*O artigo foi escrito pelos pesquisadores Andreas L. Birkenfeld e Reiner Jumpertz-von Schwartzenberg, ambos da Universidade de Tübingen, da Alemanha, e publicado na plataforma The Conversation Brasil.
Há uma crença de longa data na de que a perda de peso é a principal forma de reduzir o risco da doença. Nosso novo estudo, no entanto, desafia essa crença.
Durante décadas, pessoas diagnosticadas com pré-diabetes — uma condição que afeta até um em cada três adultos, dependendo da idade — ouviram a mesma coisa de seus médicos: comer de forma saudável e perder peso para evitar o desenvolvimento da diabetes.
Mas essa abordagem não tem funcionado para todos. Apesar das recomendações médicas permanecerem inalteradas há mais de 20 anos, a prevalência da diabetes continua aumentando globalmente. A maioria das tem dificuldade em atingir as metas de perda de peso, o que as deixa desmotivadas e ainda em alto risco de diabetes.
Nossa mais recente pesquisa, publicada na revista científica , revela uma abordagem totalmente diferente. Descobrimos que o pré-diabetes pode entrar em remissão — com o açúcar no sangue voltando ao normal — mesmo sem perda de peso.
Cerca de uma em cada quatro pessoas em programas de intervenção no estilo de vida traz seu açúcar no sangue de volta ao normal sem perder peso. Notavelmente, essa remissão com peso estável protege contra a diabetes futura com a mesma eficácia que a remissão alcançada por meio da perda de peso.
Isso representa uma mudança significativa na forma como os médicos podem tratar pacientes com sobrepeso ou obesidade com alto risco de diabetes. Mas como é possível reduzir os níveis de glicose no sangue sem perder peso, ou mesmo ganhando peso?
A resposta está na forma como a gordura é distribuída pelo corpo. Nem toda a gordura corporal se comporta da mesma maneira.
, localizada na parte profunda do abdômen, ao redor dos órgãos internos, atua como um perturbador metabólico. Essa gordura abdominal causa inflamação crônica que interfere na insulina, o hormônio responsável pelo controle dos níveis de açúcar no sangue. Quando a insulina não consegue funcionar corretamente, a glicose no sangue aumenta.
Em contrapartida, a gordura subcutânea — a gordura diretamente sob a pele — pode ser benéfica. Esse tipo de tecido adiposo produz hormônios que ajudam a insulina a funcionar de forma mais eficaz. Nosso estudo mostra que pessoas que revertem o pré-diabetes sem perda de peso transferem a gordura do interior do abdômen para baixo da pele, mesmo que seu peso total permaneça o mesmo.

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1 de 14 A diabetes é uma doença que tem como principal característica o aumento dos níveis de açúcar no sangue. Grave e, durante boa parte do tempo, silenciosa, ela pode afetar vários órgãos do corpo, tais como: olhos, rins, nervos e coração, quando não tratada Oscar Wong/ Getty Images
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2 de 14 A diabetes surge devido ao aumento da glicose no sangue, que é chamado de hiperglicemia. Isso ocorre como consequência de defeitos na secreção ou na ação do hormônio insulina, que é produzido no pâncreas moodboard/ Getty Images
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3 de 14 A função principal da insulina é promover a entrada de glicose nas células, de forma que elas aproveitem o açúcar para as atividades celulares. A falta da insulina ou um defeito na sua ação ocasiona o acúmulo de glicose no sangue, que em circulação no organismo vai danificando os outros órgãos do corpo Peter Dazeley/ Getty Images
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4 de 14 Uma das principais causas da doença é a má alimentação. Dietas ruins baseadas em alimentos industrializados e açucarados, por exemplo, podem desencadear diabetes. Além disso, a falta de exercícios físicos também contribui para o mal Peter Cade/ Getty Images
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5 de 14 A diabetes pode ser dividida em três principais tipos. A tipo 1, em que o pâncreas para de produzir insulina, é a tipagem menos comum e surge desde o nascimento. Os portadores do tipo 1 necessitam de injeções diárias de insulina para manter a glicose no sangue em valores normais Maskot/ Getty Images
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6 de 14 Já a diabetes tipo 2 é considerada a mais comum da doença. Ocorre quando o paciente desenvolve resistência à insulina ou produz quantidade insuficiente do hormônio. O tratamento inclui atividades físicas regulares e controle da dieta Artur Debat/ Getty Images
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7 de 14 A diabetes gestacional acomete grávidas que, em geral, apresentam histórico familiar da doença. A resistência à insulina ocorre especialmente a partir do segundo trimestre e pode causar complicações para o bebê, como má formação, prematuridade, problemas respiratórios, entre outros Chris Beavon/ Getty Images
