• Domingo, 29 de junho de 2025

Fazendas no fundo do mar? Descubra como funcionam essas propriedades

As fazendas marinhas, também chamadas de maricultura, são áreas planejadas nos oceanos e mares para o cultivo de organismos aquáticos

As fazendas marinhas, também chamadas de maricultura, são áreas planejadas nos oceanos e mares para o cultivo de organismos aquáticos Imagine um campo de cultivo onde não há tratores, mas barcos; onde os animais não pisam o solo, mas nadam entre estruturas flutuantes ou submersas; e onde a colheita se faz com redes, não com ceifadeiras. Bem-vindo ao universo das fazendas marinhas — uma revolução silenciosa, mas em rápida expansão, que começa a ganhar forma nas águas brasileiras. Com o avanço das mudanças climáticas, a pressão sobre os recursos naturais e a necessidade crescente de alimentar uma população global que se aproxima dos 10 bilhões, o mar deixa de ser apenas fonte de pesca para tornar-se espaço produtivo estratégico. E o Brasil, com 8.500 km de costa e 13% da água doce do mundo, está na linha de frente dessa transformação.
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    O que são fazendas marinhas? As fazendas marinhas, também chamadas de maricultura, são áreas planejadas nos oceanos e mares para o cultivo de organismos aquáticos — como peixes, camarões, ostras, mexilhões e algas. Diferente da pesca extrativista, que depende da captura direta no ambiente natural, a maricultura é uma forma controlada, sustentável e escalável de produção de alimentos. window._taboola = window._taboola || []; _taboola.push({mode:'thumbnails-mid', container:'taboola-mid-article-thumbnails', placement:'Mid Article Thumbnails', target_type: 'mix'});Essas propriedades funcionam como fazendas convencionais, mas com um ambiente muito distinto: as estruturas de produção estão submersas ou flutuam sobre o mar, os cultivos crescem em redes, tanques ou estufas aquáticas, e os desafios envolvem marés, salinidade e correntes oceânicas. Apesar de parecer distante da realidade rural tradicional, a maricultura compartilha muitos fundamentos com a agropecuária: monitoramento da saúde dos animais, controle alimentar, manejo sanitário, rastreabilidade e planejamento de safra. O projeto pioneiro de Ilhéus (BA): o marco zero da maricultura no Brasil No dia 12 de junho de 2025, o governo federal anunciou um passo histórico: a concessão de águas da União para projetos de aquicultura marinha, abrindo espaço para uma nova era de produção nos mares brasileiros. O primeiro empreendimento autorizado será implantado pela Forever Oceans, multinacional do setor, na costa de Ilhéus, na Bahia. Com investimento estrangeiro e tecnologia de ponta, o projeto prevê:
  • Criação de peixes em águas salgadas, em estruturas oceânicas controladas;
  • Produção de até 8 mil toneladas por ano;
  • Geração de 91 empregos diretos por área licenciada;
  • Cultivo com foco em sustentabilidade, biosegurança e valor agregado.
  • As áreas foram cedidas pelo Ministério da Economia ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), que ficará responsável pela gestão da maricultura nos moldes do novo programa nacional. Por que investir em fazendas marinhas? A maricultura não é apenas mais uma alternativa de produção — ela representa uma resposta estratégica às transformações globais no consumo e na produção de alimentos. Segundo Altemir Gregolin, ex-ministro da Pesca, “o consumo de pescado no mundo cresce há mais de 50 anos, e a tendência continuará pelos próximos dez anos. O Brasil tem potencial para ser o maior produtor mundial, com clima favorável, espécies nobres, tecnologia e ração disponíveis.” Os números reforçam essa oportunidade:
  • Em apenas três meses de 2025, o Brasil exportou US$ 18,5 milhões em pescado cultivado, um aumento de 112% em valor e 89% em volume em relação ao mesmo período de 2024.
  • O crescimento do consumo se concentra justamente nos pescados de águas marinhas, mais valorizados e com maior demanda no mercado internacional.
  • Investir em fazendas marinhas também significa:
  • Diversificação da renda para produtores e cooperativas;
  • Redução da dependência de culturas terrestres vulneráveis ao clima;
