• Sexta-feira, 18 de julho de 2025

Injeção que previne HIV poderia ser mil vezes mais barata, diz estudo

Estudo aponta que as duas doses anuais do lenacapavir podem ser produzidas por 25 dólares. Barreiras comerciais e patentes limitam acesso

As descobertas sobre a eficácia inédita do medicamento trouxeram esperança sobre a erradicação de novos casos da doença que tem feito vítimas globalmente há 50 anos. As injeções de uso semestral demonstraram eficácia igual ou superior aos 99% dos comprimidos diários atualmente usados como profilaxia pré-exposição (PrEP), incentivando na última segunda-feira (14/7), o uso do medicamento. O problema desta nova esperança da medicina, porém, está nos custos que ela acarreta e boa parte deles são dispensáveis. Uma análise publicada em formato preprint na revista feita por pesquisadores que trabalham há décadas com o acesso aos remédios do HIV, indica que o tratamento poderia ser 1.000% mais barato do que o preço cobrado atualmente. O que é o HIV e sua diferença para a aids? O vírus da imunodeficiência humana (HIV) é um microrganismo que ataca o sistema imunológico. Quando não é tratado, ele pode evoluir para a aids (síndrome da imunodeficiência adquirida), que representa o estágio mais avançado da infecção pelo HIV. Embora não exista a cura para a aids, o tratamento antirretroviral pode controlar a infecção, permitindo que pessoas vivendo com HIV tenham uma vida longa e saudável. O tratamento correto pode fazer com que o paciente atinja a, ou seja, tão baixa que não pode ser detectada por testes padrão. Nesse caso, a pessoa também não transmite o vírus. durante o sexo sem proteção, compartilhamento de seringas e quando não for bem assistido. Beijos, suor, ou qualquer outra forma de contato íntimo, incluindo o sexo feito com preservativo, não transmite o HIV. O SUS disponibiliza testes rápidos para o HIV e também o tratamento preventivo com a profilaxia pré-exposição (PrEP), com o uso de um remédio diário. Procure um serviço de saúde e Segundo o grupo de pesquisadores liderado pelo médico ativista Andrew Hill, pesquisador da Universidade de Liverpool, as duas doses necessárias para o tratamento com lenacapavir em um ano poderiam custar apenas US$ 25 (aproximadamente R$ 139). O custo anual do medicamento por pessoa, porém, é de cerca de US$ 24,9 mil (R$ 138 mil). “Estamos em um momento em que poderemos ver a eliminação virtual das infecções por HIV, mas somente se o medicamento for acessível e amplamente disponível”, disse Andrew Hill em entrevista ao European Aids Treatment Group. Leia também O que é o lenacapavir? A substância tem eficácia comprovada para reduzir a quase a zero a transmissão do vírus, além de atuar também para pessoas com HIV avançado. A injeção não é uma vacina contra o HIV. Ela é apenas um remédio antirretroviral para prevenir que o vírus se instale no organismo em caso de contato, de forma semelhante aos comprimidos da PrEP, que são tomados diariamente. Sua vantagem está no fato de poder ser aplicado fora de ambientes hospitalares, em farmácias, por exemplo, e só duas vezes ao ano. , mas em aplicações de injeções mais profundas, em um protocolo hospitalar que ainda está sendo estudado. Entretanto, os especialistas alertam que o preço atualmente cobrado pela farmacêutica que possui a patente, a Gilead, ainda impede o uso em larga escala. 13 imagens A baixa imunidade permite o aparecimento de doenças oportunistas, que recebem esse nome por se aproveitarem da fraqueza do organismo. Com isso, atinge-se o estágio mais avançado da doença, a aids
Os medicamentos antirretrovirais (ARV) surgiram na década de 1980 para impedir a multiplicação do HIV no organismo. Esses medicamentos ajudam a evitar o enfraquecimento do sistema imunológico
O uso regular dos ARV é fundamental para aumentar o tempo e a qualidade de vida das pessoas que vivem com HIV e reduzir o número de internações e infecções por doenças oportunistas
O tratamento é uma combinação de medicamentos que podem variar de acordo com a carga viral, estado geral de saúde da pessoa e atividade profissional, devido aos efeitos colaterais
Em 2021, um novo medicamento para o tratamento de HIV, que combina duas diferentes substâncias em um único comprimido, foi aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) 
 
