Pesquisa avança na seleção de animais da raça Canchim resistente a carrapatos

Prova realizada no interior de São Paulo reuniu pesquisadores e criadores da raça Canchim; análise integrada dos dados permitiu identificar linhagens com maior resistência ao carrapato Segundo dados da Embrapa, os prejuízos causados pelo carrapato na pecuária brasileira ultrapassam R$ 10 bilhões por ano, incluindo perdas diretas como redução na produtividade de carne e leite, custos com tratamentos e mortalidade de animais, além de danos indiretos como a transmissão de doenças como a tristeza parasitária bovina. Esse parasita, considerado um dos maiores desafios sanitários do setor, compromete não apenas o desempenho dos rebanhos, mas também a sustentabilidade econômica das propriedades rurais, especialmente em regiões de clima tropical, onde sua incidência é mais intensa.

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Diante desse cenário, a seleção de animais geneticamente resistentes surge como estratégia crucial para reduzir custos e aumentar a eficiência produtiva. Um estudo inédito sobre a resistência de bovinos Canchim aos carrapatos está sendo realizado simultaneamente à prova de desempenho de touros jovens a pasto na Ilma Agropecuária, em Angatuba (SP), e no rebanho da Embrapa Pecuária Sudeste, com o objetivo de formar uma base de dados mais robusta sobre o tema. window._taboola = window._taboola || []; _taboola.push({mode:'thumbnails-mid', container:'taboola-mid-article-thumbnails', placement:'Mid Article Thumbnails', target_type: 'mix'});Uma equipe multidisciplinar composta por pesquisadores da Embrapa Pecuária Sudeste e do Instituto de Zootecnia de Nova Odessa (IZ) acompanhou os animais, analisando diferentes estágios de infestação parasitária por meio de metodologias inovadoras. Entre as técnicas utilizadas destacam-se o sistema de “score de carrapato” e a contagem tradicional de fêmeas adultas engurgitadas, que permitem uma avaliação mais completa da resistência dos animais. Três importantes criatórios de Canchim contribuíram com animais para a realização desta prova: o Canchim ILMA, representado por Adriano Lopes; o Canchim CantaGalo, na pessoa de Valentin I. Suchek; e o Canchim Mangalba EG, representado por Emílio Gouvea. Durante os manejos, foram registradas imagens em alta resolução para o desenvolvimento de uma ferramenta pioneira baseada em inteligência artificial. Essa tecnologia, desenvolvida pela Embrapa em parceria com o Programa de Melhoramento de Bovinos de Carne (PROMEBO) – com a participação da Dra. Cintia Righetti Marcondes – tem como objetivo fornecer parâmetros genéticos precisos para diversas raças bovinas, permitindo a estimativa de Diferenças Esperadas na Progênie (DEPs) com alta confiabilidade para resistência a carrapatos. Adriano Lopes, do Canchim ILMA, destacou que a pesquisa também incorporará análises genômicas. “Estamos cruzando informações para identificar linhagens com maior resistência ao parasita. O diferencial deste projeto é sua aplicação prática direta no campo, levando aos produtores conhecimento sobre quais linhagens podem contribuir mais efetivamente para o controle sanitário”, explicou. Segundo Cintia, doutora em genética, o carrapato representa um dos principais desafios sanitários da pecuária brasileira. “Estamos conduzindo avaliações em diferentes épocas do ano, correlacionando os dados de infestação parasitária com parâmetros zootécnicos como peso corporal e perímetro escrotal”, explicou a pesquisadora. “O objetivo é construir uma base de dados consistente que permita, futuramente, incluir a raça Canchim em programas de avaliação genética para resistência a carrapatos” – destacou Cintia. “O aprimoramento contínuo do Canchim, desenvolvido pela Embrapa, resultou da incorporação sistemática de tecnologias que potencializaram suas características naturais” – revelou a pesquisadora. De acordo com o biólogo e doutor em genética Rodrigo Giglioti, a pesquisa empregou metodologias distintas para avaliações sucessivas da infestação