• Quinta-feira, 31 de julho de 2025

Superquarta: instabilidades levam BC e FED a manter patamar de juros

A superquarta acontece quando as taxas de juros do Brasil e dos Estados Unidos são definidas no mesmo dia

O (BC) e o (FED), autoridade monetária nos Estados Unidos, decidiram, na quarta-feira (30/7), manter as taxas de juros nos mesmos patamares das reuniões anteriores. Para a economia americana, os juros se mantêm na faixa de 4,25% a 4,5% ao ano. No Brasil, . Essa é a quinta reunião consecutiva que o FED mantém o patamar dos juros. Já o Comitê de Política Monetária (Copom), responsável pela definição da taxa Selic, decidiu estabilizar o índice após um ciclo de 7 aumentos seguidos. Nos dois casos, conforme especialistas, as decisões por não recuar nas taxas têm a ver com os cenários de instabilidades interna e externa. Entre os dois países, em especial, pesa o fator extra do tarifaço assinado na quarta por Donald Trump contra produtos brasileiros que entram no país. O presidente definiu uma taxa que chega a 50% para itens que saem do Brasil. Ainda que setores como produtos aeronáuticos civis (o que interessa à Embraer), suco e derivados de laranja (suco e polpa), minério de ferro, aço e combustíveis, tenham ficado fora do tarifaço, produtos importantes que são muito consumidos nos EUA foram sobretaxados. É o caso de café e carne. As indefinições sobre o futuro, para especialistas, podem ter impactado na manutenção das taxas. Detalhe: tanto nos Estados Unidos como no Brasil existem pressões de Trump e Lula pela queda nas taxas de juros. Mas as autoridades monetárias têm resistido. Situação no Brasil Além de manter a taxa no mesmo patamar, o Copom sinalizou que o conjunto dos indicadores de atividade econômica tem apresentado moderação no crescimento, mas o mercado de trabalho ainda mostra dinamismo. Para o Banco Central, os riscos para a inflação, tanto de alta quanto de baixa, seguem mais elevados do que o usual. Entre os riscos de alta para o cenário inflacionário e as expectativas de inflação, o comunicado destaca: Maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada em função de um hiato do produto mais positivo. Conjunção de políticas econômicas externa e interna que tenham impacto inflacionário maior que o esperado, por exemplo, por meio de uma taxa de câmbio persistentemente mais depreciada. Entre os riscos de baixa, ressaltam-se: Eventual desaceleração da atividade econômica doméstica mais acentuada do que a projetada, tendo impactos sobre o cenário de inflação. Uma desaceleração global mais pronunciada decorrente do choque de comércio e de um cenário de maior incerteza. Uma redução nos preços das commodities com efeitos desinflacionários. “O comitê tem acompanhado, com particular atenção, os anúncios referentes à imposição pelos EUA de tarifas comerciais ao Brasil, reforçando a postura de cautela em cenário de maior incerteza. Além disso, segue acompanhando como os desenvolvimentos da política fiscal impactam a política monetária e os ativos financeiros”, diz o comunicado. De acordo com o consultor econômico da RJI Investimentos, Oscar Frank, o grande destaque do comunicado ficou por conta do reconhecimento de maior adversidade e incerteza decorrentes do cenário externo, em virtude das políticas econômicas dos Estados Unidos. “O Copom entende que há sinais, diversas vezes manifestadas pelos membros do comitê como desejáveis, de arrefecimento do nível de atividade no Brasil, muito embora a resiliência do mercado de trabalho ainda seja um desafio, dada a relação intrínseca com a inflação de serviços. Cabe lembrar que os preços no setor terciário continuam significativamente pressionados, de modo que sua parte subjacente alcançou 6,83% no acumulado dos últimos 12 meses até junho”, disse. Já para a economista-chefe do Inter, Rafaela Vitoria, apesar dos sinais de moderação da atividade e dinâmica mais favorável nos dados de inflação mais recentes, a expectativa desancorada ainda é o principal fator de preocupação para o comitê. “A inflação dá os primeiros sinais de queda e o esfriamento da atividade deve continuar com a desaceleração do crédito. O câmbio mais favorável e a recente queda de preços ao produtor ainda terá efeito na inflação ao consumidor nos próximos meses, e as expectativas de inflação devem continuar a tendência de revisões de baixa”, avaliou. Entenda os juros no Brasil A taxa Selic é o principal instrumento de controle da inflação. Os integrantes do Copom são responsáveis por decidir se vão cortar, manter ou elevar a taxa Selic. Uma vez que a missão do BC é controlar o avanço dos preços de bens e serviços do país. Ao aumentar os juros, a consequência esperada é a redução do consumo e dos investimentos no país. Dessa forma, o crédito fica mais caro e a atividade econômica tende a desaquecer, provocando queda de preços para consumidores e produtores. Projeções mais recentes mostram que o mercado desacredita em um cenário em que a taxa de juros volte a ficar abaixo de dois dígitos durante o governo Lula (PT) e do mandato de Galípolo à frente do BC. A próxima reunião do Copom está prevista para os dias 16 e 17 de setembro. Leia também Situação nos EUA No caso dos Estados Unidos, a , no entanto, diverge da pressão do presidente americano, Donald Trump, para diminuir as taxas. Em um comunicado, o FED reforçou o cenário de instabilidade no país. “Indicadores recentes sugerem que o crescimento da atividade econômica se moderou na primeira metade do ano. A taxa de desemprego continua baixa, e as condições do mercado de trabalho permanecem sólidas. A inflação segue um pouco elevada”, diz o comunicado. O texto diz, ainda, que o FED deve continuar monitorando os efeitos das informações econômicas recebidas para embasar suas próximas decisões, afirmando que a incerteza em relação às perspectivas econômicas permanece elevada, o que inclui o tarifaço de Trump. “As avaliações do Comitê levarão em conta uma ampla gama de informações, incluindo dados sobre as condições do mercado de trabalho, pressões inflacionárias e expectativas de inflação, além de desenvolvimentos financeiros e internacionais”, afirma o texto. De acordo com o consultor econômico Oscar Frank, a manutenção da taxa nos EUA, apesar da ausência de unanimidade entre os membros votantes, representa uma estratégia deliberada por parte do FED para ganhar tempo. “Até a próxima reunião, a ser realizada em setembro, teremos novos indicadores de atividade econômica, com destaque para o mercado de trabalho, e de inflação. Esses números tendem a ajudar na difícil tarefa de tornar um pouco mais claros os efeitos do protecionismo adotado pelo presidente Donald Trump e, consequentemente, servirão para melhorar a calibragem dos juros no futuro”, explicou. O mercado avalia também que os votos divergentes dos integrantes do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc), o equivalente ao Copom, indicam que alguns membros do comitê preferem reduzir os custos de empréstimo mais cedo que o previsto.
Por: Metrópoles

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