• Quinta-feira, 31 de julho de 2025

Especialistas questionam fala de Haddad sobre tarifaço e inflação

Ministro da Fazenda afirmou que aumento da oferta interna traria queda nos preços, mas efeito tende a ser limitado.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse nesta 3ª feira (29.jul.2025) que o tarifaço dos Estados Unidos de Donald Trump (Partido Republicano) pode reduzir a inflação do Brasil. Entretanto, economistas consultados pelo Poder360 questionam a precisão da fala.

Pela lógica de Haddad, as empresas que antes vendiam aos EUA agora precisarão se voltar ao mercado interno. Isso aumenta a oferta. Com mais produtos à disposição, os preços tendem a cair.

Ecio Costa, economista e professor da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), afirmou que a declaração do ministro foi “inocente”. Reconheceu que pode haver um alívio, mas que será momentâneo.

“Isso não é algo positivo. Pode ajudar momentaneamente em um determinado mês no IPCA, mas num momento subsequente é de onde vem o real problema, para desbravar novos mercados”, declarou.

Ele também afirmou que a troca do destino das importações é mais complicada por causa de questões sanitárias, além das burocracias comerciais. 

Outro ponto levantado por Costa foi a perecibilidade dos alimentos. Ou seja, o tempo que demoram para estragar. Carnes e frutas tendem a apodrecer mais rápido.

“Serão despejados no mercado brasileiro, ou serão deixados sem comercialização e poderão apodrecer, serem jogados fora, se o custo de fazer essa comercialização for muito alto aqui dentro do Brasil”, disse.

Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, afirmou que o custo de estocagem para guardar produtos como frutas, café e pescado é “muito elevado” e deve levar à redução de preços desses itens no curto prazo. Contudo, o especialista avaliou que o impacto na inflação brasileira “é quase imperceptível” porque são poucos produtos. 

“Estamos falando de, no máximo, uma dúzia de itens que podem ter queda de preço agora, mas o IPCA, por exemplo, é composto por quase 500 itens. Então, é um pingo no oceano”, declarou.

A declaração de Haddad foi dada durante entrevista à CNN Brasil. Leia a íntegra do que disse o ministro:

“Eu entendo que podemos ter uma surpresa na questão da inflação dos alimentos. Inclusive, estou notando isso nos informes que estou recebendo do comportamento de preço nas últimas duas semanas […] São justamente naqueles que estão sendo alvo da taxação fora, sobretudo carne e frutas. Tem havido uma percepção de que os preços do varejo estão caindo. Isso vai se manter? Temos que avaliar.”

Ele foi questionado se essa eventual redução dos preços não seria observada a custo do prejuízo das empresas exportadoras. Desconversou e respondeu que o auxílio preparado pelo time de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) virá para proteger as companhias, que precisarão demitir funcionários para arcar com os custos maiores.

Para Ecio Costa, o desemprego será observado. As companhias precisarão cortar gastos e isso é feito por meio da folha salarial.

“Na realidade, é um aumento do desemprego, um desinvestimento e até uma possível quebradeira de alguns players do mercado brasileiro, por conta desse tarifaço, não é algo positivo”, disse o economista.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, determinou a incidência de uma taxa de 50% contra as importações brasileiras a partir de 1º de agosto. Já sinalizou que não haverá recuo ou adiamento. 

Agostini avalia que a queda de preços momentânea de alguns itens não tem força para sustentar uma redução da Selic em 2025. A taxa básica de juros está em 15% ao ano.

“A gente ainda tem uma inflação de serviços muito forte, uma inflação de preços administrados muito forte, como está se demonstrando no preço da energia agora. Então, há outras composições do IPCA que têm força de alta”, declarou.

Por: Poder360

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