O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) comparou nesta 3ª feira (16.dez) o comportamento de homens que se acham “donos de mulher” à mentalidade escravocrata durante reunião com a cúpula do Judiciário e da Esplanada sobre violência contra mulheres. Segundo o petista, homens são educados para se apropriar das mulheres da mesma forma que senhores se apossavam de escravos no Brasil colonial.
“O homem cresce sem uma regulamentação de que ele não pode ser dono da mulher. Ele não pode se apropriar da mulher porque casou com ele, porque namorou com ele. Como escravocrata se apoderava do escravo. Ele não era dono. Ele podia vender, ele podia matar, ele podia bater“, declarou Lula.
O presidente afirmou que essa mentalidade está “incrustada” na cultura brasileira e isso seria o cerne do problema. Em falas públicas, o petista tem defendido que o machismo é um problema a ser resolvido no âmbito educacional.
No discurso, o petista citou casos que chocaram o país, como o de um homem que arrastou uma mulher por 1 quilômetro em São Paulo. “Eu levantei um domingo para tomar café, a minha mulher [Janja Lula da Silva] estava na beira tomando café comigo e com lágrimas nos olhos me contando a violência que ela tinha visto“, afirmou.
Lula atribuiu a violência à forma como homens são criados no Brasil. O presidente citou exemplos da educação desigual entre meninos e meninas. “Uma menina, o pai quer que a menina case virgem. O homem, ele quer levar para a idade sexual com 14 anos de idade, ele quer provar que o filho dele é macho“, disse.
Para o presidente, o avanço das mulheres na sociedade incomoda os homens. “As mulheres conseguiram conquistar espaço. As mulheres querem subir em empilhadeiras, as mulheres querem ser motoristas de caminhão, as mulheres querem ser prefeitas, querem ser presidentas. E eu acho que é isso que incomoda os homens”, declarou.
O presidente reconheceu que mulheres têm medo de denunciar agressores. “Achar que porque a mulher pode denunciar 180, ela vai denunciar… Ela fica com medo de quanta coisa ela vai sofrer se ela fizer a denúncia. E se o marido souber que ela fez a denúncia, o que vai acontecer na vida dela?“.
Janja participou do encontro, assim como o ministro Edson Fachin, presidente do STF, a ministra Cármen Lúcia, presidente do TSE, e o ministro Herman Benjamin, presidente do STJ. Também participaram a governadora de Pernambuco, Raquel Lyra (PSDB), o defensor público-geral federal, Leonardo de Magalhães, e a secretária nacional de Acesso à Justiça, Sheila de Carvalho.
A reunião contou ainda com 9 ministros do governo: Ricardo Lewandowski (Justiça), Camilo Santana (Educação), Esther Dweck (Gestão), Luciana Santos (Ciência e Tecnologia), Marina Silva (Meio Ambiente), Márcia Lopes (Mulheres), Anielle Franco (Igualdade Racial), Macaé Evaristo (Direitos Humanos) e Gleisi Hoffmann (Relações Institucionais).
Lula convocou os presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), também uma tentativa de distensionar a relação com o Congresso. Ambos não compareceram.
Lula tem intensificado o discurso sobre violência contra mulheres desde o início de dezembro.
Apesar da expectativa, a reunião não apresentou plano de trabalho ou uma cartilha informativa. Lula propôs a construção de um pacto nacional contra o feminicídio envolvendo todos os poderes. “Essa reunião aqui, ela não vai decidir nada. A gente vai assumir o compromisso, cada um dos poderes aqui“, declarou.
O presidente afirmou que a luta precisa envolver todos os âmbitos de poder, incluindo prefeituras.