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8 de 14 Além dessas, existem ainda outras formas de desenvolver a doença, apesar de raras. Algumas delas são: devido a doenças no pâncreas, defeito genético, por doenças endócrinas ou por uso de medicamento Guido Mieth/ Getty Images
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9 de 14 É comum também a utilização do termo pré-diabetes, que indica o aumento considerável de açúcar no sangue, mas não o suficiente para diagnosticar a doença GSO Images/ Getty Images
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10 de 14 Os sintomas da diabetes podem variar dependendo do tipo. No entanto, de forma geral, são: sede intensa, urina em excesso e coceira no corpo. Histórico familiar e obesidade são fatores de risco Thanasis Zovoilis/ Getty Images
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11 de 14 Alguns outros sinais também podem indicar a presença da doença, como saliências ósseas nos pés e insensibilidade na região, visão embaçada, presença frequente de micoses e infecções Peter Dazeley/ Getty Images
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12 de 14 O diagnóstico é feito após exames de rotina, como o teste de glicemia em jejum, que mede a quantidade de glicose no sangue. Os valores de referência são: inferior a 99 mg/dL (normal), entre 100 a 125 mg/dL (pré-diabetes), acima de 126 mg/dL (Diabetes) Panyawat Boontanom / EyeEm/ Getty Images
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13 de 14 Qualquer que seja o tipo da doença, o principal tratamento é controlar os níveis de glicose. Manter uma alimentação saudável e a prática regular de exercícios ajudam a manter o peso saudável e os índices glicêmicos e de colesterol sob controle Oscar Wong/ Getty Images
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14 de 14 Quando a diabetes não é tratada devidamente, os níveis de açúcar no sangue podem ficar elevados por muito tempo e causar sérios problemas ao paciente. Algumas das complicações geradas são surdez, neuropatia, doenças cardiovasculares, retinoplastia e até mesmo depressão Image Source/ Getty Images
Também descobrimos outra peça do quebra-cabeça. Hormônios naturais que são imitados por novos medicamentos para perda de peso, como Wegovy e Mounjaro, parecem desempenhar um papel crucial nesse processo. Esses hormônios, particularmente o GLP-1, ajudam as células beta pancreáticas a secretar insulina quando os níveis de açúcar no sangue aumentam.
Pessoas que revertem a pré-diabetes sem perder peso parecem melhorar naturalmente esse sistema hormonal, ao mesmo tempo em que suprimem outros hormônios que normalmente elevam os níveis de glicose.
Mirando na redistribuição da gordura
As implicações práticas são encorajadoras. Em vez de se concentrarem apenas na balança, as pessoas com pré-diabetes podem tentar reduzir a gordura corporal com dieta e exercícios.
Pesquisas mostram que os ácidos graxos polinsaturados, abundantes nas dietas mediterrâneas ricas em óleo de peixe, azeitonas e nozes, podem ajudar a reduzir a gordura visceral da barriga. Da mesma forma, o treinamento de resistência pode diminuir a gordura abdominal, mesmo sem perda de peso geral.
Isso não significa que a perda de peso deva ser abandonada como objetivo — ela continua sendo benéfica para a saúde geral e a prevenção da diabetes. No entanto, nossas descobertas sugerem que atingir níveis normais de glicose no sangue, independentemente das mudanças de peso, deve se tornar o objetivo principal do tratamento do pré-diabetes.
Essa abordagem poderia ajudar milhões de pessoas que têm enfrentado dificuldades com programas tradicionais de perda de peso, mas ainda assim podem obter melhorias significativas na saúde por meio de mudanças metabólicas.
Para os profissionais de saúde, esta pesquisa sugere a necessidade de ampliar as abordagens de tratamento além das intervenções focadas no peso. Monitorar as melhorias na glicemia e incentivar a redistribuição de gordura por meio de nutrição e exercícios direcionados pode fornecer caminhos alternativos para a prevenção da diabetes para pacientes que têm dificuldade em perder peso.
As implicações se estendem globalmente, onde a diabetes representa um dos problemas de saúde que mais crescem. Ao reconhecer que a pré-diabetes pode melhorar sem perda de peso, abrimos novas possibilidades para prevenir uma doença que afeta centenas de milhões em todo o mundo e continua se expandindo rapidamente.
Esta pesquisa reformula fundamentalmente a prevenção da diabetes, sugerindo que melhorias na saúde metabólica — e não apenas a redução de peso — devem ser centrais na prática clínica.
Para muitas pessoas que vivem com pré-diabetes e se sentem desanimadas por tentativas malsucedidas de perda de peso, isso oferece uma esperança renovada e estratégias alternativas práticas para reduzir o risco de diabetes.
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