O animal inteiro engorda mais rápido e com mais eficiência, enquanto o castrado entrega carne de melhor qualidade e valor agregado
O animal inteiro engorda mais rápido e com mais eficiência, enquanto o castrado entrega carne de melhor qualidade e valor agregado Quem vive da pecuária de corte sabe: o lucro é sempre apertado. O custo de produção, ração, suplementação, sanidade, mão de obra, energia, não dá trégua. Por isso, cada decisão de manejo precisa ser estratégica, pois pode significar alguns quilos a mais na balança… ou no vermelho das contas. Uma dúvida recorrente entre os produtores é: vale a pena castrar os bois ou deixá-los inteiros para a engorda? Essa decisão não é apenas técnica: ela impacta o desempenho produtivo, a qualidade da carne, o comportamento do rebanho e, principalmente, a rentabilidade da atividade.
Castração bovina: uma prática antiga, mas ainda atual A castração é utilizada há séculos, e o motivo inicial era simples: facilitar o manejo. Um boi castrado é menos agressivo, mais dócil e, portanto, mais seguro para conviver no pasto ou no confinamento. window._taboola = window._taboola || [];
_taboola.push({mode:'thumbnails-mid', container:'taboola-mid-article-thumbnails', placement:'Mid Article Thumbnails', target_type: 'mix'});Hoje, além de facilitar o trabalho diário, a castração também é vista como uma ferramenta para melhorar a qualidade da carne, já que estimula maior deposição de gordura e marmoreio. Os métodos variam:
Cirúrgico: o mais comum, feito com corte e remoção dos testículos.
Burdizzo: método mecânico, que esmaga os cordões espermáticos sem incisão.
Químico ou imunológico: menos usado, mas em crescimento, por ser menos invasivo.
Cada técnica tem suas vantagens, custos e riscos, e a escolha depende das condições da fazenda e do perfil do rebanho. Como o organismo do boi responde: músculos x gordura O crescimento do bovino segue uma lógica natural: primeiro os ossos, depois os músculos e, por último, a gordura. A intensidade desse processo é regulada por vários fatores, como idade, peso, genética, nutrição e, claro, hormônios sexuais. Nos animais inteiros, a testosterona tem papel de protagonista:
Estimula a somatotropina (hormônio do crescimento), aumentando síntese de proteínas.
Favorece maior ganho muscular e crescimento ósseo.
Inibe o acúmulo de gordura, direcionando energia para massa magra.
Mantém o metabolismo mais ativo, permitindo melhor conversão alimentar.
Já nos castrados, a queda da testosterona reduz a eficiência da síntese proteica. O animal continua crescendo, mas com menor velocidade de ganho muscular e maior deposição de gordura. Isso significa carne com mais maciez e marmoreio, mas à custa de maior consumo energético.
Diferenças no ganho de peso: números que falam Quando se coloca na ponta do lápis, os resultados se diferenciam:
Animais inteiros
Ganho médio de peso diário (GMD) até 15 a 20% superior em comparação aos castrados, dependendo do sistema.
Precisam ingerir menos matéria seca para converter em 1 kg de ganho.
Carcaças mais pesadas e com melhor rendimento de cortes.
Animais castrados
Maior deposição de gordura subcutânea e intramuscular.
Necessitam de mais energia para engordar, já que gordura exige mais nutrientes para ser formada.
Peso final pode ser menor, mas a carne tem atributos valorizados pelo mercado premium.
Um detalhe técnico importante: enquanto o tecido muscular contém cerca de 30% de matéria seca, o tecido adiposo tem 80%. Ou seja, para depositar 1 kg de gordura, o boi castrado precisa consumir muito mais nutrientes do que o inteiro precisa para depositar 1 kg de músculo. Carne e mercado: peso ou qualidade? Aqui entra a questão mercadológica. Nem sempre quem engorda mais é quem gera mais lucro.
Mercado de commodity (boi magro, exportação de volume, ciclo curto): a vantagem está com o animal inteiro, que entrega peso vivo mais rapidamente.
Mercado de carne de qualidade (restaurantes, cortes nobres, exportação premium): o castrado se destaca, com carne mais macia, suculenta e com acabamento de gordura uniforme.
Um exemplo prático:
Seu João, produtor de Goiás, decidiu manter seus bois inteiros e vendê-los com 20 meses para exportação. Ganhou tempo e reduziu custos com suplementação.
Já Dona Maria, produtora em Minas, focou no mercado gourmet de Belo Horizonte. Castrou seu lote, levou os bois ao confinamento e vendeu a carne com valor agregado, recebendo até 15% a mais por arroba.
Além da balança: manejo e bem-estar Outro ponto que o produtor precisa avaliar é o comportamento animal:
Inteiros são mais agressivos, brigam mais, exigem cercas mais resistentes e manejo mais cuidadoso.
Castrados são mais tranquilos, reduzem acidentes, favorecem bem-estar e podem até ter menor incidência de perdas por estresse.
Esses fatores também impactam os custos indiretos da fazenda e precisam entrar na conta. Como decidir: castrar ou não? A resposta não é única. Depende de:
Objetivo da produção: peso rápido x carne de qualidade.
Estrutura da fazenda: manejo intensivo ou extensivo, capacidade de lidar com animais mais agressivos.
Mercado comprador: venda para frigoríficos de volume ou nichos de carne premium.
Raça e genética: zebuínos geralmente apresentam menor marmoreio, taurinos maior – a castração pode compensar essas diferenças.
Conclusão: decisão estratégica que impacta o bolso Na prática, os dados são claros:
O animal inteiro engorda mais rápido e com mais eficiência.
O castrado entrega carne de melhor qualidade e valor agregado.
A escolha entre castrar ou não castrar deve ser feita com base em planejamento: qual é o destino do boi? Para quem vou vender? Quanto custa a ração? Qual o preço da arroba em cada mercado? Antes de tomar a decisão, converse com seu técnico de confiança, faça contas e alinhe sua estratégia ao mercado que você deseja atender. Essa é a chave para transformar dúvida em resultado e peso na balança em dinheiro no bolso.
Escrito por Compre RuralVEJA MAIS: