• Sexta-feira, 14 de novembro de 2025

Como a Família Scheffer construiu um império no agronegócio brasileiro

Como a visão de pioneiros, a divisão estratégica em dois grupos e uma gestão agressiva forjaram uma das famílias mais poderosas, e polêmicas, do agronegócio brasileiro.

Como a visão de pioneiros, a divisão estratégica em dois grupos e uma gestão agressiva forjaram uma das famílias mais poderosas, e polêmicas, do agronegócio brasileiro. Em 2021, o empresário Elusmar Maggi Scheffer colocou o sobrenome da família nas manchetes esportivas do país. Torcedor fanático do Internacional, ele não hesitou em doar R$ 1 milhão ao clube. O dinheiro pagaria a multa que permitiria ao jogador Rodinei (então emprestado pelo Flamengo) jogar contra o próprio Flamengo em uma partida decisiva. A história virou meme nacional: Rodinei jogou, foi expulso, e o Inter perdeu o jogo. Mas o episódio revelou ao grande público a ponta do iceberg de um poder econômico quase inimaginável, onde R$ 1 milhão é um valor disponível para uma paixão clubística.
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    Esse é apenas um capítulo da trajetória da família Scheffer, um dos clãs mais poderosos do campo brasileiro. E, como toda grande história de um império bilionário, esta também é repleta de reviravoltas: brigas judiciais entre pai e filho, acusações de ocultação de herança, multas milionárias por desmatamento e até investigações sobre um aeroporto privado construído em área pública. window._taboola = window._taboola || []; _taboola.push({mode:'thumbnails-mid', container:'taboola-mid-article-thumbnails', placement:'Mid Article Thumbnails', target_type: 'mix'});Mas antes das manchetes, tudo começou de forma muito mais simples. As Raízes: 65 Hectares de Resiliência Para entender o tamanho dos Scheffer hoje, é preciso voltar à década de 1970, em São Miguel do Iguaçu (PR). Vindos do Rio Grande do Sul, os Scheffer eram “colonos”, pequenos agricultores que tocavam a vida em apenas 65 hectares. O espírito empreendedor já existia, mas o primeiro grande revés também: a primeira indústria que montaram no Paraná foi completamente destruída por um incêndio. O episódio não os quebrou; serviu para revelar a principal característica da família: a resiliência. O Ponto de Virada: O Convite de André Maggi O salto quântico na história da família tem data e nome. Em 2 de junho de 1982, o lendário agricultor André Maggi — tio dos irmãos Eraí, Elusmar, Fernando e Elizeu Maggi Scheffer — fez um convite que mudaria o destino de todos. Ele chamou os sobrinhos a deixarem o Paraná e se mudarem para Rondonópolis (MT), a nova e promissora fronteira agrícola do país. O objetivo inicial era modesto: ajudar o tio a administrar uma fazenda arrendada de 2 mil hectares, cujo nome se tornaria lendário: Bom Futuro. Eles mal sabiam que estavam dando o primeiro passo para construir não um, mas dois dos maiores impérios do agronegócio mundial, que juntos colocariam a família na lista de bilionários da Forbes em 2014, com uma fortuna estimada em US$ 4,9 bilhões. Um Clã, Dois Impérios O que começou unido na Fazenda Bom Futuro, logo se dividiu em duas estratégias de negócio distintas, criando dois conglomerados paralelos, mas ambos sob o controle da família. 1. O Império da Escala: Grupo Bom Futuro Os irmãos Eraí, Elusmar e Fernando Maggi Scheffer compraram a área do tio e fundaram oficialmente o Grupo Bom Futuro. A estratégia era clara: escala. O crescimento foi meteórico. Eles adotaram massivamente o plantio direto, tecnologia que revolucionou a agricultura no cerrado, e expandiram agressivamente, comprando terras em Sapezal (MT). O poder do grupo se consolidou com marcos de independência:
  • 1999: Construção do primeiro armazém de grãos, garantindo controle logístico e financeiro.
