A viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao Canadá para a cúpula do G7 foi uma coletânea de desventuras para o petista. Chegou com o objetivo de ter um 1º encontro com o presidente norte-americano, Donald Trump, e conseguir mais investimentos para os países em desenvolvimento, mas acabou com problemas técnicos, atrasos e cancelamentos de reuniões.
A série de infortúnios do petista começou antes mesmo dele chegar ao Canadá, com Trump decidindo deixar Kananaskis, cidade sede do evento, ainda na 2ª feira (16.jun.2025) por causa do conflito entre Irã e Israel.
“O presidente Trump teve um ótimo dia no G7, chegando a assinar um importante acordo comercial com o Reino Unido e o primeiro-ministro Keir Starmer. Muito foi alcançado, mas, devido ao que está acontecendo no Oriente Médio, o presidente Trump partirá esta noite, após o jantar com os chefes de Estado”, escreveu a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, no X (ex-Twitter).
Com a decisão, Trump e Lula seguem sem se ver. Este seria o 1º encontro dos 2, ainda que não fosse para uma reunião bilateral. O aperto de mão, mesmo que protocolar, terá de ser adiado.
Em seus discursos, Lula cobrou uma taxação dos super-ricos. Ele afirmou que falta vontade política para investir em países subdesenvolvidos na transição energética e na proteção ambiental.
Em outro momento, o petista defendeu a extinção do G7 para que exista apenas o G20.
Para o chefe do Executivo, o grupo que reúne as 20 maiores economias do mundo tem mais relevância “humana” e “econômica”. Apesar de declarar que o grupo não precisava existir, disse que participa desde 2003 para não dizer que se recusa a participar da “festa dos ricos”.
A prática é quase uma praxe de Lula em encontros do grupo. Em suas 8 participações anteriores no G7, ele exaltou os convites por entender ser um reconhecimento internacional de seu governo e da importância do Brasil no cenário global. Apesar disso, o presidente costuma vocalizar em reuniões do G7 propostas que nem sempre vão para frente.
Em 8 participações, Lula não fechou acordos bilaterais, o que não é foco da cúpula. O petista manteve reuniões com líderes dos 7 países do grupo –Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido, mas falhou em incluir sugestões nas declarações finais da cúpula.
A relação de Lula com o G7 foi marcada por frustrações e cobranças. Desde sua 1ª participação, em 2003, na França, o líder brasileiro criticou o que considera ser a exclusão de economias emergentes dos principais debates globais.
A abertura da reunião de alto nível do G7, grupo das principais economias do mundo, foi atrapalhada por um problema técnico no aparelho de tradução simultânea do presidente brasileiro. O petista foi convidado a participar do evento pelo anfitrião, o primeiro-ministro do Canadá, Mark Carney (Partido Liberal, centro-esquerda).
Enquanto os assessores tentavam resolver o som para Lula, a primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni (Irmãos de Itália, direita), sugeriu que o presidente do Conselho Europeu, o português António Costa, traduzisse a reunião para o brasileiro. Outros líderes riram da proposta e Carney também comentou a piada.
Lula nem percebeu o que se falava enquanto estava tentando normalizar a tradução simultânea. A situação se estendeu por cerca de 2 minutos até Carney retomar a palavra e, finalmente, começar a falar.
Antes de recomeçar o discurso, entretanto, Carney acompanhou a troca dos aparelhos de tradução do petista e pediu desculpas ao chefe de Estado brasileiro.
Na foto oficial, houve mais um caso envolvendo Lula: ele se distraiu ao posar, na 3ª feira (17.jun.2025), para a foto oficial dos participantes da cúpula do G7, realizada em Kananaskis (Canadá). No momento, ele conversava António Costa.
Assista ao momento (1min43s):
No fim da reunião de alto nível do grupo, Lula –e outros líderes de Estado– precisou cancelar as reuniões bilaterais que teria com o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky (Servo da Povo, centro), e com o chanceler da Alemanha, Friedrich Merz (União Democrata Cristã, centro-direita), na 3ª feira (17.jun).
Os encontros seriam realizados depois do encerramento da 51ª Cúpula do G7, em Kananaskis, no Canadá. Mas o atraso de duas horas na agenda do evento forçou as delegações a deixarem a cimeira direto para o aeroporto de Calgary, a cerca de 100 km.
Segundo o Planalto, não havia horários disponíveis no aeroporto para que o avião de Lula decolasse depois do previsto –às 18h30 no horário local (21h30 no horário de Brasília). Merz teve o mesmo problema e já havia deixado Kananaskis antes da comitiva brasileira.
O encontro com Zelensky, proposto pelo líder ucraniano, pode ser remarcado, mas não há confirmação. O contato se daria de modo remoto.
No fim, a viagem de Lula teve de resultado prático algumas reuniões não oficiais nos corredores da cúpula. Ao desembarcar em Brasília, nesta 4ª feira (18.jun), completou 116 dias fora do Brasil desde o início do 3º mandato, iniciado em janeiro de 2023.