Um novo estudo do Instituto Esfera divulgado com exclusividade ao Poder360 propõe uma modernização da tradicional ponte aérea entre São Paulo (Congonhas) e Rio de Janeiro (Santos Dumont). A medida pode aumentar a receita das companhias aéreas em até 77% e, ao mesmo tempo, combater o elevado índice de judicialização do setor no Brasil.
O modelo, desenvolvido pelo professor Maurício Bugarin da UnB (Universidade de Brasília), sugere um sistema tarifário mais flexível, em que a remarcação de passagens seria gratuita, funcionando como um “seguro embutido” para o consumidor. Leia a íntegra do estudo (PDF – 8 MB).
Atualmente, o Brasil concentra 98% das ações judiciais contra companhias aéreas em todo o mundo, resultando em um custo estimado de R$ 1 bilhão por ano para as empresas. A proposta busca reverter esse cenário, transformando um dos maiores gargalos do setor em uma oportunidade de ganhos mútuos.
O Grupo Esfera apresentará a proposta aos governadores de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e do Rio, Cláudio Castro (PL), em evento que será realizado em agosto.
O cerne da proposta é a substituição das pesadas multas e taxas por alterações de voo por um contrato que já inclua a remarcação gratuita. A ideia se baseia na premissa de que o consumidor brasileiro é avesso ao risco e valoriza a flexibilidade, enquanto as empresas aéreas podem “monetizar” essa disposição do consumidor a pagar mais por tranquilidade.
Ao comprar a passagem, o consumidor sabe que, mesmo em caso de imprevistos urgentes (como uma emergência familiar ou profissional), não perderá o valor gasto e poderá remarcar o voo sem custos adicionais exorbitantes. Essa “tranquilidade psicológica” é um benefício subjetivo valioso para o cliente, segundo o estudo, elevando sua disposição a pagar.
As simulações do estudo, que utilizam modelos econômicos detalhados (com funções de utilidade e distribuições de probabilidade para precificação ótima), indicam que as empresas podem cobrar um preço mais elevado pela passagem regular. Isso ocorre porque o preço agora inclui um “seguro” que agrega valor ao produto.
Além disso, a flexibilidade incentiva o consumidor a comprar a passagem com mais antecedência, gerando um ganho financeiro adicional para a empresa (pois ela pode investir o dinheiro recebido antes).
O estudo analisa 4 cenários principais para a receita esperada por cliente:
De acordo com o estudo do Grupo Esfera, mesmo a mudança para o cenário mais básico já se torna mais rentável se o risco de emergência for de 10% ou menor.
Já no cenário intermediário, as receitas esperadas da empresa se tornam substancialmente superiores ao modelo tradicional, com ganhos crescentes à medida que a incerteza de alteração se reduz, chegando a mais de 40% de aumento de receita quando a probabilidade de alteração é baixa (menos de 0,5%).
No cenário mais otimista, que inclui tanto a flexibilidade quanto o ganho financeiro da compra antecipada, o aumento na receita esperada por cliente pode chegar a mais de 73% quando a probabilidade de alteração é de apenas 0,5%. Para cenários de alta probabilidade de alteração, a receita esperada unitária pode se aproximar de R$500.
Com cerca de 400.000 a 600.000 novos processos por ano, o que representa 98% das judicializações globais, mesmo com o Brasil correspondendo por apenas 3% do tráfego aéreo internacional. O custo para as empresas é de aproximadamente R$ 1 bilhão por ano
As principais causas dessa judicialização incluem:
Para mitigar esse problema, a proposta inclui a adoção de cláusulas de resolução extrajudicial incentivada nos contratos. Essas cláusulas preveriam:
A implementação do novo modelo é pensada para ser gradual, voluntária e baseada em incentivos, evitando subsídios diretos ou imposições regulatórias, que historicamente não funcionaram bem no Brasil, como no caso do programa Voa Brasil.
Os passos propostos incluem: