Haddad espera “queda de juros com sustentabilidade” nos próximos meses
"O ciclo de corte vai se iniciar em algum momento dos próximos meses, não sei precisar quando", disse o ministro Fernando Haddad sobre juros
No dia em que o Comitê de Política Monetária () do Banco Central (BC) começa a se reunir para definir a nova taxa básicas de juros da economia brasileira, o ministro da Fazenda, (PT), afirmou que espera o início do ciclo de corte da Selic “em algum momento dos próximos meses”, como resultado da desaceleração da inflação no país.
A taxa básica de juros é o principal instrumento do Banco Central (BC) para controlar a inflação. Quando o Copom aumenta os juros, o objetivo é conter a demanda aquecida, o que se reflete nos preços, porque os juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança. Assim, taxas mais altas também podem conter a atividade econômica.
Ao reduzir a Selic, por outro lado, a tendência é de que o crédito fique mais barato, com incentivo à produção e ao consumo, reduzindo o controle da inflação e estimulando a atividade econômica.
Na última reunião do Copom, no fim de julho, . A tendência é que isso se repita nesta semana. A reunião do colegiado começa nesta terça e será concluída na quarta-feira.
“Nós estamos com um câmbio a R$ 5,30. Isso tem um lado muito positivo. O impacto do câmbio sobre a inflação é notável, em particular no Brasil. Nós estamos reancorando as expectativas de inflação e acredito que vai se abrir um espaço para a queda dos juros”, disse Haddad, que participou, por videoconferência, de um evento promovido por um banco.
“Não sou do Banco Central, mas tudo me leva a crer que o ciclo de corte vai se iniciar em algum momento dos próximos meses, não sei precisar quando, não é da minha alçada”, afirmou o ministro da Fazenda.
O chefe da equipe econômica destacou ainda a importância de reformas micro e macroeconômicas – como a tributária – para o fortalecimento da economia brasileira, o que, em sua avaliação, também contribui para os cortes de juros pelo BC.
“Vamos entrar em uma trajetória de queda de juros com sustentabilidade. Não só a reforma tributária, mas a reforma das leis de seguro, a reforma creditícia, a economia verde, a economia digital… é um acervo de entregas que vão impactar positivamente a produtividade da economia brasileira”, disse.
Segundo Haddad, “o patamar do dólar, dependendo de onde estacionar, tem impacto na arrecadação”. “Mas acredito que a boa nova é que conseguimos olhar para um horizonte próximo com mais otimismo para um equilíbrio entre juro e câmbio mais favorável para o país”, completou o ministro.
— o que representa uma queda de 0,37 ponto percentual em comparação a julho (alta de 0,26%). Esta foi a primeira deflação registrada neste ano, após sete meses seguidos de aumento dos preços.
Em linhas gerais, chama-se de deflação a queda média de preços de produtos e serviços, que ocorre de forma contínua. Trata-se de uma “inflação negativa” – ou seja, abaixo de zero.
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Arcabouço fiscal
Em sua participação no evento, Fernando Haddad voltou a afirmar que o governo cumprirá a meta fiscal tanto neste quanto no próximo ano.
A meta fiscal do Brasil para 2025, de acordo com a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), é de resultado primário zero, com uma margem de tolerância de até 0,25 ponto percentual do Produto Interno Bruto ().
“Temos um limite de gastos que deve ser respeitado. Isso exige disciplina do governo para não deixar faltar recursos para saúde, educação e os programas prioritários do governo. Essa disciplina voltou a ser uma realidade. Não teve fura-teto nenhum”, afirmou.
“Nós pretendemos neste ano, tanto quanto no anterior, cumprir a meta em 2025 e 2026. Nós dependemos do que não tem nos faltado, que é a compreensão do Congresso Nacional, tanto na limitação de despesas, exclusão das pautas-bomba e na recomposição da base fiscal do Estado brasileiro, que foi dilapidada por dez anos”, prosseguiu Haddad.
Segundo o ministro da Fazenda, durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) “tivemos uma erosão da receita de praticamente 2% do PIB e uma contratação de despesas, que estão sendo honradas por este governo e se concluem no ano que vem”.
Reforma tributária
O ministro da Fazenda também chamou atenção para a importância da para a economia brasileira, com efeitos a partir dos próximos anos.
“Considero a reforma tributária que está sendo concluída no Senado uma das maiores conquistas da sociedade brasileira, que se envolveu nesse debate. O governo Lula teve mérito de criar uma Secretaria Extraordinária que foi liderada por um dos maiores especialistas em tributos no Brasil”, elogiou Haddad, referindo-se ao economista Bernard Appy.
“O impacto dessa reforma será muito superior ao que se imagina. A enorme simplificação que vamos viver, a questão da desoneração total dos investimentos e das exportações, vão trazer um ganho de produtividade para a economia brasileira”, afirmou.
O chefe da equipe econômica disse ainda que “vamos terminar o mandato com a menor inflação de um mandato desde o Plano Real”. “A inflação acumulada em 4 anos será, pela primeira vez, inferior a 20%”, projetou Haddad.
“A reforma [tributária] está praticamente concluída. Nós devemos votar amanhã no Senado o último Projeto de Lei Complementar para que ela se efetive”, completou.
Ambiente político e econômico
Durante sua fala no evento, Fernando Haddad afirmou que o Brasil passou por “uma década muito dura” entre os anos 2011 e 2020.
“Uma crise econômica e uma crise política muito difícil, depois veio uma pandemia… Foi um período muito difícil para o Brasil, agravado pela política. Mas eu creio que, do ponto de vista político, nós estamos em condição melhor de enfrentar esses desafios do que no período anterior”, disse.
Para Haddad, “o ambiente federativo melhorou no Brasil, sem o que é muito difícil você corrigir as contas públicas”. “E o ambiente entre os Poderes também melhorou. Nós tivemos avanços importantes”, concluiu.
Por: Metrópoles