• Domingo, 19 de outubro de 2025

Estudo quer desenvolver vacinas para combater acne; entenda

Segundo pesquisa publicada na “Nature”, o objetivo é oferecer uma defesa reforçada contra a doença, uma solução de longo prazo.

Recentemente foi realizada uma pesquisa pela revista científica Nature sobre o desenvolvimento de duas vacinas candidatas que visam a envolver o sistema imunológico no combate à causa subjacente da acne.

A acne é uma doença inflamatória da pele causada pela obstrução dos poros por causa do excesso de oleosidade, células mortas e bactérias, o que resulta em cravos, espinhas e, em casos mais graves, cistos e lesões. O estudo dessa doença é relevante, considerando que é muitas vezes associada só como uma questão de pele, ligada à puberdade e à higiene e não como uma doença que afeta milhões.

A dermatologista do Hospital das Clínicas da FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo) Maria Cecília Rivitti afirma que, por a acne ser extremamente frequente (70%, 80% dos indivíduos vão ter algum grau de acne durante a vida) “pode ser tratada pela indústria cosmética e pela parte não médica como se não fosse uma doença”.

Ela diz que a “acne é uma doença inflamatória da pele, que ocorre em pessoas que têm uma predisposição genética. Ela é favorecida por alguns fatores epigenéticos, ou também chamados de ambientais, que são principalmente o tabagismo e o estilo de vida moderno com alimentação muito rica em carboidratos”.

“É uma doença da unidade pilossebácea, então, do folículo piloso e da glândula sebácea. Por influência seja de hormônios que acontecem na puberdade, de medicamentos, de padrões de alimentação, que são ricos em carboidratos, ocorrem modificações do folículo piloso, aumentando a produção sebácea. Isso cria um microambiente do folículo no qual as bactérias, que são parte da microbiota normal, a principal delas, o Cutibacterium acnes, proliferam. Esse microambiente, então, favorece a proliferação do Cutibacterium acnes e ocorrendo depois o processo inflamatório”, declara a dermatologista.

O desenvolvimento das vacinas pode oferecer uma defesa reforçada contra a doença, uma solução de longo prazo. “Vai ser injetado um RNA mensageiro encapsulado, que codifica instrução para o organismo fabricar uma substância da bactéria Cutibacterium acnes, após isso, o organismo começa a fabricar essa substância e depois começa a fabricação de anticorpos. Quando esses anticorpos estão circulantes, teoricamente, eles vão matar a bactéria produtora, que está envolvida na patogênese da acne”, afirma.

A dermatologista, entretanto, acredita que as vacinas entram no contexto do desejo das pessoas por um tratamento acelerado e também têm dúvidas sobre o funcionamento desse novo tratamento.

“O Cutibacterium acnes faz parte da microbiota do organismo, ele é um regulador da resposta imunológica de uma série de doenças. Uma tecnologia como essa, usando RNA mensageiro de substâncias da própria Cutibacterium, pode afetar todas essas bactérias do corpo humano, e isso pode ter repercussões sérias”, declara.

As formas mais comuns da acne ocorrem principalmente na adolescência e no começo da vida adulta. Como se dá nesse período de crescimento e desenvolvimento das pessoas, a doença abre caminho para problemas não só físicos, como lesões, mas também impactos psicológicos.

“É o período em que a personalidade da pessoa está em formação. Então a acne pode deixar cicatrizes físicas e na personalidade da pessoa, mas que também não vão ser permanentes”, diz Rivitti.

Os tratamentos para a acne dependem principalmente da gravidade da doença no indivíduo, podendo usar tratamentos tópicos (para aplicar na pele) e/ou orais. Dentre os remédios orais, os antibióticos, que têm uma ação anti-inflamatória, são do grupo da ciclina, e a isotretinoína. Já entre os tópicos, peróxido de benzoíla, os retinóides, ácido azelaico e niacinamida.

Segundo a dermatologista da USP, “com as medicações que nós temos hoje em dia, existe um excelente controle da acne. O problema é que exige empenho do paciente, ele tem que se engajar no tratamento e a melhora vem ao longo do tempo. Então, embora os tratamentos que nós tenhamos sejam muito eficientes, eles não atendem totalmente ao desejo do paciente por uma solução rápida”.

Com informações da Agência USP.

Por: Poder360

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