A operação Contenção, deflagrada na 3ª feira (28.out) contra o CV (Comando Vermelho), nos complexos do Alemão e da Penha, zona norte do Rio de Janeiro, consolidou-se como a mais letal da história do país, de acordo com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública. A divulgação oficial do governo do Estado é de 121 mortos, sendo 4 policiais.
A megaoperação superou o massacre do Carandiru, em 1992, em São Paulo, que resultou na morte de 111 detentos. Segundo o secretário de Estado da Polícia Militar, coronel Marcelo de Menezes, o confronto durou cerca de 15 horas –das 6h às 21h, aproximadamente.
Em número de mortos, a ação também é maior do que o somatório de óbitos das outras 6 operações policiais que lideravam o ranking de letalidade no Rio de Janeiro até então, conforme monitoramento do Geni/UFF (Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos da Universidade Federal Fluminense).
Das 6 operações com maior letalidade no Estado, 4 foram realizadas durante a gestão do governador Cláudio Castro (PL) que assumiu em 1º de maio de 2021. Antes da operação Contenção, a mais violenta havia sido a do Jacarezinho, em 6 maio de 2021, com 28 mortos. Em seguida, vem a ação na Vila Cruzeiro, em maio de 2022, com 23 vítimas.
Houve ainda mais duas incursões no Morro do Alemão, em 2007 e 2022, que resultaram em 19 e 17 mortes, respectivamente, além de operações em Santa Teresa (2023) e Catumbi (2007), com 15 e 13 vítimas. Somadas, essas 6 operações totalizam 115 mortos —ainda abaixo dos 121 registrados na megaoperação da Penha.

Em nota enviada ao Poder360, o Fórum Brasileiro de Segurança Pública considerou que a operação foi conduzida “mais pelo viés político” do que pela racionalidade técnica e pelo adequado planejamento estratégico e operacional. Leia a íntegra (PDF – 209 kB).
Segundo a organização, o número de mortes é “inadmissível” e “não autoriza nenhuma força política a acreditar que a operação foi bem-sucedida”. O Fórum também criticou “a forma como dezenas de corpos foram deixados na mata próxima aos Complexos de Favelas, sem nenhuma ação para isolamento e preservação da cena de crime”, o que evidencia, segundo a organização, o descumprimento “de regras básicas da legislação processual penal”.
Mais cedo, o governador do Rio de Janeiro classificou como “sucesso” a megaoperação policial e pediu que o episódio não fosse politizado. “Todo aquele que quiser vir para cá no intuito de somar, seja governador, seja ministro, qualquer autoridade, é bem-vindo. Quem quiser somar com o Rio de Janeiro nesse momento no combate à criminalidade é bem-vindo. Os outros, que querem fazer confusão e politicagem, suma. Ou soma, ou suma, porque nós não precisamos disso nesse momento”, disse.
O número exato de pessoas que morreram na megaoperação tem sofrido alterações. A Defensoria Pública do Rio afirmou nesta 4ª feira (29.out) que a operação deixou 132 mortos. A diferença em relação aos dados do Estado, que anunciou 121 mortes, dá-se porque o governo considera apenas os corpos que já foram levados ao IML.
Antes da divulgação oficial do governo fluminense, o secretário de Polícia Civil, Felipe Curi, havia dito que o balanço era de 119 mortes. O governo disse na 3ª feira (28.out) que foram 64 mortos. Nesta 4ª feira (29.out), o governador, Cláudio Castro, informou que eram, na realidade, 58.
Moradores do Complexo da Penha levaram, durante a madrugada e a manhã desta 4ª feira (29.out), ao menos 70 corpos retirados de uma área de mata. Foram deixados na praça São Lucas, onde ficaram enfileirados no chão.
O secretário da Polícia Civil do Rio de Janeiro disse que os corpos deixados na praça São Lucas são de “narcoterroristas”. Questionou o fato de todos estarem apenas com as roupas íntimas. Disse que eles vestiam roupas “balísticas” que foram retiradas pelos moradores. “É importante ressaltar aqui mais uma vez que as únicas vítimas dessa operação foram os 4 policiais”, disse.
O governador do RJ seguiu a mesma linha. Castro afirmou com “tranquilidade” que os corpos são de criminosos. “Não acredito que havia alguém estivesse passeando em área de mata em um dia de operação”, declarou a jornalistas.





