• Sexta-feira, 1 de agosto de 2025

A presença de um tenente israelense no setor de tecnologia do Brasil

Ao mesmo tempo em que comanda uma brigada militar, tenente-coronel de Israel mantém vínculos com empresas do ramo tecnológico no Brasil

Erez Yerushalmi é um, entre tantos outros militares das que lutam contra o na desde outubro de 2023. Ao mesmo tempo, no entanto, o tenente-coronel atua também no ramo do empreendedorismo e mantém laços com o setor de tecnologia e inovação no Brasil. Entenda Erez Yerushalmi é um militar das Forças de Defesa de Israel (FDI). O homem também é um empreendedor no setor de tecnologia e possui diversas ligações com a área de inovação no Brasil. Além de sua atuação militar e empresarial, Yerushalmi aparece como mentor da BrazilLAB, uma associação privada que atua como “hub de inovação”. A organização busca conectar empreendedores de tecnologia com líderes políticos brasileiros para melhorar os serviços públicos. Yerushalmi é o chefe do 8105º Batalhão das FDI, que esteve intensamente envolvido na destruição da cidade de Beit Hanoun, no norte da Faixa de Gaza. A destruição sistemática de cidades em Gaza tem sido alvo de críticas internacionais, com a ONU apontando possíveis crimes de guerra por parte de militares israelenses. Yerushalmi, por sua vez, defende as ações de Israel em suas redes sociais, compartilhando sua experiência militar e elogiando a determinação de seu grupo. Fundador de diversas empresas no ramo tecnológico, Yerushalmi se descreve como um “empreendedor e investidor no cenário da economia com propósito” no Linkedin — um conceito que, na teoria, visa não só lucro, mas também o valor social e humano. Anos atrás, uma das fintechs do tenente-coronel foi adquirida por uma empresa brasileira, que oferece crédito para microempreendedores nos estados do Ceará, Maranhão, Paraíba e Pernambuco. Com a fusão, Yerushalmi foi elevado ao posto de diretor-geral da companhia no braço em e foi alçado a um dos mentores da associação BrazilLAB. Leia também Mentor no setor de inovação A BrazilLAB é uma associação privada fundada em 2016 e, atualmente, tem sede na cidade de sendo descrita como um “hub de inovação”. Basicamente, funciona como plataforma para unir e conectar empreendedores do setor de tecnologia com “líderes públicos” brasileiros. A organização também auxilia soluções desenvolvidas por startups, com foco na melhoria dos serviços governamentais. As empresas que estão ligadas à associação, muitas vezes, divulgam que possuem respostas inovadoras e estratégicas para os setores públicos brasileiros, o que inclui propostas que podem ser implementadas desde uma pequena prefeitura até um grande órgão federal. O nome da associação, inclusive, consta no site da em um página caracterizada como “iniciativas do governo aberto”. O lugar é um espaço em que a CGU disponibiliza uma relação de organizações da sociedade civil, que realizam algum tipo de incidência em políticas públicas, como acompanhamento de ações governamentais, pesquisas e outras ações. A presença da empresa no site tem apenas caráter informativo. A BrazilLAB diz que o seu time de mentores é formado por pessoas que atuam no poder público, setor privado e instituições de ensino. São profissionais com diferentes experiências e que, unidos, “formam o pilar essencial para levar os empreendedores selecionados a alcançarem seus objetivos”. Um deles é, justamente, Erez Yerushalmi. Descrito como “líder e influenciador na área de impacto”, o israelense atuaria “apoiando startups a escalarem rapidamente seus negócios através da adoção do pensamento do capitalismo consciente e formando grandes lideranças”. 3 imagens Fechar modal. 1 de 3 Reprodução/Redes Sociais 2 de 3 Reprodução/Brazil LAB 3 de 3 Reprodução/Redes Sociais O Metrópoles entrou em contato com a BrazilLAB para esclarecer a ligação do militar israelense com a associação. No entanto, não houve resposta até o fechamento desta reportagem. O espaço segue aberto para manifestações. Vida militar Tenente-coronel do Exército de Israel, Yerushalmi aparece em registros oficiais das FDI como chefe do . Esse é o mesmo agrupamento que, nos últimos meses, se envolveu em disputas intensas e na destruição da cidade de Beit Hanoun. Localizada no norte da Faixa de Gaza, a região foi uma das primeiras a serem invadidas por tropas israelenses em outubro de 2023, quando a guerra entre Israel e Hamas teve início. Assim como outras áreas na Faixa de Gaza, os cerca de 65 mil moradores da cidade foram forçados a abandonar suas casas após a intensificação da violência. Em dados recentes divulgados pela Beit Hanoun aparece como a sexta cidade com mais construções danificadas na Faixa de Gaza. No início deste mês, a ofensiva militar israelense na região aumentou significativamente, após cinco soldados das FDI morrerem em uma emboscada do Hamas. Veja o antes e depois: photo-slider visualization Os últimos registros nas redes sociais de Yerushalmi no campo de batalha são datados de abril de 2024, o que deixa incertezas sobre sua participação direta nas recentes operações em Beit Hanoun. O comandante do 8105º Batalhão da 646ª Brigada de Paraquedistas da Reserva das FDI  — a mesma patente e posto de Yerushalmi —, no entanto, é citado em uma entrevista ao jornal israelense Maariv divulgada no dia 11 de julho. Na conversa, o militar, identificado apenas como “tenente-coronel ‘Y'”, comenta sobre as ações em Beit Hanoun. “Os bairros de Beit Hanoun estão sendo sistematicamente eliminados usando equipamentos de engenharia e mecânicos, bem como cargas explosivas”, declarou o atual comandante do batalhão que opera na área. “Todos os dias, continuamos a destruir a área até que não reste nada aqui”. Centro de Beit Hanoun antes e depois: photo-slider visualization A principal justificativa do exército israelense para as operações é eliminar membros do Hamas que ainda operam na região, assim como destruir supostos túneis que seriam utilizados por terroristas. Organizações internacionais, no entanto, criticam a destruição em larga escala de cidades em Gaza. A Comissão Internacional Independente de Inquérito da ONU apontou recentemente, em relatório sobre a guerra, que militares de Israel podem ter cometido crimes de guerra no enclave palestino. Isso, porque a devastação de cidades, sem justificativa plausível, assim como outros casos documentados em Gaza, são proibidos pelo Direito Internacional. Diante disso, a ligação entre o tenente-coronel das FDI e a associação brasileira é alvo da PAL Comission. O projeto, que atua na busca de medidas políticas e jurídicas em prol dos direitos de palestinos, enviou um ofício à BrazilLAB, questionando se as atividades militares de Yerushalmi são compatíveis com as diretrizes da empresa, capacitadora de empreendedores que atuam com o Estado. A reportagem entrou em contato com Yerushalmi, mas não obteve respostas.
Por: Metrópoles

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