Fechar modal. 1 de 13 HIV é a sigla em inglês do vírus da imunodeficiência humana. O causador da aids ataca o sistema imunológico, responsável por defender o organismo de doenças. Os primeiros sintomas são muito parecidos com os de uma gripe, como febre e mal-estar. Por isso, a maioria dos casos passa despercebida Arte Metrópoles/Getty Images 2 de 13 A baixa imunidade permite o aparecimento de doenças oportunistas, que recebem esse nome por se aproveitarem da fraqueza do organismo. Com isso, atinge-se o estágio mais avançado da doença, a aids Anna Shvets/Pexels 3 de 13 Os medicamentos antirretrovirais (ARV) surgiram na década de 1980 para impedir a multiplicação do HIV no organismo. Esses medicamentos ajudam a evitar o enfraquecimento do sistema imunológico Hugo Barreto/Metrópoles 4 de 13 O uso regular dos ARV é fundamental para aumentar o tempo e a qualidade de vida das pessoas que vivem com HIV e reduzir o número de internações e infecções por doenças oportunistas iStock 5 de 13 O tratamento é uma combinação de medicamentos que podem variar de acordo com a carga viral, estado geral de saúde da pessoa e atividade profissional, devido aos efeitos colaterais iStock 6 de 13 Em 2021, um novo medicamento para o tratamento de HIV, que combina duas diferentes substâncias em um único comprimido, foi aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) Hugo Barreto/Metrópoles 7 de 13 A empresa de biotecnologia Moderna, junto com a organização de investigação científica Iavi, anunciou no início de 2022 a aplicação das primeiras doses de uma vacina experimental contra o HIV em humanos Arthur Menescal/Especial Metrópoles 8 de 13 O ensaio de fase 1 busca analisar se as doses do imunizante, que utilizam RNA mensageiro, podem induzir resposta imunológica das células e orientar o desenvolvimento rápido de anticorpos amplamente neutralizantes (bnAb) contra o vírus Arthur Menescal/Especial Metrópoles 9 de 13 Nos Estados Unidos, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças aprovou o primeiro medicamento injetável para prevenir o HIV em grupos de risco, inclusive para pessoas que mantém relações sexuais com indivíduos com o vírus spukkato/iStock 10 de 13 O Apretude funciona com duas injeções iniciais, administradas com um mês de intervalo. Depois, o tratamento continua com aplicações a cada dois meses iStock 11 de 13 O PrEP HIV é um tratamento disponível no Sistema Único de Saúde (SUS) feito especificamente para prevenir a infecção pelo vírus da Aids com o uso de medicamentos antirretrovirais Joshua Coleman/Unsplash 12 de 13 Esses medicamentos atuam diretamente no vírus, impedindo a sua replicação e entrada nas células, por isso é um método eficaz para a prevenção da infecção pelo HIV iStock 13 de 13 É importante que, mesmo com a PrEP, a camisinha continue a ser usada nas relações sexuais: o medicamento não previne a gravidez e nem a transmissão de outras doenças sexualmente transmissíveis, como clamídia, gonorreia e sífilis, por exemplo Keith Brofsky/Getty Images Produção em escala pode reduzir custos Para estimar a redução de custos que seria possível alcançar com o tratamento, os pesquisadores imaginaram uma produção em grande escala e caso se retirassem valores vinculados à patente, com capacidade de produção para atender mais de 5 milhões de pessoas. Em resposta às críticas sobre os custos, a Gilead concedeu licenças voluntárias para três fabricantes de genéricos investirem na produção de produtos derivados do lenacapavir em países de baixa renda, especialmente na África. Por isso, os pesquisadores defendem que os governos avaliem o uso de licenças compulsórias para produzir os medicamentos patenteados sem respeitar as exigências dos organismos internacionais. “Os medicamentos preventivos devem ter preços que alcancem o maior número possível de pessoas. Eles não podem ser tratados como terapias de luxo. É absolutamente insano o valor pedido: nenhum sistema de saúde pode arcar com a implementação generalizada do lenacapavir aos preços atuais”, enfatizou o epidemiologista Andrew Grulich. Hill arremata: “O lenacapavir é o mais próximo que temos de uma vacina contra o HIV. Mas, sem acesso acessível, esse avanço corre o risco de se tornar uma tragédia para a saúde pública, em vez de um triunfo”, conclui. Siga a editoria de e fique por dentro de tudo sobre o assunto!
Por: Metrópoles

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