por carrapatos, visando identificar animais com diferentes níveis de resistência ao parasita. “Realizamos correlações entre as contagens parasitárias, o ganho de peso e a reatividade dos animais, constatando que existe efetivamente uma relação inversa entre esses parâmetros – ou seja, a maior infestação por carrapatos compromete o desempenho zootécnico. Estudos comprovam que a raça apresenta significativamente maior resistência aos carrapatos quando comparada às raças europeias puras tradicionalmente utilizadas em cruzamentos industriais”, explicou o pesquisador. O estudo também quantificou a ocorrência de hemoparasitas responsáveis pelo complexo da tristeza parasitária bovina (anaplasmose e babesioses), demonstrando a associação direta entre essas infecções e a redução no desempenho produtivo dos animais. “ Os dados confirmam o impacto negativo do parasitismo na produtividade do rebanho“, complementou Giglioti. Valentim Suchek, titular do Canchim CantaGalo, enfatiza a importância de abordar a questão do carrapato com atenção especial. “Sabe-se que o Canchim, por sua pelagem curta, naturalmente apresenta menor infestação de carrapatos. Porém, era fundamental avaliar cientificamente como isso impacta no ganho de peso“, explicou. “Os resultados confirmaram a excelente resistência da raça ao parasita. Comprovar essa característica através de dados científicos é crucial – os números foram extremamente positivos e demonstram como a raça pode contribuir para o controle sanitário na pecuária“, comemorou o criador. A prova contou com o suporte técnico-nutricional da empresa Agrária – Nutrição Animal, sob a supervisão do médico veterinário Vitor Damaceno. “Esta parceria, que já dura mais de dez anos, teve como principal desafio fornecer uma suplementação de excelência para que os animais pudessem expressar plenamente seu potencial genético e produtivo em condições de campo”, explicou Damaceno. O técnico ainda destacou que os desafios da prova reproduzem as condições reais da pecuária, e o papel da empresa foi desenvolver soluções para minimizar o impacto dessas adversidades no desempenho animal. “Os resultados demonstraram animais com notável capacidade de adaptação aos desafios naturais e excelente desempenho a campo”, destacou o especialista. Para Emílio, a prova é fundamental para o progresso genético da raça. “O que queremos são animais resistentes a parasitas, estabelecendo linhagens com essa característica. Vivemos em um país tropical, e a resistência a parasitas é de suma importância. Com a parceria e o suporte da Embrapa, estamos conseguindo identificar animais da raça Canchim mais resistentes”, destacou o criador. Quem acompanhou a prova de perto foi a Ourofino Saúde Animal, por meio da consultoria técnica da médica-veterinária Luiza Sartori. “Nosso trabalho consistiu em auxiliar nos protocolos sanitários durante a prova, garantindo que os animais ficassem expostos aos carrapatos e apresentassem algum grau de infestação — objetivo principal da pesquisa. Para isso, elaboramos protocolos estratégicos com produtos que não deixassem resíduos ou períodos de carência, sem interferir nos resultados. A Ourofino valoriza sua participação nessa prova, contribuindo para um projeto extremamente inovador e futurista“, destacou Luiza. Os resultados preliminares indicam que o Canchim, por ter 3/8 de sangue zebuíno em sua composição genética, apresenta menor infestação de carrapatos em comparação a raças taurinas, como o Angus. No entanto, os pesquisadores destacam a necessidade de mais estudos em ambientes controlados para validar esses dados, já que fatores como clima e manejo podem influenciar os resultados. Para os produtores, a pesquisa oferece ferramentas valiosas para a seleção de animais mais resistentes, o que pode reduzir custos com medicamentos e melhorar a produtividade do rebanho. “Essa prova é muito bem-vinda porque o carrapato é um problema real no campo. Ter dados técnicos para embasar nossas decisões é essencial”, destacou um dos criadores participantes.