A governadora de Pernambuco, Raquel Lyra (PSD), disse que o Estado deve aumentar o fluxo de exportações de carne, açúcar e frutas produzidas no Vale do São Francisco para a China. Em entrevista ao Poder360, em Pequim, nesta 2ª feira (20.out.2025), Lyra disse que esteve na Câmara de Comércio Brasil-China para negociar os produtos –principalmente a uva da região.
A comitiva do governo de Pernambuco segue em missão comercial no país asiático até 22 de outubro antes de ir para a Dinamarca. A delegação visita 4 cidades: Chengdu, Qingdao, Pequim e Xangai. O objetivo é estabelecer o Estado como hub logístico entre Brasil e China, atrair investimentos e ampliar exportações.
A governadora disse que realizou uma reunião com representantes da estatal chinesa de processamento de alimentos Cofco para aumentar o leque de produtos que a empresa compra no Estado. A companhia chinesa já é uma das que mais adquire açúcar pernambucano.
Segundo Lyra, o potencial de exportações de Pernambuco é motivado pelo Porto de Suape –o maior porto público da região Nordeste. De acordo com a governadora, as rotas de navegação entre os países estão sendo aprimoradas.
“Para a exportação de carne pernambucana, a partir de frigorífico industrial nosso, e também fruta [produzidos] no Vale do São Francisco; considerando que Pernambuco é o maior exportador de frutas do Brasil. Temos outros mercados e estamos abrindo aqui o mercado chinês, que está em fase final de reconhecimento fitossanitário para que a gente possa a partir do início do ano que vem fazer essa exportação para cá”, afirmou.
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Leia abaixo a entrevista completa:
Poder360: A senhora tem passado alguns dias aqui na China para captação de investimentos para Pernambuco. Como avalia esse contato com as autoridades e empresas locais?
Raquel Lyra: Nós chegamos aqui na última 5ª feira [16.out], temos agenda até a 4ª feira [22.out] aqui, quando a gente vai seguir para Dinamarca, para uma nova agenda. A nossa meta aqui era visitar 4 cidades, 4 estados. Estivemos em Chengdu, é, em Qingdao, agora aqui em Pequim, amanhã em Xangai.
Chengdu está em um Estado que tem uma irmandade com Pernambuco desde a década de 1990. A gente recebeu uma delegação no ano passado, assinamos memorando de entendimento e aproximação em áreas como educação, cultura, comércio, agricultura.
Estive retribuindo a visita. Houve uma visita da delegação do governo com empresários, a gente também pode dialogar com o governo e com empresários. Vamos ter 30 estudantes pernambucanos fazendo mestrado, doutorado, graduação em Chengdu, a partir de bolsas fornecidas pelo governo estatal e trabalhamos para fortalecimento das relações, inclusive lançando em breve o programa “Ganha o Mundo China”.
Vamos no 1º momento encaminhar 30 estudantes de ensino médio para fazer intercâmbio no ensino médio aqui para passar 3 meses. Está sendo desenhado com o governo de Sichuan. A gente quer poder fazer esse lançamento ainda no 1º semestre do ano que vem.
Começamos o dia hoje com o Ministério de Comércio e Indústria, apresentando Pernambuco como potencial investidor de empresas chinesas, mas também como hub logístico. Nos apresentando como possibilidade de sermos porta de entrada da China para o Brasil e porta de saída do Brasil para China, a partir de rotas, especialmente de navegação, a serem fortalecidas a partir do melhor preparo e investimento que estamos fazendo na nossa gestão portuária em Pernambuco.
Pernambuco tem um porto, o 5º melhor porto do Brasil, o 2º melhor porto público. A gente tem capacidade de investimento já instalado agora, inclusive em energia renovável, atraindo investimentos conectados à nova economia.
Estivemos agora com a Cofco, que é grande compradora de açúcar pernambucano. Estivemos na Câmara de Comércio Brasil-China para a compra de alimentos.
A gente está creditando aqui para a exportação de carne pernambucana, a partir de frigorífico industrial nosso, e também fruta produzida no Vale do São Francisco, considerando que Pernambuco é o maior exportador de frutas do Brasil. Temos outros mercados e estamos abrindo aqui o mercado chinês, que está em fase final de reconhecimento fitossanitário para que a gente possa a partir do início do ano que vem trazer essa exportação para cá. Mais especificamente uva, nesse momento.
Estivemos na CRRC em Qingdao. No sábado passamos o dia lá para conhecermos a maior produtora de trens e de metrô do mundo. Olhando para nossa concessão de metrô e para a melhoria do nosso transporte público de massa. Eles já vão com uma comitiva para Pernambuco em novembro para nos fazer uma visita técnica.
Em relação a CRRC, há planos do governo estadual para expandir o metrô de Recife? Para isso que foi agendada uma visita técnica em novembro?
