Um homem de 32 anos, identificado como Francisco Rariel Dantas, morreu com suspeita de intoxicação por metanol em Campina Grande (PB) neste sábado (4.out.2025). A morte é o 1º caso suspeito registrado na Paraíba.
Segundo a Secretaria de Saúde do Estado, a vítima foi internada na 6ª feira (3.out) com quadro clínico grave. Ele havia consumido bebida alcoólica 3 dias antes da internação. Ele recebeu atendimento inicial no Hospital Regional de Picuí antes de ser transferido para Campina Grande.
Equipes da Polícia Civil e da Agência Estadual de Vigilância Sanitária foram enviadas a Baraúna para investigar a origem da bebida consumida pela vítima e implementar medidas de controle sanitário na região. As autoridades ainda não identificaram a procedência exata da bebida nem divulgaram se há mais casos suspeitos na área.
Em nota, a Secretaria de Saúde da Paraíba afirmou que, “como parte das ações de enfrentamento à situação”, instituiu um Grupo de Trabalho Interdisciplinar para “para o fortalecimento das ações de inspeção, fiscalização e monitoramento relacionadas à possível circulação de bebidas alcoólicas adulteradas”.
O Ministério da Saúde informou, neste sábado (4.out.2025), que o Brasil tem 195 casos de intoxicação por metanol após a ingestão de bebida alcoólica, sendo 14 confirmados e 181 em investigação. As notificações foram enviadas pelos Estados até as 16h para o Cievs (Centro de Informações Estratégicas e Resposta em Vigilância em Saúde Nacional).
São Paulo lidera com 162 registros: 14 confirmados e 148 em investigação.
Também há casos suspeitos nos seguintes Estados: 11 em Pernambuco; 5 em Mato Grosso do Sul; 3 no Paraná; 2 na Bahia; 2 em Goiás; 2 no Rio Grande do Sul; 1 no Distrito Federal; 1 no Espírito Santo; 1 em Minas Gerais; 1 em Mato Grosso; 1 em Rondônia; 1 no Piauí; 1 no Rio de Janeiro; e 1 na Paraíba.
Eis a íntegra da nota a respeito da morte:
“Óbito por suspeita de intoxicação com bebida adulterada
“A Secretaria de Estado da Saúde da Paraíba informa, com pesar, o falecimento de Francisco Rariel Dantas da Silva, 32 anos, ocorrido às 15h45 deste sábado (4.out), no Hospital de Emergência e Trauma de Campina Grande. O paciente havia sido inicialmente atendido no Hospital Regional de Picuí, no dia 3 de outubro, com quadro clínico grave e sintomas compatíveis com suspeita de intoxicação por bebida alcoólica adulterada.
“Durante todo o atendimento, foram adotadas as medidas terapêuticas previstas nos protocolos clínicos, incluindo suporte intensivo e uso de antídoto específico. Apesar de todos os esforços das equipes médicas das duas unidades hospitalares, o paciente apresentou agravamento progressivo do quadro e não resistiu às complicações.
“A Secretaria informa ainda que a Polícia Civil e a Agevisa (Agência Estadual de Vigilância Sanitária) já estão no município de Baraúna, cidade de origem do paciente, para investigação da procedência da bebida e adoção das medidas cabíveis de controle sanitário e segurança à população.
“Como parte das ações de enfrentamento à situação, a Secretaria de Estado da Saúde instituiu um Grupo de Trabalho Interdisciplinar para o fortalecimento das ações de inspeção, fiscalização e monitoramento relacionadas à possível circulação de bebidas alcoólicas adulteradas. O grupo é composto pela Agevisa, Procon Estadual, Polícia Civil, Instituto de Polícia Científica, Ministério da Agricultura e Pecuária e Centro de Informação e Assistência Toxicológica.”
O metanol, também conhecido como álcool metílico (CH₃OH), é uma substância química altamente tóxica, volátil e inflamável. Trata-se de um álcool simples, incolor, de odor semelhante ao da bebida alcoólica comum. No passado, era chamado de “álcool da madeira” por ser obtido da destilação de toras. Hoje, é produzido em escala industrial, sobretudo a partir do gás natural.
O líquido é usado como matéria-prima para a produção de formaldeído, ácido acético, resinas, solventes e tintas. Também está presente em anticongelantes, limpa-vidros e removedores de tinta. No Brasil, uma das principais aplicações é na produção de biodiesel, por meio da transesterificação.
A ingestão de 4 ml a 10 ml de metanol pode causar danos irreversíveis, como a cegueira, segundo o CFQ (Conselho Federal de Química). O conselho alerta que pequenas doses já representam uma ameaça real à vida. Estima que 30 ml de metanol puro podem ser letais.
O perigo maior da ingestão de metanol aparece nos efeitos tardios, afirma o Conselho Federal de Química. O metanol é metabolizado no organismo em formaldeído e ácido fórmico, este último responsável por causar acidose metabólica — um grave desequilíbrio do pH sanguíneo. Os sintomas incluem:
De acordo com a Abno (Associação Brasileira de Neuro-oftalmologia), o diagnóstico deve ser feito a partir da história clínica do paciente e por exames de sangue e de imagem.
Em caso de suspeita de ingestão ou contato prolongado com metanol, não induza o vômito e encaminhe a pessoa com urgência para o hospital. Quanto mais cedo forem realizados o diagnóstico e o tratamento, menor é o risco de morte ou de sequelas graves.
O tratamento é feito com medicamentos intravenosos (fomepizol) que, assim como o etanol, podem inibir o metabolismo do metanol, evitando a formação do ácido fórmico, causador das sequelas mais graves. O paciente pode ser submetido à lavagem gástrica e hemodiálise.
Segundo o Conselho Federal de Química, o problema surge quando o metanol é usado de forma criminosa na adulteração de bebidas alcoólicas.
A ingestão, inalação ou contato prolongado com o metanol pode provocar sintomas imediatos, como náusea, tontura, vômito e depressão do sistema nervoso central.
Para evitar intoxicações, recomenda-se:
A fiscalização rigorosa de órgãos governamentais e as análises laboratoriais periódicas feitas por profissionais da química são essenciais para prevenir tragédias. Eles têm o papel de identificar contaminantes, garantir a qualidade dos produtos e conscientizar a população sobre os riscos do consumo de bebidas adulteradas.