Talos e folhas de mandioca na silagem: vale a pena para o seu rebanho?
Com a alta dos grãos, produtor busca alternativas; parte aérea da mandioca na silagem surge como opção rica em proteína, mas que exige cuidado técnico para eliminar riscos de intoxicação
Com a alta dos grãos, produtor busca alternativas; parte aérea da mandioca na silagem surge como opção rica em proteína, mas que exige cuidado técnico para eliminar riscos de intoxicação Diante de um cenário onde os custos com milho e farelo de soja pressionam as margens da pecuária de corte e de leite, o produtor rural tem se voltado para soluções alternativas. Em um país que é um dos maiores produtores de mandioca do mundo, um subproduto muitas vezes negligenciado ganha destaque: a parte aérea da planta, composta por talos e folhas (a rama). A pergunta que ecoa no campo é: transformar esse resíduo em silagem é uma estratégia viável e segura para o rebanho? A resposta, segundo especialistas e pesquisas da Embrapa, é um sonoro sim, desde que o processo seja feito com rigor técnico.Siga a leitura e acompanhe o Compre Rural, aqui você encontra informação de qualidade para fortalecer o campo!
O Potencial Escondido no “Resto” da Lavoura Tradicionalmente, após a colheita das raízes, a rama da mandioca era deixada no campo ou, no máximo, usada para replantio. No entanto, seu valor nutricional é surpreendentemente alto. window._taboola = window._taboola || [];
_taboola.push({mode:'thumbnails-mid', container:'taboola-mid-article-thumbnails', placement:'Mid Article Thumbnails', target_type: 'mix'});“A mandioca é uma planta versátil. Se a raiz é pura energia, comparável ao milho, a parte aérea é uma fonte de proteína,” explica um zootecnista. Estudos bromatológicos confirmam esse potencial. Enquanto a silagem de milho tradicional possui, em média, de 6% a 8% de Proteína Bruta (PB), a silagem da parte aérea da mandioca pode facilmente atingir teores que variam de 13% a 17% de PB. As folhas, em particular, são ricas, podendo conter individualmente mais de 25% de proteína. Além da proteína, a rama possui boa quantidade de carboidratos solúveis, essenciais para uma fermentação de qualidade no silo, e é uma fonte reconhecida de pró-vitamina A (caroteno). Para o pecuarista, isso se traduz em menor dependência do farelo de soja, reduzindo diretamente o custo do concentrado. O Vilão: O Ácido Cianídrico (HCN) O grande receio no uso da mandioca, especialmente da “mandioca-brava”, é a presença de glicosídeos cianogênicos (como a linamarina). Quando a planta é cortada ou mastigada, esses compostos se decompõem e liberam o temido ácido cianídrico (HCN), também conhecido como ácido prússico. O HCN é um veneno potente que, ao ser ingerido em altas doses, impede o transporte de oxigênio no sangue, levando o animal à asfixia e morte em poucos minutos.
É aqui que o processo de ensilagem deixa de ser uma opção e passa a ser a solução técnica obrigatória. A Solução: O Poder da Fermentação Foto: Quitandas de MinasA transformação da rama de mandioca em silagem não visa apenas conservar o alimento, mas principalmente neutralizar o seu potencial tóxico. O processo é o seguinte:
Fermentação Anaeróbica: Ao picar, compactar e vedar o material no silo, inicia-se uma fermentação na ausência de ar.
Queda do pH: As bactérias presentes no material consomem os carboidratos solúveis e produzem ácidos (como o ácido lático), fazendo o pH da massa despencar.
Neutralização do HCN: O ácido cianídrico é altamente volátil. Durante o processo de fermentação e com a queda do pH, grande parte do HCN é liberada e neutralizada.
Pesquisas da Embrapa demonstram que o processo de ensilagem, quando bem conduzido, é capaz de reduzir o teor de ácido cianídrico em mais de 70% a 80%, trazendo os níveis para uma faixa totalmente segura para o consumo de ruminantes.
Como Fazer a Silagem de Rama de Mandioca Corretamente O processo é similar ao da silagem de milho ou capim, mas com pontos de atenção cruciais.
Ponto de Colheita: A parte aérea deve ser colhida preferencialmente junto com a colheita das raízes. É importante evitar as partes mais baixas e lenhosas (tocos), que são pobres em nutrientes e ricas em fibra de baixa qualidade.
Tamanho da Partícula: O material deve ser processado em uma ensiladeira, com partículas picadas em torno de 2 cm. Isso facilita a compactação e a liberação dos compostos para a fermentação.
Matéria Seca (MS): Uma das grandes vantagens da rama é que ela geralmente apresenta um teor de matéria seca (MS) ideal para a ensilagem, variando de 25% a 30%. Isso dispensa, na maioria dos casos, a necessidade de pré-murchamento.
Compactação e Vedação: Este é o segredo. A compactação deve ser intensa, seja em silos de superfície, trincheira ou bags, para expulsar o máximo de oxigênio. A vedação com lona deve ser imediata e completa.
O Tempo de Espera: Este é o ponto mais crítico para a segurança. A silagem de rama de mandioca jamais deve ser aberta antes de 30 dias. Este é o tempo mínimo necessário para que a fermentação se complete e o HCN seja devidamente neutralizado.
Vantagens x Desvantagens
Vantagens
Desvantagens
Alto Valor Proteico: Reduz a necessidade de farelo de soja.
Risco Tóxico (HCN): Exige rigor absoluto no processo e tempo de espera de 30 dias.
Baixo Custo: Aproveita um resíduo da lavoura.
Operacional: A colheita e o recolhimento dos talos podem ser mais trabalhosos que o corte de milho.
Resistência à Seca: A mandioca tolera a estiagem, garantindo volumoso em períodos críticos.
Fibra de Menor Qualidade: A FDN (Fibra em Detergente Neutro) pode ser alta; não deve ser a única fonte de volumoso.
Boa Fermentação: Possui características ideais (MS e carboidratos) para ensilar.
Balanceamento: Exige ajuste na dieta, pois é menos energética que a silagem de milho.
O Veredito do Campo A silagem da parte aérea da mandioca não é mais uma promessa; é uma realidade técnica viável. Ela se apresenta como uma ferramenta estratégica excepcional para baratear a dieta, especialmente para rebanhos de leite, onde a demanda por proteína é constante. Estudos que avaliaram a substituição parcial do volumoso por silagem de rama de mandioca não mostraram quedas na qualidade do leite (gordura e proteína), embora a produção total possa diminuir se usada em excesso, devido à menor densidade energética em comparação com o milho. Portanto, vale a pena, mas não é uma solução “mágica”. Ela exige conhecimento, processo e paciência. O produtor que respeitar o tempo de fermentação de 30 dias e buscar auxílio de um técnico para balancear corretamente a dieta, encontrará nos talos e folhas da mandioca um aliado valioso para a rentabilidade do seu rebanho.
Escrito por Compre RuralVEJA MAIS: