• Segunda-feira, 17 de novembro de 2025

Quem é Sheikh Hasina, ex-premiê de Bangladesh condenada à morte

Ex-líder vive exilada na Índia desde 2024; tribunal a acusa de ordenar repressão letal a protestos estudantis.

Condenada à morte nesta 2ª feira (17.nov.2025) por crimes contra a humanidade, Sheikh Hasina Wazed, 78 anos, ficou no poder de Bangladesh por cerca de 20 anos. Seus governos foram marcados por crescimento econômico e por acusações de autoritarismo, perseguição a opositores e restrições à imprensa.

Hasina é filha de Sheikh Mujibur Rahman, líder da independência e 1º presidente de Bangladesh. Em 1975, seu pai e grande parte da família foram assassinados em um golpe militar. Hasina sobreviveu porque estava fora do país e viveu 6 anos no exílio antes de retornar em 1981.

Formada em literatura bengali na Universidade de Dhaka, capital do país, participou de movimentos estudantis e assumiu a liderança da Liga Awami, partido fundado por seu pai e historicamente associado ao nacionalismo bengali e ao secularismo. No fim de 1980, teve papel central no levante que derrubou o ditador Hussain Muhammad Ershad, abrindo caminho para a redemocratização.

Ela foi primeira-ministra pela 1ª vez em 1996. Perdeu o poder em 2001 para sua rival Khaleda Zia, mas retornou ao cargo em 2009, onde permaneceu por 15 anos consecutivos. Bangladesh não tem limite de mandatos.

Hasina deixou o poder em agosto de 2024 depois dos protestos estudantis de grande escala, fugiu para a Índia e permanece exilada no país desde então. Bangladesh é atualmente administrada por um gabinete interino liderado por Muhammad Yunus, que proibiu a Liga Awami em 2025 e organiza eleições para 2026.

O tribunal especial de Bangladesh considerou que Sheikh Hasina ordenou a repressão violenta aos protestos de estudantes em 2024.

Antes do veredito, a ex-premiê rejeitou todas as acusações e questionou a imparcialidade do julgamento, dizendo que o processo era politicamente motivado e que a condenação era “uma conclusão inevitável”. Segundo o tribunal, cerca de 1.400 manifestantes foram mortos e até 25.000 ficaram feridos durante semanas de mobilizações no país.

O tribunal afirma que Hasina autorizou o uso de força letal, incluindo helicópteros e drones e falhou em proteger civis, resultando em mortes em áreas como Chankharpul (Dhaka) e Ashulia (Savar). Além dela, o ex-ministro do Interior Asaduzzaman Khan Kamal também recebeu pena de morte, enquanto o ex-chefe de polícia Chowdhury Abdullah Al-Mamun foi condenado a 5 anos de prisão.

A defesa diz que o tribunal é uma ferramenta política contra a Liga Awami e que o julgamento não seguiu padrões internacionais. Embora exista tratado de extradição entre Índia e Bangladesh, Nova Délhi pode recusar entregar Hasina caso considere que as acusações tenham motivação política.

“Como vizinho próximo, a Índia permanece comprometida com os melhores interesses do povo de Bangladesh, incluindo a paz, a democracia, a inclusão e a estabilidade naquele país. Sempre nos engajaremos de forma construtiva com todas as partes interessadas para esse fim”, afirmou o Ministério das Relações Exteriores da Índia em comunicado. 

Em um comunicado, Hasina afirmou que sua condenação à morte é fruto de um “tribunal fraudulento”, controlado por um governo “não eleito, sem mandato democrático e guiado por extremistas”. Segundo ela, os vereditos são “tendenciosos e politicamente motivados”, parte de um esforço do governo interino de Yunus para “destruir a última primeira-ministra eleita de Bangladesh” e neutralizar a Liga Awami como força política.

Hasina sustenta que nunca ordenou o assassinato de manifestantes e que o processo contra ela carece de provas, baseando-se em depoimentos anônimos, documentos ocultados e transcrições “retiradas do contexto”. Diz que apenas buscou restaurar a ordem durante episódios de violência, incêndios e ataques contra prédios do governo em julho e agosto de 2024, mas teve seu direito de defesa cerceado e foi impedida de escolher advogados. 

A ex-primeira-ministra afirma que só seria julgada de forma justa em Haia e desafia o governo interino a levar o caso ao Tribunal Penal Internacional — algo que, segundo ela, Yunus jamais fará porque o TPI (Tribunal Penal Internacional) revelaria tanto sua inocência quanto as violações de direitos humanos cometidas pelo atual governo.

Hasina afirmou que o futuro de Bangladesh deve ser decidido pelo povo em eleições “livres, justas e inclusivas”, e não por um regime “inconstitucional” que, para ela, “governa por vingança”.

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Por: Poder360

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