O X (ex-Twitter) anunciou nesta semana uma nova funcionalidade que permitirá aos usuários interagir com os posts (curtir, replicar, compartilhar) mesmo quando abrem algum link externo na plataforma. A ferramenta ainda está em testes e disponível só para usuários de iOS (sistema operacional dos iPhones).
O novo layout mantém os botões de interação visíveis enquanto um link externo é aberto. Na prática, derruba um dos motivos para que a plataforma diminua o alcance de posts com links para outros sites.
Os links externos são vistos como portas de saída das redes sociais, o usuário que clica e vai para outro site nem sempre volta para continuar interagindo na plataforma. Por esse motivo, muitos dos algoritmos “punem” posts com links, reduzindo seu alcance.
Embora a evolução favoreça todos os usuários e, primariamente, sirva para que a própria rede social não perca interações, a intenção de reagregar jornalistas e produtores de conteúdo que abandonaram o X ficou expressa no post de Nikita Bier, head de Produto da empresa:
A medida é um aceno em direção a um público que sustentou em grande parte o crescimento do antigo Twitter em relevância e protagonismo no debate público.
A rede sempre foi a favorita de jornalistas, acadêmicos e pessoas interessadas em notícias e nos mais variados temas que ganhavam tração on-line. Seu sucesso foi tanto nesse sentido que incentivou outras redes, como o Facebook a criarem feeds de “notícias” similares dentro de suas plataformas.
Desde que Elon Musk comprou a rede social, em 2022, e a repaginou para sua atual marca, o X, suas políticas na empresa provocaram uma diáspora de usuários, com diferentes motivos para abandonar a plataforma.
Além dos usuários que deixaram o X por divergências ideológicas e políticas com Musk –esses dificilmente retornarão algum dia–, muitos jornalistas e produtores de conteúdos deixaram a plataforma pelo motivo prático de que o alcance de seus posts caiu a ponto de não valer mais pena continuar interagindo e divulgando por ali.
Na busca por substitutos, essa onda de migrantes digitais abasteceu alguns concorrentes velhos e novos. O Threads, da Meta, bateu recordes em velocidade de crescimento, impulsionado pela facilidade de absorção de quem já usava Instagram, e já empata em número de usuários ativos mensais.
O Bluesky cresceu rapidamente, mas ainda está alguns patamares abaixo em volume de adesões. Muitos jornalistas e especialistas encontraram no ecossistema do Substack um espaço mais adequado para veicular seus conteúdos.
Mesmo com a debandada, o X continuou com papel relevante no debate público: é onde a maior parte dos governos, instituições e líderes mundiais publicam seus comunicados e opiniões. Mas o título de principal praça global digital já não se aplica com as mesmas honrarias.
Ao mesmo tempo, a onda da inteligência artificial começou a tomar conta das plataformas e da internet como um todo. O X incorporou sua própria ferramenta, o Grok, e todas as big techs avançam rapidamente para um ambiente on-line cada vez menos interconectado.
Produtores de conteúdo, jornalistas e todos os que publicam seus trabalhos em seus próprios sites –na internet “aberta”– vêm sofrendo reduções drásticas de tráfego vindo das redes sociais, dos mecanismos de busca e de referências de terceiros na web.
Ao mesmo tempo, começam a surgir as primeiras reações de resistência a essa nova ordem: ferramentas que impedem robôs de IA de coletar dados nos sites, processos judiciais e sinais de esgotamento no uso de redes sociais.
Uma mudança simples de funcionalidade como a que foi apresentada pelo X dificilmente será o fiel da balança para que parte do público que abandonou a plataforma volte a ser frequentador assíduo.
Mas indica a preocupação da empresa de Elon Musk em tentar recuperar um público relevante e tentar reestabelecer uma dinâmica que parece cada vez mais escanteada pelas big techs.