  • 2007: Fundação da Bom Futuro Energia, diversificando para o setor energético.
  • 2011: Mudança da sede para Cuiabá, aproximando-se do centro político do estado.
  • Foi nesse período que Eraí Maggi Scheffer ganhou o título de “Rei da Soja”. Na safra 2009/10, ele plantou sozinho 223 mil hectares do grão, uma área equivalente à metade de toda a produção de soja do estado de São Paulo na época. O Bom Futuro em Números:
  • Área de Operação: + 615 mil hectares
  • Produção (Soja/Milho): 1,9 milhão de toneladas/ano
  • Produção (Algodão): 360 mil toneladas/ano
  • Rebanho (Gado): 109 mil cabeças
  • Colaboradores: 8 mil
  • Faturamento Anual: Estimado entre R$ 8 e R$ 10 bilhões
  • 2. O Império da Inovação: Grupo Scheffer Enquanto o Bom Futuro crescia horizontalmente, outro ramo da família apostava na verticalização e na inovação. Em 1986, Elizeu Maggi Scheffer, irmão de Eraí e Elusmar, fundou o Grupo Scheffer. Começando com “apenas” 400 hectares de soja, o foco de Elizeu nunca foi volume, mas sim tecnologia, gestão e diversificação. A grande virada veio em 1996, quando o grupo fez uma aposta de altíssimo risco: investir no algodão, uma cultura complexa e, até então, pouco explorada no Mato Grosso. O risco compensou. A iniciativa ajudou a transformar Sapezal no maior polo de algodão do Brasil. O Grupo Scheffer consolidou sua reputação como referência em eficiência e sustentabilidade, sendo a primeira empresa do estado a emitir um CRA (Certificado de Recebíveis do Agronegócio). Em 2020, deu um passo além e iniciou operações na Colômbia. O Grupo Scheffer em Números:
  • Área de Operação: + 230 mil hectares (MT, MA e Colômbia)
  • Produção (Grãos/Algodão): + 700 mil toneladas/ano
  • Colaboradores: 2,7 mil
  • Faturamento Anual: Superior a R$ 1,7 bilhão
  • O Peso do Poder: Sombras e Sucessão Como todo império, o dos Scheffer também enfrenta suas sombras. O sucesso colossal atraiu o escrutínio das autoridades. O Grupo Bom Futuro, de Eraí, já foi alvo da Operação Rios Voadores do Ibama, por desmatamento ilegal. Além disso, há investigações sobre a construção de um aeroporto em Rondonópolis, que estaria localizado em área pública. Mais recentemente, a família consolidou sua influência no mercado corporativo com a compra de 5% das ações da SLC Agrícola, uma das maiores empresas de grãos do país, num movimento estratégico que os colocou como influenciadores de mercado. Hoje, os dois impérios buscam se posicionar na vanguarda da sustentabilidade, mas por caminhos distintos. O Grupo Scheffer (de Elizeu) aposta na agricultura regenerativa, que visa devolver a vida ao solo. O Grupo Bom Futuro (de Eraí) defende a bandeira da produção com carbono neutro, buscando provar que escala e responsabilidade ambiental podem andar juntas. O futuro, agora, está nas mãos da nova geração, que já assume o comando com estilos diferentes:
  • No Grupo Scheffer, quem lidera é Guilherme Scheffer, economista e símbolo da modernização da gestão, atuando de forma mais visível, sob os “holofotes”.
  • No Bom Futuro, o comando estratégico está com Cleverson Scheffer, descrito como discreto e responsável por movimentos táticos, preferindo os “bastidores”.
  • De 65 hectares no Paraná a um domínio que se espalha por milhões de hectares pelo mundo, a família Scheffer prova que o agronegócio moderno é feito de visão, coragem e estratégia. Pode haver controvérsias, mas é impossível contar a história da agricultura brasileira sem dedicar um capítulo inteiro a eles. Escrito por Compre Rural VEJA MAIS:
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  • ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Ana Gusmão sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira
    Por: Redação

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