• Sábado, 18 de outubro de 2025

Raça rara de ovelhas lutam por sobrevivência em ilha escocesa

Veterinários escoceses pedem intervenção para salvar população de ovelhas Soay em St Kilda, uma das raças mais antigas do mundo.

Veterinários escoceses pedem intervenção para salvar população de ovelhas Soay em St Kilda, uma das raças mais antigas do mundo. No coração gelado do Atlântico Norte, em um dos lugares mais inóspitos da Escócia, um drama silencioso se repete a cada inverno. Centenas de ovelhas da raça Soay, uma das mais antigas e raras do planeta, morrem de fome nas ilhas de St Kilda, um remoto arquipélago conhecido por seus ventos cortantes e paisagens intocadas. O caso vem provocando comoção entre cientistas e defensores dos animais, que pedem medidas urgentes para evitar uma tragédia maior. Com aparência quase selvagem e porte semelhante ao de pequenos cervos, as ovelhas Soay são descendentes diretas de rebanhos trazidos por colonizadores há mais de 3 mil anos. O nome vem da pequena ilha de Soay, do nórdico Seyðoy, “Ilha das Ovelhas”, um legado da passagem dos vikings pela região.
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    Esses animais resistiram ao tempo e ao clima extremo do Atlântico Norte, desenvolvendo características únicas: baixo peso (22 a 36 kg), grande agilidade e uma lã de altíssimo valor, tão macia que é comparada ao “ quiviut”, fibra nobre produzida pelos bois-almiscarados do Ártico. Sua carne, magra e de sabor delicado, é considerada uma iguaria, mas o que mais impressiona é sua capacidade de sobreviver em ambientes que destruiriam outras raças. Mesmo assim, essa resistência natural está sendo colocada à prova. window._taboola = window._taboola || []; _taboola.push({mode:'thumbnails-mid', container:'taboola-mid-article-thumbnails', placement:'Mid Article Thumbnails', target_type: 'mix'});Segundo os veterinários David Buckland e Graham Charlesworth, da região de Uist, o número de ovelhas na ilha principal de Hirta, hoje superior a 1.800 cabeças, segundo dados da Universidade de Edimburgo, ultrapassa o limite que o ambiente consegue sustentar. “ Mais de mil ovelhas, incluindo cordeiros, morreram em alguns anos por pura fome”, alertam os especialistas, que há anos acompanham a situação e pedem controle populacional urgente.
    As ovelhas Soay viveram em St Kilda por milhares de anos. Crédito: Edo Tealdi/iStockphoto
    A proposta é simples: remover parte dos animais para reduzir a pressão sobre as pastagens e permitir que o restante do rebanho sobreviva aos invernos rigorosos. Porém, a solução esbarra em um impasse legal e ético. O National Trust for Scotland (NTS), órgão responsável pelas ilhas, e o governo escocês afirmam que as ovelhas vivem em estado selvagem e, portanto, não estão protegidas pelas leis de bem-estar animal aplicadas à pecuária. Para eles, a natureza deve seguir seu curso, mesmo que isso signifique perdas em massa. Já Buckland e Charlesworth argumentam o oposto: as Soay, apesar do isolamento, descendem de rebanhos domesticados e não devem ser deixadas morrer de fome em nome da “preservação natural”. Segundo Buckland, esses animais são patrimônio genético da humanidade e merecem manejo responsável. Pequenas, robustas e incrivelmente adaptadas, as Soay são consideradas fósseis vivos da domesticação. Até 1930, moradores das ilhas vizinhas visitavam Soay para recolher sua lã fina, usada como forma de pagamento e comércio. Quando os últimos habitantes deixaram St Kilda, apenas cem ovelhas restaram, hoje multiplicadas em milhares.
    Ovelhas soay selvagens na em St Kilda. Foto: Divulgação
    Atualmente, há cerca de 450 ovelhas Soay registradas no Reino Unido e menos de 100 na América do Norte, segundo o Rare Breeds Survival Trust (RBST). Fora de St Kilda, criadores tentam preservar a linhagem, mas o isolamento genético e a falta de manejo continuam ameaçando a raça. A força das Soay impressiona: elas suportam frio intenso, são resistentes a parasitas e doenças, e vivem até 10 anos parindo com facilidade. No entanto, o instinto selvagem as torna difíceis de manejar, elas não se comportam como rebanho e fogem em disparada ao menor sinal de perigo.
    Por isso, pastoreá-las com cães é impossível. E, apesar da fama de “rústicas”, elas não resistem ao excesso de frio e escassez de forragem, que as leva à morte durante os invernos mais duros. A tragédia das ovelhas Soay em St Kilda ultrapassa o debate local. É um símbolo do conflito entre conservação e compaixão, entre deixar a natureza agir e assumir a responsabilidade por espécies moldadas pela domesticação humana.
    Por: Redação

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