A ex-integrante do CNPS (Conselho Nacional de Previdência Social) e assessora jurídica do Sindnapi (Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos), Tônia Galleti, se irritou durante seu depoimento à CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) do INSS ao se sentir “acusada” de participar do esquema de fraudes no pagamento de aposentadorias do instituto.
“Fico muito indignada de verdade quando querem jogar em mim a pecha de que sou safada, de que sou ladra, de que eu não trabalhei. Vocês estão há meses falando de mim como se eu não trabalhasse. Vocês podem falar que eu sou feia, que eu sou chata, mas que eu não trabalhei nessa porra, nesse trem todo, não é verdade”, disse Tônia.
A fala veio depois de o relator da comissão, deputado Alfredo Gaspar (União Brasil-AL), expor no quadro da comissão um gráfico com as relações financeiras e comerciais entre empresas comandadas por familiares de Tônia e o Sindnapi. Segundo o relator, foram cerca de R$ 20 milhões movimentados entre o sindicato e marido, cunhado, filha, irmã e pai da depoente.
“Das 250 mil pessoas que contestaram a associação, 45 mil utilizaram perto de 320 mil vezes serviços de farmácia por meio dos descontos do sindicato. O sindicato não é de mentira, o sindicato não comete fraude, eu não cometi fraude, meu pai não cometeu fraude, nenhuma dessas pessoas que estão citando, porque a gente trabalhou. Como faziam uso dos benefícios mas contestavam a afiliação? As pessoas devolveram para o Sindnapi o dinheiro que o INSS devolveu”, disse Tônia.
Tônia Galleti integrou o CNPS e alertou às autoridades desde 2019 que sócios reclamavam de descontos associativos. Segundo ela, “tudo começou quando os sócios reclamaram que estavam sendo abordados por entidades ao verem que não estavam mais sócios do Sindnapi”.
Ao ser questionada sobre quais autoridades foram informadas do problema, Tônia destacou o diretor de benefícios José Carlos Oliveira, mas disse não lembrar de demais interlocutores. “Fiquei até março de 2025 no CNPS e não teve reunião sobre descontos associativos. Enquanto eu estava lá não foi discutido nada”, concluiu.
O Sindnapi, sindicato comandado pelo pai de Galleti durante anos, foi apontado pela PF (Polícia Federal) como o 3º maior beneficiado no esquema de fraudes no pagamento de aposentadorias do INSS, com quase R$ 600 milhões desviados.
Esta reportagem foi escrita pelo estagiário de jornalismo Davi Alencar sob a supervisão do editor Guilherme Pavarin