A gente tem um plano de requalificação do metrô do Recife. Ele precisa, não só requalificar, como expandir, mas no momento atual ele está em abandono. O caminho deve haver um processo de concessão que tá sendo construído há cerca de 4 anos dentro do BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social] junto com o Ministério da Casa Civil, com a participação do Ministério das Cidades, da CBTU [Companhia Brasileira de Trens Urbanos] e do Governo de Pernambuco.
A ideia é que se faça uma triangulação a partir, é, da recepção do sistema de metrô do governo federal pelo governo do Estado e que se faça um processo de concessão a partir de um aporte do governo federal de algo em torno de R$ 3,5 bilhões de reais, a semelhança do que aconteceu em Minas Gerais, mas com a diferença de que é o compromisso do governo federal de assumir os pagadores para que não haja um processo de demissão.
Esse investimento é será o 1º investimento real do metrô, eu acho, desde que ele foi inaugurado, depois mais de 20 anos ou 30 anos. Agora tem um investimento que está acontecendo lá, mas muito é emergencial, de algo em torno de R$ 100 milhões para conserto de dormentes e trilhos, ante o risco de descarrilhamento e de incêndio. Pernambuco tem na região metropolitana um dos piores trânsitos do mundo. E a gente só consegue ultrapassar isso a partir do investimento em transporte de massa. E o caminho é o metrô.
Além obviamente da gente saber da requalificação das vias para melhor trânsito dos ônibus, vias exclusivas, a gente está fazendo o terminal integrado, requalificação eh de estações de embarque e desembarque que deveriam ter sido entregues na Copa do Mundo e não foram. Nós estamos fazendo agora.
Em que ponto está hoje esse projeto de concessão do metrô? O edital vai sair ano que vem?
A gente está construindo o termo final para que possamos assinar é uma parceria com o governo federal a partir da garantia dos fundos necessários para fazer com que a concessão fique de pé. É necessário a porte da iniciativa privada e a porte de recursos da ordem de R$ 3,5 bilhões, o que será feito pelo governo federal.
Na visita a China, houve algum movimento de interesse de algum player privado em entrar nessa concessão?
Conversamos com a CRRC, a nossa meta, que colocamos a mesa com o governo federal, é que o processo de concessão ele demora um pouco, e o início dos investimentos também. Então o que nós estamos querendo agora e pleiteando junto ao governo federal é a antecipação de parte desses investimentos.
Colocamos na mesa a antecipação, um pedido de antecipação de R$ 1 bilhão de investimento para que a gente possa fazer encomenda de trens e que a gente possa iniciar a reforma das estações de metrô. Estamos fazendo os projetos da reforma da estação e começamos a prospectar quem poderia nos entregar trem mais rápido. E a CRRC é a maior produtora de trens e metrô do mundo.
Vimos os prazos, fizemos um pedido de uma proposta para pedido de trem. Eles nos apresentaram essa conta e prazo para essa entrega. A gente fez 3 cotações distintas a depender daquilo que vai sendo colocado pelo governo federal. A [CRRC] coloca que começaria em até 21 meses para poder ser entregue trem. E eu compreendi o porquê da demora. Eles estão produzindo trem para o mundo inteiro.
A gente tem feito diálogos bilaterais com empresas que estão interessadas em investir no Brasil e que podem considerar Pernambuco como um território onde esses investimentos podem acontecer pela nossa capacidade logística. Pela questão do Porto de Suape, as rodovias, a alternativa real.
É possível que CRRC assuma a concessão?
Eles estão participando de concessões e têm o interesse em participar. Mas dentro da empresa que também tem alguém que administra. É uma grande empresa que tem diversas subsidiárias dentre as quais operadoras também. Só para você entender, são 15.000 funcionários na indústria deles.
Ao falar do Porto Digital, quais tecnologias estão sendo exploradas e se há projeções para investimentos e empresas?
Essa é uma das discussões que tivemos com o próprio embaixador. Nós somos um dos maiores polos de tecnologia do Brasil. A gente já tem atraído é muitos muitas empresas para produção de softwares, desenvolvimento de tecnologia em Pernambuco, porque a gente tem uma mão de obra de excelência, como, por exemplo, Bradesco, Accenture, que são empresas que estão contratando 300, 400 engenheiros e analistas de sistema de informação.
Isso coloca também a gente como na disputa para que novos investimentos que agreguem esse valor, [para que] a gente possa se colocar com um diferencial de competitividade para eles. A partir dos cursos que a gente tem, da mão de obra que a gente consegue trazer e da formação dessa mão de obra, trabalhando dentro das companhias, a partir dos cursos que estão sendo projetados em Pernambuco, que já colocam os estudantes dentro de empresas, de indústrias, de software. Isso permite a gente poder trazer respostas mais rápidas.
O governo chinês está apoiando uma missão de Pernambuco com foco em ciência e tecnologia no final do ano. A gente vai trazer 20 pessoas do ecossistema de CTI [Centro de Tecnologia da Informação] com a nossa secretária de Ciência e Tecnologia, que está vindo aqui já pela 3ª vez para a aproximação dos ecossistemas.