• Segunda-feira, 17 de novembro de 2025

Matrículas de novos estudantes internacionais nos EUA caem 17%

Queda é a maior desde a pandemia; políticas de vistos e ambiente “pouco acolhedor” sob Trump são apontados como fatores.

As novas matrículas de estudantes internacionais em instituições de ensino superior dos Estados Unidos caíram 17% no início do ano acadêmico de 2025–2026. É a maior retração desde 2020, segundo o Fall 2025 Snapshot, relatório divulgado em novembro pelo IIE (Institute of International Education). Eis a íntegra (PDF – 7 MB).

O instituto ouviu mais de 825 instituições norte-americanas. O recuo ocorre após meses de políticas migratórias consideradas instáveis e de sinais de endurecimento regulatório durante o governo Donald Trump (Partido Republicano), que, segundo o setor, têm gerado insegurança entre candidatos estrangeiros.

A chefe de pesquisa do IIE, Mirka Martel, afirmou que a magnitude da queda remete aos primeiros meses da pandemia. “A última vez que vimos uma redução nesse nível foi no outono de 2020 [início do ano acadêmico de 2020], quando as restrições de viagem fizeram os novos ingressos despencarem 46%”, disse a jornalistas antes da divulgação do relatório.

O cenário mais amplo também preocupa. O total de estudantes internacionais no país recuou 1%. Enquanto a graduação avançou 2%, a pós-graduação teve queda de 12%. Já o OPT (Optional Practical Training), programa de trabalho para recém-formados, cresceu 14%.

Segundo o IIE, os resultados do Snapshot costumam antecipar movimentos que serão confirmados posteriormente pelo Open Doors, relatório anual que compila dados consolidados do sistema educacional.

Martel afirmou que, embora o Snapshot tenha participação menor de instituições, “as tendências geralmente se repetem”.

O Snapshot foi divulgado junto ao Open Doors 2025, que traz dados do ano acadêmico 2024–2025. Esse conjunto, mais antigo, ainda mostrava uma trajetória de expansão.

No período, os EUA receberam 1.177.766 estudantes internacionais, alta de 5% frente ao ano anterior. Eles representaram 6% das matrículas no ensino superior e adicionaram cerca de US$ 55 bilhões à economia americana em 2024, segundo o Departamento de Comércio. O impacto estimado é de 355 mil empregos sustentados no país, de acordo com a organização NAFSA.

A matrícula na pós-graduação, que vinha em forte ritmo de crescimento, caiu 3% (488.481 alunos). A graduação subiu 4% (357.231), 1ª alta relevante desde a pandemia. O número de estudantes em OPT avançou 21%, para 294.253. Mais da metade dos estudantes internacionais seguia em áreas STEM.

As novas matrículas no início do ano acadêmico de 2024 caíram 7%, para 277.118 alunos. A graduação cresceu 5% no influxo de novos alunos, enquanto a pós-graduação retraiu 15%. O movimento já antecipava a queda mais acentuada de 2025.

A Índia registrou um recorde histórico de 363.019 estudantes nos EUA no período 2024–2025, alta de 10%. A China enviou 265.919 alunos, queda de 4% frente ao ano anterior e bem abaixo do pico de 372.532 registrado em 2019–2020.

Doze dos 25 principais países de origem – entre eles Bangladesh, Gana, Nigéria, Paquistão, Espanha e Vietnã – tiveram seus maiores volumes já registrados.

No recorte estadual, 45 Estados ampliaram o número de estudantes internacionais. O Texas teve o maior crescimento, 8% (mais 7.497 estudantes). Illinois avançou 7%, e Missouri, 11%. As instituições públicas receberam 59% dos alunos estrangeiros. Os community colleges tiveram o maior ritmo de expansão, com 8%.

O intercâmbio acadêmico de estudantes americanos também avançou. No ano letivo 2023–2024, 298.180 alunos estudaram no exterior, alta de 6%. Itália, Espanha, Reino Unido e França seguiram como destinos preferidos, enquanto o Japão subiu para a 5ª posição após crescer 16%.

Diante dos atrasos em vistos e de outras barreiras, as universidades vêm flexibilizando processos. Segundo o Snapshot, 72% das instituições oferecem adiamento para o 1º semestre de 2026, e 56%, para o 2º semestre do mesmo ano.

Martel disse que as instituições estão sendo “extremamente flexíveis” para garantir a chegada dos alunos.

Mesmo assim, a queda de 17% nas novas matrículas e a perda de 12% no total de estudantes de pós-graduação indicam, segundo o relatório, que os EUA entram em um período de incerteza na disputa global por talentos. O setor avalia que vantagens históricas do país já não são garantidas e que fatores externos às universidades têm exercido peso crescente sobre as decisões dos candidatos.

Por: Poder360

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