• Domingo, 24 de agosto de 2025

Ciclista atropelado fica 9 meses com peça de bicicleta na barriga

Erro médico em atendimento após acidente fez ciclista ficar 9 meses com acionador do freio na barriga e perder carreira no karatê

O atleta Mykaell Christopher Santos Vieira, de 22 anos, teve seu sonho de disputar competições de karatê interrompido em março de 2023 enquanto andava de bicicleta. Ele ia ao trabalho — atuava como empacotador em um mercado para juntar dinheiro para participar das competições — quando um carro saindo de um estacionamento avançou sobre ele. e Mykaell foi levado de ambulância para o Hospital de Emergência Oswaldo Cruz, em Macapá (AP), onde ele vive. O atendimento dado ao atleta, porém, não identificou que o acionador de freio da bicicleta havia se alojado perto de sua pelve com o impacto da batida. Leia também Dores por 9 meses Durante os 9 meses em que o objeto metálico esteve instalado em sua barriga, o atleta reclamou de dores na região. “Eram muito fortes, sentia dores no abdômen e quadril e muitas vezes fiquei mancando ou arrastando a perna. Eram dores parecidas com pontadas, mas em uma escala muito grande. Eu não conseguia nem caminhar direito”, lembra o jovem. As dores intensas fizeram, inclusive, o Mykaell ser demitido do trabalho no mercado — os chefes o acusaram de estar fazendo “corpo mole”. O problema também comprometeu sua capacidade de treinar. Sem conseguir mais suportar as dores, em novembro de 2023 ele fez exames de imagem, pagos por conta própria, que revelaram que a “Foi um choque! Eu, sendo atleta, sabia que tinha passado por um risco muito grande de movimentação por ter aquele manete ali, então o procedimento foi feito às pressas”, diz. Segundo o macapaense, os médicos chegaram a informá-lo que ele havia sofrido um grave risco de ficar em cadeira de rodas ou falecer por infecções e movimentações da peça em seu organismo. 2 imagens Ele ficou nove meses com a peça metálica em seu corpoFechar modal. 1 de 2 Exame de imagem mostra peça alojada no quadril do jovem Reprodução/Acervo pessoal 2 de 2 Ele ficou nove meses com a peça metálica em seu corpo Reprodução/Acervo pessoal Lidando com o trauma Mykaell voltou ao hospital em que foi operado inicialmente e exigiu a retirada da peça de seu corpo. Após a cirurgia, ele recebeu alta e não sentiu mais dores. A recuperação, porém, envolveu meses de fisioterapia, uso de muletas e afastamento dos treinos. A interrupção ocorreu em fase decisiva da carreira, quando ele se preparava para exames de faixa preta e competições de karatê. Hoje, o atleta voltou a treinar e conseguiu, graças à fisioterapia, voltar a caminhar normalmente. O trauma, porém, afetou também sua saúde mental. “Desenvolvi um quadro de depressão e ansiedade severa. Tive várias crises e pesadelos com os médicos falando que, pela lógica, eu deveria estar morto”, lembra. Decisão judicial dá indenização de R$ 91 mil Após o trauma, Mykaell procurou um advogado em busca de um ressarcimento pelos danos de saúde e pelos prejuízos que enfrentou pelo descuido da equipe médica. O caso resultou em ação de indenização por danos morais contra o Estado do Amapá. A Justiça reconheceu a omissão específica no atendimento e confirmou a responsabilidade civil do hospital diante da negligência médica, mas o estado recorreu. O Tribunal de Justiça do Amapá negou o recurso e fixou a indenização em 25 salários mínimos. Atendimento falhou, diz jovem Para Mykaell, é evidente que houve um descaso no atendimento dado a ele. “Os médicos só pediram raio-x do tórax e do joelho, mas eu disse que estava sentindo fortes no quadril e eles não examinaram. Só fizeram uma sutura”, diz o jovem macapaense. O médico Marcelo Tadeu Caiero, presidente da Sociedade Brasileira do Trauma Ortopédico (SBTO), explica que o procedimento padrão para atendimento de motoqueiros e ciclistas atropelados inclui a realização de exames de imagem para avaliar a presença de corpos estranhos ou de traumatismos no quadril. “Geralmente, o acidentado sofre fraturas nos membros inferiores e quadril, nos membros superiores, além de lesões na cabeça e no pescoço. Podem ocorrer, ainda, hemorragias causadas por rupturas de grandes vasos, lesões nos órgãos vitais ou infecções generalizadas decorrentes dos traumas, com alto risco de morte”, explica. A Secretaria de Saúde do Amapá foi procurada para comentar o caso, mas não respondeu até o fechamento da reportagem. Siga a editoria de e fique por dentro de tudo sobre o assunto!
Por: Metrópoles

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