• Quinta-feira, 23 de outubro de 2025

Diplomacia instável barra nova cúpula entre Trump e Putin na Hungria

Cúpula entre Trump e Putin se distancia após republicano impor novas sanções à Rússia em pressão por cessar-fogo

A realização da cúpula entre em Budapeste, na Hungria, saiu do radar das diplomacias russa e norte-americana. Nessa quarta-feira (22/10), a Casa Branca anunciou novas sanções contra Moscou, como modo de pressionar Putin a flexibilizar os critérios para um cessar-fogo na guerra com a Ucrânia. No mesmo dia, Trump declarou que a reunião com o presidente da Rússia foi cancelada. A relação entre os líderes de duas das maiores potências globais esfriou desde a última ligação telefônica entre eles, em 16 de outubro,  dificultando avanços significativos em um acordo de paz na Ucrânia. Com o cenário diplomático instável, sanções, testes militares russos e divergências sobre trégua, a paz na Ucrânia segue em segundo plano. Especialistas indicam que um possível encontro entre dependerá de mudanças significativas na postura de Moscou e de uma leitura estratégica do republicano. “Não chegaríamos onde precisávamos, então cancelei” O ministro das Relações Exteriores da Hungria, Peter Szijjarto, chegou a encontrar nessa quarta-feira (22/10) com o secretário de Estado americano, Marco Rubio, para organizar a cúpula. No entanto, ao longo da tarde, Donald Trump anunciou o cancelamento do encontro. Um dia antes do anúncio, o republicano já havia alfinetado a Rússia, afirmando que o encontro poderia ser uma “reunião desperdiçada”. “Simplesmente não me pareceu certo. Não parecia que chegaríamos onde precisávamos, então cancelei [a reunião]”, afirmou durante reunião com Mark Rutte, chefe da Otan, na Casa Branca. Segundo assessores do governo, não havia planos imediatos para a reunião, contrariando a intenção de Trump, que na última semana havia determinado “agilizar a cúpula” com Putin. O republicano reiterou que a guerra precisa parar nas atuais linhas de batalha e demonstrou frustração com a falta de disposição das partes para negociar. Leia também Relação Rússia-EUA esquenta nas últimas semanas Menos de dois meses após a cúpula de Trump e Putin no Alasca, as relações entre os dois países continuam tensas. O republicano expressa frustração com o russo por não avançar nas negociações de paz, chegando a classificar recentemente a Rússia como um “tigre de papel” por não conseguir subjugar a Ucrânia. A possível entrega de mísseis Tomahawk à Ucrânia foi interrompida após ligação de Putin a Trump um dia antes do norte-americano encontrar-se com Zelensky. E, mesmo adotando uma postura cautelosa em relação aos mísseis — o que fez parecer que Trump dava um aceno amigável à Rússia —, as coisas parecem ter mudado nos últimos capítulos. Na quarta-feira (22/10), Putin supervisionou um grande exercício das forças nucleares estratégicas do país, envolvendo lançamentos de mísseis em terra, mar e ar. Horas depois, o governo dos Estados Unidos impôs sanções às duas maiores empresas petrolíferas da Rússia, Rosneft e Lukoil, incluindo cerca de três dúzias de subsidiárias. Cúpula incerta A decisão de cancelar o encontro também se deu após conversas entre Marco Rubio e o chanceler russo Sergey Lavrov, indicando que Moscou mantém resistência em negociar condições de cessar-fogo, incluindo o controle dos territórios ucranianos conquistados nos últimos três anos de conflito. Paralelamente, os países da União Europeia aprovaram o 19º pacote de sanções contra a Rússia, incluindo medidas contra evasão financeira em países terceiros e o sistema de cartões de crédito MIR. Ao Metrópoles, especialistas em relações internacionais destacam o peso dessas medidas e a volatilidade do cenário. O professor Kai Enno Lehmann, da Universidade de São Paulo (USP), explicou que Trump enfrenta resistência tanto da Ucrânia quanto da Rússia. “Trump quer terminar a guerra, seja como for, mas Vladimir Putin não tem mostrado nenhuma intenção de aceitar um cessar-fogo. Ainda assim, sempre há a possibilidade de um encontro devido à volatilidade do presidente americano”, diz Kai Enno Lehmann. Raquel dos Santos, professora da Universidade Federal Fluminense (UFF), acrescentou que as sanções às petrolíferas russas fazem parte de um pacote maior de pressões sobre Moscou. “O anúncio de tarifas de 100% sobre o comércio russo, caso não haja cessar-fogo, evidencia a frustração de Trump com o processo de negociação”, disse. Além disso, fatores regionais complicam o cenário. Liderada por Viktor Orbán, a Hungria mantém uma postura estratégica de elo entre o Ocidente e a Rússia. Em diferentes ocasiões, Orbán já sinalizou que poderia vetar, no âmbito da União Europeia, o auxílio financeiro à Ucrânia. “A Hungria teve um papel importante e, em muitos aspectos, atrapalhador. Então, um encontro entre Estados Unidos e Rússia em Budapeste para discutir o futuro da Ucrânia seria, pelo menos por parte da Rússia, uma tentativa de humilhar a Ucrânia.”, avaliou Lehmann.   4 imagens Encontro entre Vladmir Putin e Donald TrumpPutin e Trump no Alasca em agosto de 2025Encontro entre Trump e Putin teve várias pautasFechar modal. 1 de 4 Arte Metrópoles/Gui Prímola 2 de 4 Encontro entre Vladmir Putin e Donald Trump Contributor/Getty Images 3 de 4 Putin e Trump no Alasca em agosto de 2025 Andrew Harnik/Getty Images 4 de 4 Encontro entre Trump e Putin teve várias pautas Andrew Harnik/Getty Images Trump em “missão de paz” O contexto da decisão se dá em meio a uma tentativa de Trump de se firmar como mediador de crises internacionais. Na última semana, ele recebeu o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, na Casa Branca, e manteve contato por telefone com Putin. Em paralelo, o governo Trump impôs novas sanções contra  Rússia, numa tentativa de pressionar Moscou a concordar com um cessar-fogo imediato na Ucrânia. “Agora é a hora de parar com a matança e de um cessar-fogo imediato. Dada a recusa do presidente Putin em pôr fim a esta guerra sem sentido, o Tesouro está sancionando as duas maiores empresas petrolíferas da Rússia que financiam a máquina de guerra do Kremlin”, disse Scott Bessent, secretário do Tesouro. O anúncio ocorre semanas após Trump sinalizar a possibilidade de penalidades à Rússia devido à continuidade do conflito no Leste Europeu, mas nenhuma medida significativa havia sido tomada até então. Segundo Bessent, Putin não participou das negociações de forma “honesta e direta” durante a cúpula no Alasca.
Por: Metrópoles

Artigos Relacionados: