• Sábado, 13 de setembro de 2025

Líderes latino-americanos reagem à condenação de Bolsonaro

Javier Milei, aliado ideológico e pessoal de Bolsonaro, manteve-se em silêncio, assim como a ex-presidente Cristina Kirchner, aliada de Lula

Dois países latino-americanos, Chile e Colômbia, defenderam a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro, destacando o valor da democracia. A Bolívia defendeu a soberania brasileira após a “intromissão” dos Estados Unidos. Na Argentina, Javier Milei, aliado ideológico e pessoal de Bolsonaro, manteve-se em silêncio, assim como a ex-presidente Cristina Kirchner, aliada de Lula, que cumpre prisão domiciliar. Numa região dividida entre governos de esquerda e de direita, com polarizações ideológicas internas, somente três presidentes, todos com afinidade ideológica com Lula, manifestaram a sua posição diante das sentenças contra a tentativa de golpe de Estado que condenaram o ex-presidente Jair Bolsonaro e outros sete ex-ministros e ex-chefes militares. Leia também O presidente de esquerda do Chile, Gabriel Boric, interpretou as condenações como uma demonstração de força da democracia brasileira. “Os meus respeitos à democracia brasileira que resistiu uma tentativa de golpe e hoje julga e condena os seus responsáveis. Tentaram destruí-la e hoje sai fortalecida. Democracia sempre’, publicou o presidente chileno na rede social X numa mensagem que se limitou a exaltar a institucionalidade do Brasil. O Chile terá eleições presidenciais em 16 de novembro com um cenário de polarização entre a esquerda e a extrema-direita. Na Colômbia, o presidente Gustavo Petro também exaltou a democracia, mas subindo o tom contra Bolsonaro. “Todo golpista deve ser condenado. São as regras da democracia”, afirmou o presidente colombiano em uma mensagem na rede X, logo após Jair Bolsonaro ser condenado a 27 anos e três meses de prisão por tentativa de golpe de Estado. A publicação de Petro também foi uma resposta à reação do senador norte-americano Marco Rubio, que criticou a decisão do Supremo Tribunal Federal brasileiro. Segundo ele, os Estados Unidos “responderão à caça às bruxas” contra Bolsonaro. O presidente colombiano tem sido um crítico do comportamento do ex-presidente desde o ataque de 8 de janeiro de 2023. Em 21 de julho passado, por exemplo, quando o ministro Alexandre de Moraes ordenou que Jair Bolsonaro usasse uma tornozeleira eletrônica, Gustavo Petro publicou na rede X uma mensagem elogiando a Justiça brasileira. “Faz-se justiça no Brasil em relação a um fascista. O fascismo não é ideologia; é crime”, escreveu Petro. Colômbia e Bolívia criticam os Estados Unidos Na terça-feira (9), Petro criticou os Estados Unidos pela ameaça velada ao governo Lula em relação ao processo contra Bolsonaro. “Prender fascistas não é atacar a liberdade de expressão; é respeitá-la”, afirmou. “Os Estados Unidos acabaram com a liberdade de imprensa quando prenderam e executaram os genocidas nazistas em Nuremberg? Em Nuremberg, os Estados Unidos reviveram a liberdade de todo o mundo”, escreveu o presidente colombiano. A publicação de Petro refere-se à resposta da porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, que, na terça-feira (9), declarou que “a liberdade de expressão é uma prioridade” para o presidente norte-americano Donald Trump, que “não tem medo de usar o poder econômico e militar” do país para protegê-la “em todo o mundo”. Nas últimas horas, o presidente boliviano Luis Arce também criticou a intromissão dos Estados Unidos no processo penal contra Bolsonaro. “Rejeitamos as declarações intervencionistas dos Estados Unidos contra o Brasil. Ameaçar com o uso do poder econômico e militar, sob o pretexto de defender a liberdade de expressão em favor de Bolsonaro, constitui uma intromissão colonialista e inaceitável nos assuntos internos de uma nação soberana, além de violar o Direito Internacional”, publicou Arce na rede X. “O Brasil é um país livre e soberano” e “A América Latina é uma zona de paz”. Silêncio dos aliados argentinos Na Argentina, o presidente Javier Milei, que enfrenta uma crise política após uma dura derrota eleitoral na província de Buenos Aires, responsável por quase 40% do eleitorado do país, manteve-se em silêncio sobre a condenação de seu aliado ideológico e amigo, Jair Bolsonaro. Segundo analistas políticos, após perder por mais de 13,6 pontos percentuais para a oposição, se Milei defendesse o amigo brasileiro, poderia se associar a mais uma derrota na mesma semana. “Vejam a perseguição judicial que o nosso amigo Jair Bolsonaro sofre aqui no Brasil”, disse Javier Milei em 7 de julho de 2024, durante uma convenção da extrema-direita em Camboriú, Santa Catarina, ao lado de Bolsonaro. Quem também permaneceu em silêncio foi a ex-presidente Cristina Kirchner (2007–2015), aliada de Lula. Nesse caso, uma manifestação de Kirchner poderia soar contraditória, aproximando-a de Bolsonaro. A ex-presidente argentina também se declara vítima de “perseguição política”, que a levou à prisão domiciliar em 10 de junho passado, após a ratificação, pela Corte Suprema argentina, de sua sentença por corrupção de 2022. A sentença inédita do Supremo Tribunal Federal condenou o ex-presidente Jair Bolsonaro e outros sete ex-ministros e ex-comandantes militares por cinco crimes: tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, participação em organização criminosa armada, dano qualificado e deterioração de patrimônio público. Bolsonaro recebeu a maior pena por ter liderado a organização criminosa contra a ordem democrática, numa conspiração para impedir que Lula assumisse o poder após vencer as eleições de 2022. Leia mais em , parceira do Metrópoles.
Por: Metrópoles

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