• Segunda-feira, 20 de outubro de 2025

Conheça o “cofre do milho”, o banco que guarda o futuro da segurança alimentar mundial

Em Sete Lagoas (MG), a Embrapa Milho e Sorgo mantém um dos maiores bancos de germoplasma da América Latina, onde milhares de variedades do cereal são conservadas como seguro estratégico contra crises climáticas, pragas, doenças e riscos à segurança alimentar.

Em Sete Lagoas (MG), a Embrapa Milho e Sorgo mantém um dos maiores bancos de germoplasma da América Latina, onde milhares de variedades do cereal são conservadas como seguro estratégico contra crises climáticas, pragas, doenças e riscos à segurança alimentar. No coração de Sete Lagoas (MG), longe dos holofotes do mercado e das estatísticas de safra, a Embrapa Milho e Sorgo abriga um patrimônio invisível, porém decisivo para o futuro da alimentação global. O Banco Ativo de Germoplasma de Milho (BAG-Milho) reúne e protege material genético do cereal que sustenta lavouras, rações industriais, cadeias de proteína animal, biocombustíveis e, em última instância, a mesa do brasileiro. O conteúdo desta reportagem foi produzido com base em dados divulgados pela Embrapa e em relatório oficial publicado recentemente. Considerado uma das estruturas de conservação genética mais importantes da América Latina, o BAG-Milho guarda 3.886 variedades de Zea mays L. e mais 7 espécies parentes silvestres, como Zea mexicana e Tripsacum dactyloides. Tudo é armazenado em câmaras frias entre 6°C e 8°C, com umidade controlada entre 25% e 30%. Na prática, é um cofre biológico contra o colapso agrícola, um seguro científico para cenários que vão de ondas de calor prolongadas à evolução de pragas e doenças.
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    O milho está em tudo: no campo, nas fábricas, nas rações, nos supermercados. Mas, por trás da abundância, há risco. Segundo a Embrapa, a produção moderna depende de poucas cultivares, altamente produtivas, porém geneticamente uniformes. A mesma característica que maximiza o rendimento deixa toda a cadeia vulnerável: quanto menor a diversidade genética, maior o risco de quebra simultânea em caso de praga, patógeno ou estresse climático. window._taboola = window._taboola || []; _taboola.push({mode:'thumbnails-mid', container:'taboola-mid-article-thumbnails', placement:'Mid Article Thumbnails', target_type: 'mix'});As variedades crioulas e silvestres, hoje preservadas no banco, carregam genes raros de resistência, rusticidade e adaptação ambiental, que podem ser cruciais para desenvolver novas cultivares em contextos de emergência climática. Conservar essas sementes é, portanto, estratégia de soberania alimentar, e não romantismo científico. O processo é classificado como conservação “ex situ”, preservação fora do ambiente natural, reconhecido internacionalmente como o método mais seguro e econômico para resguardar a diversidade genética. Cada amostra depositada é tratada como patrimônio genético nacional. As sementes passam por caracterização com base em 32 descritores agronômicos, incluindo altura da planta, formato da espiga, coloração dos grãos, número de folhas e resistência a doenças. Quando o estoque de uma variedade cai abaixo de 1 kg ou a germinação fica abaixo de 80%, ela é regenerada em campo. Após colheita, o material passa por triagem, secagem, testes laboratoriais e volta às câmaras frias em sacos de algodão. A cada cinco anos, toda a coleção é monitorada para verificação de umidade e viabilidade germinativa. Mesmo com limitações, os números acumulados são robustos:
  • 1994–2003 — média anual de 188 variedades caracterizadas ou regeneradas
  • 1998–1999 — repatriação de 1.371 amostras brasileiras que estavam no México desde os anos 1950
  • Monitoramento de 199988,4% das amostras armazenadas desde 1980 mantiveram germinação ≥ 85% após 18 anos — índice de excelência mundial
  • Hoje100% da coleção documentada e cerca de 60% dos acessos já regenerados e caracterizados
  • Cada semente ali não é apenas matéria orgânica: é informação genética aplicável ao melhoramento de cultivares mais produtivas, resilientes e seguras. O BAG-Milho é também um projeto de preservação cultural. As sementes crioulas registram séculos de conhecimento acumulado por agricultores tradicionais e povos indígenas, que adaptaram o milho ao clima, ao solo e à cultura de cada território. Conservá-las é, ao mesmo tempo, proteger ciência, memória agrícola e soberania alimentar. Num cenário de aquecimento global, maior demanda por proteínas, pressão sobre sistemas produtivos e risco crescente de pragas emergentes, estruturas como a de Sete Lagoas deixaram de ser apenas centros de pesquisa, tornaram-se cofres estratégicos para que o milho exista amanhã.
    Por: Redação

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