A PF (Polícia Federal) identificou que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) transferiu R$ 2 milhões à ex-primeira dama Michelle Bolsonaro em 4 de junho, 1 dia antes de ele prestar depoimento no inquérito que apura a atuação do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) nos Estados Unidos. A corporação afirma que o repasse foi usado para tentar ocultar patrimônio e evitar bloqueios judiciais.
O conteúdo foi divulgado na 4ª feira (20.ago.2025), quando veio a público o indiciamento de Jair Bolsonaro e Eduardo por coação e obstrução da Justiça. Segundo o relatório da PF, a movimentação financeira não teve justificativa. Leia a íntegra do documento (PDF – 9 MB).
Leia abaixo um trecho do documento:
O relatório também diz que Bolsonaro omitiu informações no depoimento prestado em 5 de junho de 2025. O ex-presidente havia admitido o envio de R$ 2 milhões ao filho, mas a PF identificou transferências adicionais.
De janeiro a julho de 2025, Bolsonaro realizou transações de câmbio que somaram R$ 105,9 mil e saques em espécie de R$ 130,8 mil. Parte desse montante foi encontrada em sua residência durante busca e apreensão feita em 18 de julho deste ano.
Segundo a PF, pai e filho adotaram a mesma estratégia de enviar quantias expressivas às suas mulheres, Michelle e Heloísa Bolsonaro, em operações realizadas no mesmo período.
Quando recebeu R$ 2 milhões do pai em maio de 2025, Eduardo logo em seguida transferiu R$ 200 mil para a conta de Heloísa no Brasil, mesmo ela vivendo com ele nos Estados Unidos.
Segundo os investigadores, as operações indicam uso de contas das companheiras como “contas de passagem”, com a finalidade de escamotear os recursos e evitar bloqueios diretos.
Para a corporação, os recursos foram usados para dar suporte às “atividades ilícitas do parlamentar licenciado no exterior”.
No depoimento de junho, Bolsonaro confirmou que estava custeando as despesas de Eduardo nos Estados Unidos, alegando que o deputado está sem salário e atua no exterior como “interlocutor” junto a autoridades internacionais.
O ex-presidente declarou que o ajuda financeiramente para que não passe “dificuldades” no país. Em 13 de maio de 2025, Bolsonaro enviou R$ 2 milhões para a conta bancária de Eduardo via Pix.
O custeio das atividades nos EUA ganhou nova dimensão depois de a PF indiciar tanto Bolsonaro quanto o deputado por coação no curso da Ação Penal 2.668, que investiga a tentativa de impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
O indiciamento se deu no inquérito sobre a atuação de Eduardo nos EUA, onde ele articulou pressões e sanções contra autoridades brasileiras, entre elas contra o relator do caso, o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal).
A investigação foi aberta em maio por determinação de Moraes. O relatório final da PF conclui que Bolsonaro e Eduardo, com apoio do jornalista Paulo Figueiredo e do pastor Silas Malafaia, atuaram para interferir na Ação Penal.
Entre as condutas estão tentativas de pressionar congressistas para aprovar anistia e destituir ministros do STF por crimes de responsabilidade. As ameaças incluem possíveis sanções aos presidentes da Câmara e do Senado, visando restringir o Legislativo e interferir no Judiciário.
O caso agora seguirá para análise da PGR (Procuradoria Geral da República), que decidirá se apresenta denúncia contra os investigados ou solicita o arquivamento do processo.
O Poder360 tentou entrar em contato com Michelle para perguntar se gostaria de se manifestar a respeito do relatório da PF. Não houve resposta até a publicação desta reportagem. O texto será atualizado caso uma manifestação seja enviada a este jornal digital.
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