  • Possibilidade de acesso a linhas de crédito específicas, como as anunciadas recentemente pela Caixa Econômica para pescadores artesanais;
  • Ampliação da presença brasileira no comércio internacional de proteínas de alto valor.
  • Quais espécies são cultivadas e com que tecnologias? Entre os cultivos mais comuns nas fazendas marinhas estão:
  • Ostras e mexilhões: com rápido crescimento, baixo impacto ambiental e alto valor nutricional;
  • Camarões marinhos: muito valorizados e já populares na carcinicultura brasileira;
  • Peixes nobres, como o robalo, pargo e garoupa;
  • Macroalgas e microalgas: com aplicação em cosméticos, bioplásticos, biofertilizantes e alimentos funcionais.
  • No caso das algas, a Embrapa desenvolve projetos que integram o uso desses organismos na agricultura convencional, seja como bioestimulante de lavouras, seja como insumo para a indústria. Para tornar esse modelo viável e produtivo, a tecnologia é peça-chave. As fazendas marinhas mais modernas utilizam:
  • Sistemas de alimentação automatizados, que dosam nutrientes conforme o estágio de desenvolvimento dos organismos;
  • Sensores remotos e IA para monitoramento da temperatura da água, salinidade, oxigenação e comportamento dos peixes;
  • Drones submarinos e embarcações autônomas para inspeção e manejo das estruturas;
  • Softwares de gestão ambiental que integram dados climáticos, sanitários e logísticos.
  • Jardins subaquáticos: do Nemo’s Garden ao futuro da agricultura Além da produção de proteína animal, uma vertente altamente promissora da maricultura é o cultivo de vegetais em estufas submersas, como mostra o projeto Nemo’s Garden, na Itália. Essas estufas, chamadas de biosferas, funcionam como minicúpulas ancoradas a poucos metros da superfície, onde a luz solar penetra de forma filtrada, criando um microclima estável e livre de agrotóxicos. A água salgada evapora, condensa dentro das estruturas e gera água doce para irrigação natural. Entre os resultados já comprovados:
  • Cultivos como manjericão, tomate, alface e feijão cresceram mais rápido e com maior teor de antioxidantes;
  • Produção resiliente a extremos climáticos, como seca, calor excessivo ou salinização do solo;
  • Baixo custo energético, já que funcionam apenas com energia solar e sem rede elétrica.
  • Essas estufas submersas representam uma nova fronteira agrícola, especialmente útil para países com escassez de água ou solos improdutivos. Desafios e caminhos para o agro brasileiro Apesar do otimismo e das perspectivas de expansão, a maricultura enfrenta obstáculos importantes:
  • Alto custo inicial de instalação e adaptação tecnológica;
  • Falta de mão de obra especializada em operações marítimas;
  • Burocracia e licenciamento ambiental, que precisam ser mais claros e ágeis;
  • Limitações de infraestrutura logística em áreas costeiras.
  • Contornar essas barreiras exige integração entre governo, setor produtivo, universidades e comunidades locais, além de investimentos em capacitação técnica, linhas de crédito e pesquisa aplicada. O agro que vem do mar As fazendas marinhas representam mais do que uma inovação tecnológica. Elas são uma resposta prática e sustentável aos desafios alimentares e ambientais do século XXI. Em um cenário de escassez de recursos, aumento populacional e emergência climática, aprender a produzir sob as ondas é tão necessário quanto desbravar novas fronteiras terrestres. O Brasil está pronto para assumir esse papel. Tem território, biodiversidade, demanda e tecnologia. Só falta acelerar a ação. Você, produtor ou empreendedor do agro, já pensou em expandir sua atuação para o oceano?
    Busque informações junto ao MAPA, à Embrapa e aos programas de concessão de águas da União. A maricultura é mais do que uma tendência: é o agro do futuro. E o futuro já começou a brotar no fundo do mar. Escrito por Compre Rural VEJA MAIS:
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  • ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Ana Gusmão sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira
    Por: Redação

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