Porque o brasileiro está comendo menos arroz e feijão?
Brasileiro troca o tradicional arroz com feijão por alimentos ultraprocessados — práticos, porém menos saudáveis e cada vez mais presentes na mesa das famílias.
Brasileiro troca o tradicional arroz com feijão por alimentos ultraprocessados — práticos, porém menos saudáveis e cada vez mais presentes na mesa das famílias. O tradicional prato de arroz com feijão, símbolo da alimentação brasileira há gerações, está perdendo espaço na mesa do país. Dados divulgados recentemente pela Embrapa e repercutidos em reportagem do Jornal Nacional mostram que o consumo per capita dos dois alimentos atingiu, em 2025, os menores índices desde os anos 1960. Mesmo com períodos de queda nos preços, a procura continua em retração — sinal de que as mudanças nos hábitos alimentares vão além da economia e refletem transformações sociais, culturais e demográficas. O levantamento aponta que tanto o arroz quanto o feijão vêm registrando uma queda constante nas últimas décadas. Desde os anos 1980, o consumo per capita desses alimentos tradicionais diminui gradualmente, e o que antes era presença obrigatória no almoço diário começa a ser substituído por opções mais práticas. window._taboola = window._taboola || [];
_taboola.push({mode:'thumbnails-mid', container:'taboola-mid-article-thumbnails', placement:'Mid Article Thumbnails', target_type: 'mix'});Pesquisas de mercado de 2025 mostram que, mesmo com a redução de preços no primeiro semestre, o consumo do arroz recuou cerca de 5%, enquanto o do feijão caiu 4%. A explicação, segundo especialistas, está menos ligada ao bolso e mais aos novos comportamentos de consumo. Um dos principais fatores apontados é a mudança no estilo de vida. Com rotinas mais corridas e menos tempo para cozinhar, muitas famílias têm preferido refeições prontas, congeladas ou ultraprocessadas. A busca por praticidade fez com que o preparo de arroz e feijão — que exige mais tempo e planejamento — fosse deixado de lado em boa parte dos lares urbanos. Além disso, o aumento no número de pessoas morando sozinhas ou em famílias menores também reduziu a frequência do preparo de pratos tradicionais, que costumavam ser feitos em maior quantidade. Outro ponto relevante é a transformação nas preferências alimentares, especialmente entre as gerações mais jovens. Dietas com menor consumo de carboidratos, maior foco em proteínas e o apelo das comidas rápidas influenciam as escolhas diárias. Hoje, o brasileiro consome mais alimentos industrializados, snacks e marmitas prontas, o que naturalmente desloca espaço do clássico “arroz com feijão”. A questão econômica, ainda que não seja o único fator, também pesa. Mesmo com quedas pontuais nos preços em 2025, a alta dos alimentos nos últimos anos e os custos de produção, transporte e energia impactaram a rotina das famílias. O cenário de inflação persistente e renda apertada fez com que muitos consumidores buscassem alternativas mais baratas ou com maior durabilidade.
Paralelamente à queda desses dois itens, o consumo de proteínas se mantém forte e, em alguns casos, cresce. A produção brasileira de carnes de frango e suína atingiu recordes em 2024 e 2025, o que aumentou a oferta no mercado interno e contribuiu para manter o consumo elevado. Estudos da Kantar apontam que as proteínas representam mais de um terço dos gastos com bens alimentares nos lares brasileiros, com muitas famílias mantendo em casa vários tipos de carne ao mesmo tempo. Produção de carne bovina do Brasil em 2026 deve ter leve retração, diz Conab Produção de carne suína e de frango devem atingir novo recorde em 2025 Além das carnes, os alimentos ultraprocessados vêm conquistando espaço cada vez maior. A praticidade, o marketing agressivo e a ampla variedade de opções disponíveis atraem consumidores de diferentes faixas etárias e regiões. Com isso, a dupla arroz e feijão perde terreno até mesmo nas refeições caseiras — um fenômeno que também preocupa nutricionistas e especialistas em segurança alimentar. Alimentos ultraprocessados causam grande malefício na saúde humana Ultraprocessados não são comida e podem causar 32 doenças, dizem estudos A redução no consumo desses alimentos básicos tem implicações importantes. Arroz e feijão formam uma combinação nutricional completa e acessível, com proteínas vegetais, fibras e minerais essenciais. Substituí-los por opções industrializadas pode comprometer a qualidade da dieta da população, especialmente entre as famílias de menor renda. Além disso, o recuo na demanda afeta diretamente milhares de produtores rurais, muitos deles pequenos agricultores que dependem dessas culturas para sustento. Em resumo, o brasileiro está comendo menos arroz e feijão não apenas por questões de preço, mas por mudanças profundas na forma de viver e se alimentar. A praticidade, o tamanho das famílias, as novas dietas e o apelo de produtos prontos transformaram o que antes era um hábito diário em uma tradição que, aos poucos, se torna mais rara. Resta saber se políticas públicas, educação alimentar e o próprio movimento de valorização da comida caseira conseguirão reverter essa tendência — ou se o prato mais brasileiro de todos continuará, a cada ano, perdendo espaço no cardápio nacional.
Por: Redação