil vai viver uma condição muito favorável. Então, estou muito convicto que o 4º governo do presidente Lula será histórico. Será um governo para efetivamente consolidar o Brasil no caminho do crescimento econômico, do desenvolvimento, da transição energética. De a gente retomar os grandes programas, os grandes projetos estruturantes para que o Brasil efetivamente ande mais rápido na busca daquilo que o país tem que ser, que é um país que lidere o mundo em vários aspectos”, declara.
Edinho Silva é filiado ao Partido dos Trabalhadores desde 1985. Concorre à presidência nacional da legenda contra 3 outros candidatos:
Edinho é tido como o favorito para vencer a disputa, que será realizada em 6 de julho. A votação é direta e será realizada com cédulas de papel.
Caso seja eleito, Edinho terá como uma de suas principais missões ajudar na organização da campanha de Lula à reeleição e na definição das estratégias do PT para o Congresso. Na entrevista, o ex-prefeito diz que o partido “dará conta das demandas” atuais.