• Segunda-feira, 30 de junho de 2025

Guerras, reforma da ONU: Brics buscam consenso em cúpula desfalcada

Cúpula de líderes do Brics ocorre em 6 e 7 de julho, no Rio de Janeiro, sem a presença de grandes líderes

O sedia, nos próximos dias 6 e 7 de julho, a cúpula de chefes de Estado do . O evento acontece sob a sombra de grandes conflitos e tem o desafio de encontrar consenso em temas como a reforma de organismos globais e o conflitos no Oriente Médio e na Ucrânia. A cúpula sofrerá com a . Ameaçado por um mandado de prisão em aberto pelo Tribunal Penal Internacional, o líder russo optou por enviar o chanceler Sergey Lavrov. No entanto, há a expectativa de participação por videoconferência. Já o presidente chinês alegou problemas de agenda e será representado pelo primeiro-ministro Li Qiang. Será a primeira vez desde a criação do bloco que a mais alta autoridade da China não participa da cúpula. O Irã, que recentemente entrou em um conflito armado com Israel, avalia enviar o presidente Masoud Pezeshkian. A presença de outros líderes de países como Egito e Emirados Árabes, ainda é incerta. Cúpula do Brics O encontro de chefes de Estado do Brics ocorre nos dias 6 e 7 de julho, no Museu de Arte Moderna (MAM) do Rio de Janeiro. O bloco é formado por Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Indonésia e Irã. A presidência brasileira elencou seis temas como prioridade: cooperação em saúde global; comércio, investimento e finanças; mudança do clima; governança da inteligência artificial; arquitetura multilateral de paz e segurança; e desenvolvimento institucional. Especialistas ouvidos pelo Metrópoles avaliam que divergências em torno da reestruturação do Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU), além de tensões geopolíticas podem gerar entraves para a declaração final do grupo. Reforma da ONU Em abril, a reunião de chanceleres do Brics terminou sem consenso para uma declaração conjunta. O principal motivo apontado foi a discordância sobre termos relacionadas à reforma da ONU. Especialistas indicam que o embate deve voltar à mesa durante a reunião de líderes. O presidente defende a inclusão de países do chamado Sul Global no Conselho de Segurança. Rússia e China, que são membros plenos do colegiado e têm poder de veto em decisões, resistem à incorporação de novos nomes. “O Brasil defende há muitos anos e abertamente uma reestruturação do Conselho de Segurança, de modo que tenha mais representatividade, principalmente em relação aos países em desenvolvimento. A Índia também tem interesse nesse assunto, mas a China e a Rússia, como eles são membros permanentes do Conselho de Segurança, a expansão do Conselho de Segurança geraria uma reformulação dessa arquitetura de poder”, explica Ariane Roder, cientista política do Coppead/UFRJ e especialista em relações internacionais. Além disso, há uma disputa entre países africanos, como aponta João Alfredo Lopes Nyegray, professor de geopolítica, negócios internacionais e coordenador do Observatório de Negócios Internacionais da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR): “Uma eventual presença da África do Sul [no Conselho de Segurança] não é unânime entre os africanos. A gente não pode esquecer que os egípcios, que agora são membros admitidos recentemente no grupo do Brics, também têm esse pleito, não por um ser membro permanente do Conselho de Segurança, mas por uma ascensão à potência regional africana”, explica. 5 imagens Lula encontra o presidente da Rússia, Vladimir PutinFechar modal. 1 de 5 VINÍCIUS SCHMIDT/METRÓPOLES @vinicius.foto 2 de 5 Ricardo Stuckert/PR 3 de 5 Ricardo Stuckert/Presidência da República 4 de 5 Ricardo Stuckert/PR 5 de 5 Lula encontra o presidente da Rússia, Vladimir Putin Ricardo Stuckert / PR Guerras Outro ponto sensível nos debates da cúpula são os conflitos em curso no Oriente Médio e na Ucrânia, uma vez que envolve a participação direta de membros do Brics. Recentemente, o Irã protagonizou troca de ataques com Israel, que levou os Estados Unidos a reagir, em uma escalada que gerou temor da deflagração de um conflito global. O , condenando os ataques e alertando para o risco da elevação das tensões. Por ora, as hostilidades foram interrompidas diante do acordo de cessar-fogo negociado pelos Estados Unidos. Os especialistas ouvidos pelo Metrópoles acreditam que poderá haver divergências no tom do posicionamento do bloco. “A Rússia se apresenta como vítima da expansão do OTAN. A China e a Índia adotam uma postura ambígua. A China, por exemplo, não condena nem apoia diretamente a Rússia. A Índia mantém uma neutralidade e o Brasil fica nessa de defender uma terceira via, assim como a África do Sul, por exemplo”, observa Nyegray. Em relação ao conflito no Oriente Médio, o professor de direito da Fundação Getúlio Vargas () do Rio de Janeiro Evandro Carvalho vê dificuldade em prever os rumos da discussão sobre Irã. “A gente já tem algumas sinalizações nesse sentido, tanto do governo brasileiro, condenando o ataque dos Estados Unidos, quanto de Israel. Então, já há uma espécie de convergência, mas não sabemos qual vai ser o grau disso em relação aos outros atores. Esses temas que podem ter um impacto político, poderá haver uma dificuldade muito grande de chegar a um consenso para atender às aspirações de todos”, destaca. Leia também Desdolarização Por fim, outro ponto que pode dificultar um acordo final entre o grupo é a chamada desdolarização da economia, que consiste na criação de mecanismos para reduzir a dependência da moeda americana em transações comerciais entre esses membros. “Nesse caso, a gente tem a China e a Rússia, que têm uma proposta mais ousada no sentido de desdolarizar, principalmente porque vêm sofrendo sanções do próprio Estados Unidos, no caso da Rússia, e a China, em função principalmente da questão da tarifação”, explica Ariane Roder. “O Brasil, a Índia e África do Sul já têm uma postura um pouco mais prudente em relação a esse assunto, principalmente porque tem laços estreitos diplomático com os Estados Unidos e isso pode gerar uma crise, obviamente, na relação diplomática entre eles”, ressalta. Evandro Carvalho concorda e avalia que os países devem evitar declarações mais incisivas sobre o assunto. “Naquilo que possa significar uma espécie de enfrentamento mais objetivo aos interesses dos Estados Unidos, o próprio governo brasileiro vai tentar reduzir um pouco o impacto disso”.
Por: Metrópoles

Artigos Relacionados: