O governo norte-americano sob a administração de entrou na quarta semana de , tornando-se a terceira paralisação mais longa da história dos Estados Unidos. O impasse entre republicanos e democratas sobre o financiamento de programas de saúde e gastos públicos paralisou boa parte da máquina federal, afetando diretamente 1,4 milhão de servidores e provocando prejuízos estimados em até US$ 2 bilhões por dia.
Ao menos 900 mil funcionários foram afastados sem salário, enquanto outros 700 mil continuam trabalhando sem remuneração.
O Escritório de Gestão e Orçamento (OMB) da Casa Branca confirmou que cerca de 7 mil pessoas já foram demitidas em agências como Agricultura e Comércio — medida temporariamente barrada por um juiz federal na semana passada, que classificou as dispensas como “motivadas politicamente”.
Linha do tempo da crise
A crise começou em 1º de outubro, quando o Congresso não conseguiu aprovar o orçamento federal. No dia seguinte, a Casa Branca iniciou um plano de corte pessoal em diversas agências.
Em 10 de outubro, Trump prometeu “demitir muitos” funcionários que, segundo ele, estariam alinhados ao Partido Democrata.
Mesmo após a decisão judicial que suspendeu novas demissões, o governo manteve a política de cortes e afirmou que poderia chegar a 10 mil desligamentos caso o impasse persistisse.
O atual shutdown já supera as paralisações de 1995 e 2013 e se aproxima da de 2018-2019 — a mais longa da história americana, com 35 dias.
Senado trava e impasse se agrava
Na noite dessa segunda-feira (20/10), o Senado, de maioria democrata, bloqueou pela 11ª vez o projeto de lei republicano para reabrir o governo.
O líder democrata na Câmara, Hakeem Jeffries, acusou Trump de “governar à distância” e de ter criado uma crise desnecessária. “Ele precisa sair da linha lateral, deixar o campo de golfe e realmente decidir sobre esta paralisação que ele criou”, afirmou o congressista.
Enquanto Trump tenta equilibrar sua política externa e o caos interno, cresce a pressão para o presidente abandonar a estratégia de confronto e negociar uma saída que reabra o governo antes que o prejuízo se torne irreversível.
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O que é o shutdown
Nos EUA, o shutdown entra em vigor quando o Congresso não aprova o orçamento federal, obrigando o governo a paralisar parte de suas atividades.
Sem recursos, departamentos e agências interrompem serviços considerados não essenciais, como museus, parques e parte do funcionalismo público.
Somente áreas vitais, como defesa, segurança e saúde, continuam operando.
Os servidores afetados podem ser afastados ou trabalhar sem receber, ampliando os efeitos econômicos e sociais da crise.
Serviços parados e impacto crescente
A paralisação já atinge desde instituições de pesquisa, como o NIH (Instituto Nacional de Saúde), até programas de assistência alimentar que beneficiam milhões de famílias de baixa renda. O controle de tráfego aéreo e a Agência de Segurança nos Transportes (TSA) operam com equipes reduzidas, e funcionários do Senado deixaram de receber salários nessa segunda-feira.
Enquanto isso, os subsídios do Obamacare — principal ponto de discórdia entre democratas e republicanos — seguem suspensos.

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1 de 4 O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump Evan Vucci - Pool / Getty Images
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2 de 4 Trump chega ao Egito para assinar acordo de cessar-fogo em Gaza Chip Somodevilla/Getty Imagens
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3 de 4 Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump Alex Wong/Getty Imagens
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4 de 4 O presidente dos EUA, Donald Trump, discursa com altos líderes militares na Base do Corpo de Fuzileiros Navais de Quantico Andrew Harnik/Getty Images
“O shutdown atinge a vida real das pessoas”, diz analista
Ao Metrópoles, o jornalista e observador da Casa Branca, Fernando Hessel, ressaltou que o impacto econômico e social da paralisação ultrapassa o debate partidário.
“O prejuízo disso tudo está estimado em US$ 2 bilhões por dia, e o impacto no PIB já chega a menos 0,4% neste trimestre”, afirma. “Serviços essenciais continuam funcionando, como a segurança aérea e o Medicare, mas muita coisa parou”.
Segundo ele, os efeitos são desiguais e atingem com mais força trabalhadores negros, que representam quase 20% da força de trabalho federal, frente a uma média nacional de 12%.
“Para muitas famílias negras, o serviço público sempre foi sinônimo de estabilidade e segurança financeira. Agora, 30% dos atingidos pelo shutdown pertencem a essa comunidade”, explica Hessel. “Com os cortes, o resultado é menos renda, mais endividamento e mais vulnerabilidade.”
Recentemente, Donald Trump abriu uma nova frente de tensão com Pequim ao declarar que os Estados Unidos estão em uma “guerra comercial” com a China. O republicano já havia anunciado a imposição de tarifas de 100% sobre todos os produtos chineses a partir de novembro, medida que amplia o confronto econômico entre as duas maiores potências do mundo.
“Quando um shutdown começa a comprometer diretamente o PIB americano, acende-se um sinal vermelho. Essa instabilidade interna só fortalece quem está do lado de fora — como a China, que ganha espaço na corrida econômica global”, analisa Hessel.