• Quarta-feira, 2 de julho de 2025

AGU diz que ação do IOF defende governo sem atacar Congresso

Jorge Messias afirma que caminho jurídico escolhido é diferente daquele seguido pelo Psol, que também foi ao STF.

O ministro da AGU (Advocacia Geral da União), Jorge Messias, afirmou nesta 3ª feira (1º.jul.2025) que a diferença entre a ação do governo no Supremo Tribunal Federal para garantir o aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) e a ação do Psol, protocolada 4 dias antes, está em seu alvo.

Messias afirmou que a ADC (Ação Declaratória de Constitucionalidade) do governo (íntegra PDF – 6 MB) defende o decreto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) que elevou o tributo. Já a ADI (Ação Direta de Inconstitucionalidade) protocolada pelo partido (íntegra PDF – 334 kB) “ataca de maneira direta” um ato do Congresso, que foi o PDL (Projeto de Decreto Legislativo) aprovado para derrubar o decreto de Lula.

A AGU confirmou nesta 3ª feira (1º.jul) a judicialização do caso do IOF. A ação é independente, mas o governo afirmou em nota que pediu ao STF que ela também  fique com o ministro Alexandre de Moraes, que já relata a demanda do Psol, por causa da “clara conexão” entre as petições.

A nossa ação se dá em favor do ato adotado pelo presidente da República. Ela tem uma lógica, ela tem uma racionalidade”, declarou Messias a jornalistas. “A preocupação do presidente não é atacar um ato do Congresso. O que o presidente quer é que o Supremo aprecie uma atribuição que a Constituição lhe conferiu”.

Na prática, o governo quer que o STF diga que o aumento do IOF é responsabilidade do Executivo, portanto não poderia ter sido derrubado pelo Congresso. O Poder360 adiantou na noite de 2ª feira (30.jun) que a ação seria protocolada nesta 3ª feira. Segundo aliados do Planalto, a decisão política já estava madura o suficiente.

“A medida adotada pelo Congresso Nacional acabou por violar o princípio da separação de Poderes”, disse Messias em entrevista a jornalistas. “O decreto legislativo acabou por gerar insegurança jurídica nas relações tributárias, gerando ali risco econômico aos interesses da Fazenda Nacional”, afirmou.

Não é a 1ª vez que Lula vai ao Supremo por causa de questões relacionadas à arrecadação. Ele pediu em 2024 que a desoneração (isenção ou diminuição de benefícios) da folha de pagamentos a 17 setores empresariais fosse considerada inconstitucional. O impasse terminou em um acordo com o Congresso pelo fim gradual da desoneração.

A AGU é o órgão responsável por representar a União em ações na Justiça e presta consultoria jurídica ao governo federal. Em um resumo simplificado, é como se fosse o “advogado” do Executivo.

O governo Lula queria emplacar a alta no imposto financeiro para fortalecer a arrecadação, evitar mais bloqueios do Orçamento e assim cumprir o arcabouço fiscal. A Receita Federal estima que a alta do IOF traria R$ 12 bilhões para o Ministério da Fazenda de Fernando Haddad.

O Congresso e o empresariado reagiram contra a medida. A Câmara e o Senado decidiram derrubar o texto que aumentou o IOF na 4ª feira (25.jun). Na Casa Baixa, foram 383 votos a favor da revogação e 98 contra. Os partidos PT, PV, PC do B, Psol e Rede orientaram voto contra. União Brasil, PP, PSD, PDT, PSB, MDB e Republicanos, que têm 14 ministérios, votaram em peso a favor da proposta. A aprovação foi a pior derrota de Lula e Haddad na Câmara no atual governo.

Já no Senado, a votação foi simbólica –sem contagem nominal. Depois da votação, o presidente Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) disse que a decisão foi uma “derrota para o governo construída a várias mãos”.

Eis a cronologia do caso IOF:

●  22.mai – durante a tarde, equipe econômica aumenta IOF via decreto para fortalecer a arrecadação, com impacto estimado de R$ 20,1 bilhões em 2025;

●  22.mai – perto da madrugada, o Ministério da Fazenda revê parte do decreto, reduzindo a potencial arrecadação para R$ 19,1 bilhões;

●  28.mai – depois de uma reunião, o Congresso dá 10 dias para Haddad apresentar alternativas ao decreto do IOF;

●  8.jun – Haddad anuncia redução da alta do IOF e envio de uma medida provisória com aumento de outros impostos para compensar;

●  11.jun – Haddad lança medida provisória com aumento de outros impostos e com mudanças em compensação tributária, com potencial de arrecadação de R$ 10 bilhões em 2025;

●  16.jun – Câmara aprova urgência para votação do projeto para derrubar a alta do IOF;

●  24.jun – de surpresa, o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), anuncia votação do projeto às 23h35 em uma rede social;

●  25.jun – Câmara aprova queda do decreto por 383 votos a favor e 98 contra;

●  25.jun – Senado derruba em votação simbólica (sem contagem de votos);

●  1º.jul – governo aciona oficialmente o STF para judicializar o impasse.

Por: Poder360

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