• Terça-feira, 21 de outubro de 2025

"O povo se prepara", diz Stédile sobre ameaças dos EUA à Venezuela

Líder do MST diz que se norte-americanos invadirem o país, a população estará treinada militarmente para contra-atacar.

João Pedro Stédile, dirigente nacional do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), falou em entrevista ao Poder360 sobre as ameaças que os Estados Unidos têm feito à Venezuela, depois de uma série de ataques a embarcações do país sul-americano no mar do Caribe. Disse que, ao visitar o país no início de outubro, viu o povo venezuelano levando uma vida normal, mas também se preparando “caso haja uma invasão dos marines”.

O líder do MST declarou que, se o governo Trump invadir o país vizinho, não haverá guerra civil porque a população estará treinada militarmente para contra-atacar. “Cada cidadão venezuelano se transformará num soldado, armado ou não”, disse.

Stédile afirmou que o MST articula com outros movimentos populares do Brasil e da América Latina a organização de brigadas de 50 a 100 jovens para ir à Venezuela “o quanto antes”. Ele disse: “Nós nos colocaremos à disposição dos movimentos populares para atividades na sociedade, desde ajudar a cultivar alimentos, limpar praças, participar de atividades de formação etc”.

Leia trecho da entrevista:

No início de outubro, você esteve na Venezuela para um congresso. Como que a população venezuelana está reagindo aos mais recentes ataques dos EUA? Como está o apoio a Nicolás Maduro (PSUV, esquerda)?

Há vários aspectos a comentar. A população está levando a vida normal, trabalhando e comprando. Lá eles têm a tradição de começar a preparação do Natal a partir de 1º de outubro. E esse é o clima: tranquilidade. Na política, o governo tinha apoios que variavam em torno de 55% a 60% tradicionalmente, a extrema direita tinha 10% e uns 30% de neutros que não queriam se envolver em política. As ameaças dos gringos e a postura da extrema direita verbalizada pela senhora fascista María Corina fizeram com que o governo aumentasse o apoio para 90%, e a extrema direita, com Prêmio Nobel e tudo, ficou nos 10%. Isso tudo medido por organismos independentes.

Na questão militar, o governo e o povo estão se preparando. Os debates públicos são de que os EUA têm duas táticas. A 1ª é tentar assassinar ou prender Maduro e Diosdado Cabello, que dirige o partido. Essa tática se baseia nas informações mentirosas da Sra. Corina, de que tirando eles 2, o povo a levaria nos braços até o palácio. Por isso, ela já deu entrevistas na “CNN” falando como provável presidenta, anunciando a privatização da PDVSA [a empresa petrolífera estatal venezuelana] e de outras áreas econômicas para empresas americanas.

Essa fantasia passada ao Sr. Rubio [Marco Rubio, secretário de Estado dos EUA], que é outro fascista de longa tradição, mascara a realidade, prejudicada pelo fato de eles não terem mais agentes da CIA [Agência Central de Inteligência] na embaixada e, assim, estarem sem informes de inteligência mais realistas, ficando reféns das opiniões da dona Corina. Essa tática os americanos já aplicaram na Líbia, Síria e etc., e aqui mais próximo, no Panamá de Noriega.

A 2ª tática seria, não conseguindo a 1ª, fazer uma invasão com marines por terra, para desestabilizar o país e gerar uma guerra civil. Não haverá guerra civil, haverá um povo em armas enfrentando os americanos, e aí se repetirá o que aconteceu na Baía dos Porcos, em Cuba, em 1961.

Há um risco real de o povo ter de pegar em armas?

Não é um risco. O povo, as forças armadas e o governo estão se preparando. São 5,5 milhões de adultos que se inscreveram e estão recebendo treinamento nas praças públicas todo final de semana, e se preparando caso haja uma invasão dos marines. Cada cidadão venezuelano se transformará num soldado, armado ou não. Uma líder de uma favela me disse: “Se subirem aqui, vamos pegá-los com água quente!”.

Como seria a ação das brigadas internacionalistas de militantes na Venezuela? Como seria a participação do MST?

Essa proposta surgiu no bojo do Congresso Mundial em Defesa da Madre Tierra, onde havia delegações de 65 países, em geral movimentos populares, camponeses, ambientalistas e povos indígenas. E aprovamos em assembleia que deveríamos organizar brigadas internacionalistas para irmos à Venezuela manifestar nosso apoio. O espírito das brigadas internacionalistas vem de longe. Ao longo da história, muitas organizações populares se deslocaram a outros países, como foi na República Espanhola (1930-1936), na luta pela libertação da Argélia (década de 60) e, mais recentemente, na revolução nicaraguense da década de 70.

Nosso movimento vai discutir com outros movimentos populares do Brasil –assim como em outros países da América Latina– como organizar brigadas de 50 a 100 jovens, para irmos para a Venezuela o quanto antes e ficarmos lá até a ameaça de invasão acabar. Lá na Venezuela, o principal é o gesto de solidariedade pública, e lá nós nos colocaremos à disposição dos movimentos populares para atividades na sociedade, desde ajudar a cultivar alimentos, limpar praças, participar de atividades de formação e etc.

Leia a outra parte da entrevista aqui.

Por: Poder360

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