Os ganhos de produtividade necessários para fazer a economia brasileira dar um salto esbarram nas dificuldades impostas pelas barreiras comerciais, na visão de economistas consultados pelo Poder360. O nível elevado de protecionismo também mexe com a capacidade do país produzir mercadorias mais competitivas.
Rafael Cagnin, diretor-executivo do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), avalia que ter a atividade econômica mais integrada à economia internacional cria um cenário mais favorável para o país avançar. “O custo de proteção tarifária menor ajuda a modernização do parque produtivo e, consequentemente, o ganho de produtividade e competitividade”, afirma.
O economista enfatiza haver um vínculo entre protecionismo, produtividade e competitividade. Além de reduzir distorções tarifárias e fechar acordos bilaterais, Cagnin afirma que outros fatores contribuiriam para a economia brasileira dar uma guinada:
Conforme levantamento do Poder360 com base em dados do Global Trade Alert, o Brasil registrou 7.768 medidas protecionistas de 2009 a 2025. No acumulado de janeiro a outubro, foram 194 ao todo.
O recorde de medidas protecionistas se deu durante o 1º governo de Dilma Rousseff (PT), de 2011 a 2014, com 2.850 intervenções desse tipo. Na média, a petista também foi a mais intervencionista: foram 713 ações em cada ano.
Em contrapartida, o país adotou 1.123 ações de liberalização de 2009 a 2025. Foram 83 em 2025 (até outubro) e 254 no 3º mandato de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
O Brasil é um país de renda média e a produtividade tem influência na progressão ou no retrocesso de uma nação.
Lucas Ferraz, ex-secretário de Comércio Exterior (2019-2022) e professor da FGV (Fundação Getulio Vargas), afirma haver riscos quanto à manutenção desse patamar. “No limite, se a gente não aumentar a produtividade brasileira, o Brasil vai empobrecer”, declarou.
O especialista reforça que a renda per capita pode crescer por meio da produtividade ou do bônus demográfico –quando o número de pessoas com idade para trabalhar é proporcionalmente maior do que a população dependente (crianças e idosos). Na sua visão, dificilmente isso se dará pela parte do bônus e neste caso o ganho de produtividade precisa ser ainda maior.
“Se você pegar os últimos 40 anos, em média, o crescimento da renda per capita no Brasil foi de 0,9%. Desse percentual, 0,5% foi a produtividade do trabalho, que aumentou 0,5% ao ano. E 0,4% foi o bônus demográfico. Acontece que, a partir de agora, esse bônus demográfico não vai crescer mais 0,4% em média. Ele vai começar a decrescer e ficar negativo”, disse.
Ferraz avalia que a Reforma Tributária sobre o consumo tem potencial para alavancar a produtividade no Brasil. “[A reforma tributária] vai, sem dúvida alguma, impactar positivamente a produtividade, porque ela vai melhorar a alocação dos fatores de produção na economia brasileira, sobretudo quando você pensa no fim da guerra fiscal entre os Estados. Haverá também a cobrança do imposto no mercado de destino, não no mercado de origem. Tudo isso vai contribuir para a melhoria da alocação dos fatores de produção e aumentará a produtividade”, afirma.
O professor da FGV enfatiza que é essencial ter ganhos contínuos de produtividade e isso seria alcançado a partir de mudanças estruturais. “São reformas que, permanentemente, vão contribuindo para o aumento da produtividade do país. Porque, em algum momento, os ganhos da Reforma Tributária se exaurem. Então você tem que ter novas políticas aumentando permanentemente a produtividade”, declara.
O especialista diz que é preciso haver melhorias contínuas em alguns itens:





