O PT (Partido dos Trabalhadores) divulgou nesta 2ª feira (8.dez.2025) a Resolução Política da sigla, definida no último fim de semana durante reunião do Diretório Nacional da legenda. O texto com 30 pontos dá grande ênfase a ideias de esquerda que a agremiação sempre defendeu, mas agora ficam mais explícitas e adaptadas à atual conjuntura.
Trata-se de uma atualização das propostas partidárias que devem ser referendadas no 8º Congresso Nacional da legenda, marcado para 23 e 26 de abril de 2026. O Poder360 antecipou o conteúdo do documento, que foi compartilhado com a cúpula petista na noite de domingo (7.dez.2025). Leia a íntegra (PDF – 114 kB).
O aspecto mais relevante do documento do Diretório Nacional do partido ao qual o presidente Luiz Inácio Lula da Silva é filiado é quando a legenda diz como deverá ser conduzida a economia do país num eventual 4º mandato do petista. Há forte defesa da presença do Estado como indutor do desenvolvimento.
“Nosso programa precisa articular o papel do Estado como indutor do desenvolvimento […] a defesa de uma nova arquitetura econômica mundial democrática e multipolar, e o enfrentamento ao rentismo, que concentra a renda e limita o crescimento”.
Em seguida, o Diretório Nacional do PT fala sobre o que deseja para um eventual 4º mandato de Lula: “O Programa deve propor reformas estruturais pós-terceiro mandato do Presidente Lula, aprofundando e atualizando políticas como a Nova Indústria Brasil, o PAC, a transição ambiental e energética, e sobretudo defendendo uma reforma tributária progressiva e a redução drástica dos juros reais, condições essenciais para retomar plenamente o desenvolvimento nacional”.
Quando fala em “reforma tributária progressiva”, o PT quer dizer aumentar os impostos dos mais ricos e das empresas. Sobre “redução drástica dos juros reais”, essa é uma indicação de que um 4º mandato de Lula começaria com grande pressão sobre o Banco Central para antecipar ao máximo o corte da taxa básica de juros, a Selic.
Com 17.294 palavras, o documento formatado pelo Diretório Nacional do PT defende a criação de um Ministério da Segurança Pública, algo que causa controvérsia dentro do governo Lula. O atual ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, é contra essa divisão, pois perderia poder. Ocorre que a segurança pública se transformou num dos temas mais relevantes no país e a agenda política nesse caso é quase sempre dominada pela direita. O PT enxerga na criação do novo ministério uma forma de assumir algum protagonismo no debate que virá no ano eleitoral de 2026.
O PT também diz que “a soberania nacional no século 21 depende, de forma decisiva, da soberania digital”. Para o partido, “o processo de transformação estrutural do capitalismo contemporâneo” é “marcado pela centralidade das plataformas e pela concentração inédita de dados, infraestrutura computacional e poder algorítmico”. Essa conjuntura leva as empresas privadas a controlar “fluxos de informação” que “moldam comportamentos e influenciam diretamente a disputa política”.
A legenda de Lula acha que os “algoritmos opacos definem o alcance e a existência pública das narrativas, favorecendo a extrema direita por meio de dinâmicas que privilegiam conteúdos explosivos e desinformação”. No texto, a expressão big techs aparece 4 vezes. O PT defende a “regulação das big techs” e pede um “empoderamento das redes progressistas, o fortalecimento da comunicação pública e a construção de uma presença massiva e coordenada nas plataformas digitais”.
“O Brasil não pode permanecer subordinado ao oligopólio global das big techs, nem permitir que a inteligência artificial seja utilizada para precarizar o trabalho ou burlar direitos históricos da classe trabalhadora”, diz essa versão preliminar da “Resolução Política” do PT à qual o Poder360 teve acesso.
O partido acha que ficará vulnerável à influência digital externa nas eleições de 2026: “O PT deve estar preparado para enfrentar tentativas de desestabilização e manipulação digital de larga escala”. É mais ou menos o que o ex-deputado e ex-ministro José Dirceu de Oliveira e Silva disse em seu discurso no fim de semana no encontro petista: “Tenho a intuição que o Brasil vai viver um momento revolucionário. Agora a questão é saber se estamos à altura desse momento. Vamos ser capazes, nesse congresso, de dotar nosso partido de um estatuto, de uma organização para enfrentar o desafio? Porque o desafio é o risco de guerra”.
Para o PT, a conjuntura nacional espelha o que se passa no cenário internacional. A prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e de 4 generais “é um fato inédito na história do Brasil” e “recoloca a direita em xeque”. Apesar disso, a legenda entende que o bolsonarismo “segue articulado, mantendo ativo um núcleo fascista que disputa e hegemoniza setores importantes da política nacional”.
Na sequência do texto, o PT opina que a direita no Brasil não atua de forma isolada: “O bolsonarismo, de caracterização fascista, mantém alinhamento estratégico com a extrema direita internacional, recebendo apoio político, ideológico, financeiro e comunicacional de redes globais ligadas ao trumpismo, ao neofascismo europeu, a think tanks ultraliberais e às plataformas digitais que operam desinformação em escala industrial”.
O documento petista cita só 2 nomes da direita brasileira: Jair Bolsonaro e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). Ignora completamente o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), que anunciou na semana passada que seu pai o havia indicado para concorrer ao Planalto em 2026.
O partido de Lula vê “alinhamento global” de “setores da direita brasileira”, e menciona governadores que, segundo a legenda, estariam “atuando para sabotar políticas do governo Lula, criando obstáculos à ação federativa em áreas estratégicas como segurança pública, infraestrutura, educação e políticas sociais (…). Entre eles, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, se destaca como principal interlocutor do projeto neoliberal e privatista, transformando São Paulo em laboratório da redução radical do papel do Estado, da entrega de bens públicos e do enfrentamento ideológico ao governo federal”.
As únicas ministras nominalmente citadas no documento são duas mulheres: Esther Dweck, ministra da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (no ponto 1) e Márcia Lopes, ministra das Mulheres (28).
No X, o presidente nacional do PT, Edinho Silva, disse que o partido “está se preparando para uma grande mobilização nacional, porque reeleger o presidente Lula não é apenas um projeto eleitoral”, mas algo necessário para “defender o Brasil”, “a democracia” e “o futuro” dos brasileiros.

Leia os principais temas de cada 1 dos 30 pontos do documento:





