• Terça-feira, 16 de setembro de 2025

Ato por democracia tem tucanos, petistas, Alckmin e Gilmar Mendes

Grupo de artistas e lideranças de PT, PSDB, PDT, MDB, PSOL e PV se reuniu sob o mote da defesa da soberania nacional. Leia no Poder360

Governistas, ministros e lideranças de PT, PSDB, PDT, MDB, PSOL e PV participaram nesta 2ª feira (15.set.2025) do “12º Ato do Direitos Já! Fórum pela Democracia” no teatro Tuca, em São Paulo. O evento reuniu, além de autoridades e figuras importantes da política brasileira, artistas, religiosos, jornalistas e ex-jogadores de futebol sob o mote da defesa da democracia e da soberania nacional.

Último a discursar no evento, o vice-presidente Geraldo Alckmin lembrou a frase do deputado do PMDB Ulysses Guimarães, na promulgação da Constituição de 1988 “Traidor da Constituição é traidor da Pátria”. Então presidente da Assembleia Constituinte, Ulysses fez na ocasião um discurso histórico,em que disse ter “ódio e nojo” da ditadura militar (1964-1985).

Em sua fala, Alckmin relembrou das mortes acima da média mundial por covid-19 durante o governo Bolsonaro, fez comparações econômicas e lembrou da aceleração do desmatamento da Amazônia. O vice também elogiou programas do governo Lula e exaltou quem preza pela democracia. “Um pouco mais à direita, um pouco mais à esquerda. O que diferencia os homens e as mulheres públicas é quem tem apreço pela democracia. Ele [Bolsonaro] não tinha”, disse.

O ministro do STF Gilmar Mendes chegou a visitar o teatro, mas não discursou. Uma entrevista feita por alunos da PUC-SP nos bastidores foi colocada no telão. Nela, Mendes ressaltou que o momento atual é o mais difícil desde a redemocratização.

 “Queria deixar a minha palavra de apoio com movimento pela democracia e pela defesa da soberania nacional. Raramente nós vivemos num momento tão difícil nesses 40 anos de democracia“, disse.

O decano encerrou a breve participação dizendo que “as instituições têm sabido ser resilientes e é fundamental o apoio da sociedade civil ao Supremo e a todas as instituições nacionais“.

Durante a fala dos participantes, a plateia gritou sem anistia para Jair Bolsonaro preso por 27 anos e 3 meses e os outros 7 condenados por tentativa de golpe de Estado. O público também endereçou críticas a Donald Trump durante a fala do presidente nacional do PT, Edinho Silva, que afirmou que “Trump é o maior fascista do século 21”.

A deputada federal, Erika Hilton (PSOL/SP), fez um discurso direto que arrancou um dos maiores aplausos da platéia durante o evento. “O modelo [de democracia] que nós temos foi conquistado com sangue, com suor, a duras penas e aqueles que louvam a tortura, os porões da ditadura, agora tem um lugar reservado e nós estamos esperando ansiosos para ver o camburão baixar na porta, pela democracia”, disse.

Hilton também criticou o deputado federal, Eduardo Bolsonaro (PL-SP) por estar nos Estados Unidos desde março deste ano. “Assustador ver um deputado federal eleito ocupando um cargo público na república usando o seu mandato para atacar a soberania do país, para atacar os postos de trabalho do povo brasileiro, mas nós não iremos nos intimidar”, afirmou.

No final do evento, sob o som de “Apesar de você“, de Chico Buarque, o telão exibiu charges de Eduardo Bolsonaro e sua relação com os Estados Unidos, e de Jair Bolsonaro, enquanto os convidados se abraçavam no palco.

Leia a lista de participantes:

O evento foi realizado pela 2ª vez no teatro da PUC. Na 1ª edição, em 2019, o ato deu início ao movimento de “frente ampla” que uniu diversos partidos e campos políticos contra o governo de Jair Bolsonaro. Na ocasião estiveram presentes Fernando Henrique Cardoso, Geraldo Alckmin, Simone Tebet, Marina Silva, Guilherme Boulos, com mais de 16 partidos e outras 300 organizações sociais.

LEIA O MANIFESTO NA ÍNTEGRA:

“MANIFESTO EM DEFESA DA DEMOCRACIA E DA SOBERANIA NACIONAL

“A democracia está sob ataque em várias partes do mundo, principalmente por ação de líderes autoritários que chegam ao governo por meio de eleições democráticas.  No Brasil, derrotamos uma tentativa de golpe de Estado desfechada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro e seus aliados que, processados nos termos da lei, foram condenados por seus crimes. Contudo, a Justiça brasileira enfrentou, com autonomia e independência, uma agressiva tentativa de ingerência do presidente americano Donald Trump em favor dos golpistas com a imposição de tarifas de 50% às exportações brasileiras ao EUA e um ataque indigno e ilegal ao Ministro relator do caso na Corte Suprema. O ataque covarde contra a soberania nacional brasileira faz ameaças militares veladas, além das econômicas, e já avança contra outros países do continente, em claro abandono do princípio de autodeterminação dos povos.

“O Direitos Já! Fórum Pela Democracia considera ser sua reponsabilidade propor a todas as forças democráticas do país – autoridades públicas, líderes de partidos, movimentos da sociedade civil, artistas e formadores de opinião – de direita, centro e esquerda, que a celebração do Dia Internacional da Democracia seja o marco da mobilização necessária para garantirmos a sobrevivência da liberdade, dos direitos fundamentais e da nossa soberania nacional que, derivada da vontade popular, está definida na Constituição Federal.

“Desde meados da primeira década deste século vivemos um momento crucial no mundo devido ao recrudescimento dos líderes autocráticos que atacam o império da lei, rejeitam a independência dos poderes republicanos, estimulam o conflito entre eles, reforçando a erosão das instituições e alimentando a sua rejeição por amplos setores populares. O avanço democrático mundial de décadas atrás sofreu uma reversão em vários países do mundo, colocando sob ataque a legitimidade da oposição, a liberdade de imprensa e subordinando o poder judiciário aos governos autoritários. Esses retrocessos atingiram vários países com o crescimento em muitos deles de uma extrema direita populista que não se limita ao direito de criticar o regime, mas age minando regras democráticas fundamentais e tratando os adversários como inimigos.

“O Brasil sofre a agressão inaceitável de um governo estrangeiro que está virando as costas para a sua democracia, mas a maioria da sociedade brasileira rechaça esse ataque à nossa soberania nacional e rejeita a perseguição ilegal e autoritária de Trump a Ministros do STF que julgaram os que planejaram o golpe de Estado que visava impedir a posse do presidente eleito em 2022 e permitir a permanência no poder dos derrotados nas eleições.

“A pressão antidemocrática do governo norte-americano contra o Brasil também resultou de articulações da família Bolsonaro e de parlamentares aliados, cujas iniciativas, apoiando a taxação das exportações brasileiras e estimulando a intervenção norte-americana na nossa política, são verdadeiros atos de traição aos interesses do país. Agora, diante da condenação dos golpistas pelo STF, pressionam deslealmente o Congresso por uma anistia anticonstitucional para eles e para os que tentaram criar o caos com a depredação das sedes da Suprema Corte, do Parlamento e do Executivo em 8 de janeiro de 2023.

“O Direitos Já, contudo, considera que anistiar quem violou as regras democráticas e sequer reconhece a sua legitimidade é a outra face do golpismo que favorece a possibilidade de que novos ataques sejam desferidos contra o regime sem que seus autores paguem por seus crimes. Pesquisas de opinião mostram que a sociedade não aceita mais a permanência da cultura da impunidade. Fazemos por isso um vigoroso chamado à sociedade civil para pressionar o  Congresso a decidir sobre isso ouvindo a sociedade. 

“A intervenção na Justiça tem sido o primeiro passo do ataque à democracia por governos extremistas. É, portanto, responsabilidade das forças democráticas impedir que seja eleita uma maioria de senadores atrelados a Bolsonaro em 2026, de modo a impedir que um importante mecanismo de freio e contrapeso do sistema político desapareça. As forças democráticas da direita, do centro e da esquerda, baseadas no exemplo estratégico da Frente Ampla de 2022, precisam se coordenar para impedir esse retrocesso com o lançamento no máximo, por Estado, de duas candidaturas comprometidas com a defesa da democracia.

“Os participantes do Direitos já se comprometem, ao lado da defesa da independência do sistema judiciário, a fortalecer a soberania nacional que define a República Federativa do Brasil como um Estado Democrático de Direito, cujos fundamentos asseguram a independência nacional; os direitos humanos; a autodeterminação dos povos; a defesa da paz; a solução pacífica dos conflitos; o repúdio ao terrorismo e ao racismo, entre outros princípios . A soberania capacita o Estado para agir em nome da cidadania, o que supõe que a harmonia e a cooperação devem ser os marcos da relação dos poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, preservando a autonomia de cada um.

“Crises que tornam instável o desempenho do sistema político, a inoperância do sistema de representação, o esvaziamento dos partidos, o conflito entre o Congresso Nacional e o STF, a sobrevivência de práticas de corrupção, o uso de algoritmos no controle de redes sociais, a mentira e a manipulação da informação política, mas, sobretudo, a permanência das desigualdades econômicas e sociais são fatores de agravamento do mal-estar e da desconfiança dos cidadãos com a democracia. É nesse contexto que cresce o populismo de extrema direita que polariza a sociedade e impede que a diversidade democrática possa florescer.

“O Direitos Já, contudo, acredita que a melhor defesa da democracia ocorre quando ela funciona bem e cumpre as suas promessas. Por isso, esta celebração do Dia Internacional da Democracia é um momento privilegiado para reafirmarmos nosso compromisso de trabalhar para que a democracia se renove para assegurar as condições necessárias para eliminar as desigualdades sociais e econômicas que marcam a sociedade brasileira. Assumimos esse compromisso, com base em nossa soberania nacional, no Dia Internacional da Democracia: reformar a democracia para que ela cumpra suas promessas de liberdade e de igualdade para todos.”

Esta reportagem foi produzida pelo estagiário Diogo Campiteli sob a supervisão do editor Guilherme Pavarin

Por: Poder360

Artigos Relacionados: