• Sexta-feira, 20 de junho de 2025

O agro brasileiro precisa virar a página

Cobra-se muito do produtor rural em um cenário de margens apertadas, enquanto as grandes decisões são tomadas por formuladores de políticas públicas, muitas vezes alheios à realidade do campo

Cobra-se muito do produtor rural em um cenário de margens apertadas, enquanto as grandes decisões são tomadas por formuladores de políticas públicas, muitas vezes alheios à realidade do campo Por Fernando Lopa* – A sustentabilidade no agronegócio brasileiro está, há anos, sendo tratada como um tema de responsabilidade quase exclusiva do produtor rural. Espera-se que ele adote boas práticas, compense emissões, entre no mercado de carbono e “salve o planeta”. Mas esse modelo está se mostrando ineficaz e me parece esgotado. O agronegócio brasileiro chegou a um ponto de inflexão. Após décadas de crescimento com base em tecnologia, expansão territorial e produtividade, o desafio que se impõe agora não é apenas manter a eficiência e sim mudar a forma de pensar o próprio o agronegócio.
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  • Mas verdadeira mudança de rota no agro não pode começar na base da cadeia, ela precisa, para ser eficaz, vir de cima: dos formuladores de políticas públicas, dos grandes compradores, das corporações agroindustriais e dos agentes financeiros que moldam os rumos da produção. window._taboola = window._taboola || []; _taboola.push({mode:'thumbnails-mid', container:'taboola-mid-article-thumbnails', placement:'Mid Article Thumbnails', target_type: 'mix'}); O produtor rural está no centro da narrativa — mas à margem das decisões. O produtor rural brasileiro já tem um histórico comprovado de adaptação, inovação e resiliência. Ele aumentou produtividade, incorporou tecnologia, superou (e ainda supera) adversidades climáticas, econômicas e políticas. Mas agora, cobra-se dele algo ainda mais ambicioso: ser sustentável, digital, rastreável e carbono neutro, tudo isso em um cenário de margens apertadas trabalhando em uma “fábrica a céu aberto”, enquanto isso, as grandes decisões continuam sendo tomadas por formuladores de políticas públicas, corporações do agronegócio e instituições financeiras, muitas vezes com pouco conhecimento da realidade no campo. Há uma inversão injusta (e ineficaz): quem está na base carrega o maior peso, enquanto quem está no topo empurra novas exigências, sem garantir estrutura, previsibilidade ou apoio real. Limitar a agenda da sustentabilidade rural a instrumentos financeiros isolados é perder a oportunidade de construir um novo modelo para agro brasileiro, mais equilibrado, justo e produtivo, que rompa com o, que conceituamos de, paradoxo da produtividade agropecuária, onde quanto mais o produtor brasileiro produz, mais dependente se torna de um sistema que ele não controla e empobrece. Ir além dos créditos de carbono é mudar o centro de gravidade da transformação Os créditos de carbono e programas de descarbonização são importantes, sim. O entusiasmo é legítimo, mas os mesmos não resolvem gargalos de eficiência, não melhoram a governança ambiental da propriedade, não garantem perenidade produtiva, representando apenas uma fração de um problema maior e, por vezes, funcionam como válvulas de escape para manter o sistema funcionando do mesmo jeito, apenas com nova roupagem verde. É como maquiar um modelo antigo para parecer novo, mas o que se precisa é mudar o projeto inteiro. O paradoxo exige coragem institucional para ser quebrado e para isso os créditos de carbono devem ser vistos como ponto de partida e não de chegada.Visão essa, corroborada pela  Climate Farmers, organização sem fins lucrativos pioneira no sistema europeu de créditos de carbono, que propõe uma nova lógica para o para valorizar o produtor rural regenerativo substituindo o crédito invisível de carbono por produtos visíveis, rastreáveis e com valor agregado no mercado. O Brasil é referência global em produção de alimentos, mas é necessário assumir um novo posicionamento, que deve começar no centro das decisões urbanas, transformando produtividade em soberania e sustentabilidade em estratégia, começando como uma nova mentalidade que deve partir do topo:
  • O governo deve parar de legislar sob pressão externa e começar a construir uma estratégia climática nacional coesa e soberana.
  • As políticas públicas precisam alinhar sustentabilidade com renda, segurança jurídica e assistência técnica real no campo.
  • As grandes corporações do agro devem rever suas estratégias de relacionamento com a base da cadeia — promovendo parcerias reais, com investimento em capacitação, inovação e compartilhamento de valor com os produtores.
  • Mercado financeiro e fundos ESG precisam ajustar suas exigências a critérios viáveis para a realidade rural e desigual brasileira e entender que sem parcerias de valorização do produtor não há transição verde possível.
  • Formadores de opinião, influenciadores, acadêmicos e consumidores precisam entender que sustentabilidade sem diálogo vira imposição e, imposição sem suporte gera resistência ou pior: ineficácia.
  • O agro brasileiro não precisa de mais regras, precisa de políticas inteligentes e devemos cobrá-las de quem as formula, e não só entregar a conta ao produtor rural, para continuarmos sendo protagonistas no mundo, saindo da defensiva ambiental e entrando na ofensiva da inovação verde. Fernando Lopa é Mentor de Carreiras e Negócios para o Agronegócio
    Por: Redação

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