Mesmo em “voo cego” por shutdown, Fed volta a cortar juros nos EUA
Corte foi de 0,25 ponto percentual, acompanhando as projeções quase unânimes do mercado. Juros agora estão no intervalo de 3,75% a 4% ao ano
Na oitava reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc) do (Fed, o Banco Central norte-americano) desde a posse do presidente dos Estados Unidos, , as expectativas do mercado foram confirmadas e a taxa básica de juros foi novamente reduzida pela autoridade monetária.
O corte nos juros foi de 0,25 ponto percentual, acompanhando as projeções quase unânimes dos analistas do mercado. Agora, os juros estão no patamar entre 3,75% e 4% ao ano.
Foi a segunda redução consecutiva na taxa de juros pelo BC dos EUA. Na reunião anterior do Fed, em setembro, .
A decisão do Fed foi tomada em meio a um “voo cego” da autoridade monetária, que não pôde contar com os dados oficiais de emprego nos EUA – a paralisação de diversos setores da máquina governamental no país, que chegou ao 29º dia.
Os dados sobre o mercado de trabalho são um dos componentes mais importantes observados pelo BC dos EUA para definir a taxa de juros. O relatório de empregos referente ao mês de setembro não foi divulgado pelo Departamento do Trabalho por causa do “shutdown”.
O que aconteceu
Nesta quarta-feira (29/10), o colegiado anunciou a redução dos juros básicos da economia norte-americana em 0,25 ponto percentual. Com isso, a taxa agora se situa no intervalo de 3,75% a 4% ao ano.
Antes de cortar os juros em suas duas últimas reuniões, o BC dos EUA manteve a taxa inalterada por cinco encontros consecutivos.
Este foi o segundo corte de juros nos EUA sob o governo de Donald Trump, que teve início no dia 20 de janeiro de 2025.
Antes de Trump assumir a Casa Branca, o Fed tinha levado a cabo um ciclo de três quedas consecutivas dos juros nos EUA, que começou em setembro do ano passado.
Desde então, o BC norte-americano sempre deixou claro que era necessário manter a cautela e analisar cuidadosamente os indicadores econômicos para tomar suas decisões de política monetária.
A próxima reunião do Fed para definir a taxa de juros, a última do ano, está marcada para os dias 9 e 10 de dezembro.
O que diz o Fed
“Ao considerar ajustes adicionais na meta para a taxa básica de juros, o comitê avaliará cuidadosamente os dados recebidos, a evolução das perspectivas e o equilíbrio de riscos. O comitê continuará reduzindo suas participações em títulos do Tesouro, títulos de dívida de agências e títulos lastreados em hipotecas de agências. O comitê está fortemente comprometido em apoiar o emprego máximo e retornar a inflação à sua meta de 2%”, diz o Fed no comunicado que acompanha a decisão.
“Ao avaliar a postura adequada da política monetária, o comitê continuará monitorando as implicações das informações recebidas para as perspectivas econômicas. O comitê estará preparado para ajustar a postura da política monetária conforme apropriado, caso surjam riscos que possam impedir a consecução dos objetivos do comitê”, prossegue o Fed no comunicado.
“As avaliações do comitê levarão em consideração uma ampla gama de informações, incluindo leituras sobre as condições do mercado de trabalho, pressões inflacionárias e expectativas de inflação, além de desenvolvimentos financeiros e internacionais.”
No comunicado, o Fed diz ainda que “o comitê busca atingir o máximo de emprego e inflação a uma taxa de 2% no longo prazo”. E alerta: “A incerteza quanto às perspectivas econômicas permanece elevada. O comitê está atento aos riscos para ambos os lados de seu duplo mandato e avalia que os riscos negativos para o emprego aumentaram”.
Inflação nos EUA
A taxa básica de juros é o principal instrumento dos bancos centrais para controlar a inflação. Quando a autoridade monetária mantém os juros elevados, o objetivo é conter a demanda aquecida, o que se reflete nos preços, porque os juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança. Assim, taxas mais altas também podem conter a atividade econômica.
Segundo dados do Departamento do Trabalho, , na base anual, ante 2,9% registrados em agosto. Na comparação mensal, o índice foi de 0,3%, ante 0,4% em agosto.
A meta de inflação nos EUA é de 2% ao ano. Embora não esteja nesse patamar, o índice vinha se mantendo abaixo de 3% desde julho de 2024.
Leia também
Relembre a guerra de Trump contra o Fed
Antes mesmo de tomar posse para seu segundo mandato na Casa Branca, Donald Trump já fazia críticas às decisões do Fed sobre a taxa de juros e defendia que os cortes fossem intensificados.
Já empossado presidente, (Suíça), Trump disse que trabalharia para que os juros nos EUA caíssem “imediatamente”.
Em novembro, após a confirmação da vitória de Trump sobre Joe Biden nas eleições, o Fed justificou a diminuição no ritmo de corte de juros afirmando que “as perspectivas econômicas são incertas e o comitê está atento aos riscos”. Na ocasião, o nome de Trump não foi mencionado.
Em meados de abril, e cobrou a redução da taxa de juros no país. “Os preços do petróleo caíram, os alimentos estão mais baratos e os EUA estão enriquecendo com as tarifas. O ‘atrasado’ já deveria ter reduzido as taxas de juros, como o BCE [Banco Central Europeu] fez há tempos, mas com certeza deveria reduzi-las agora. A demissão de Powell não pode vir rápido o suficiente”, afirmou.
No início de junho, . Em declarações dadas durante um evento na Casa Branca, Trump negou que tivesse a intenção de demitir o presidente do Fed, mas criticou novamente o chefe da autoridade monetária .
Na semana anterior, , em uma iniciativa interpretada como uma tentativa de pacificar a relação entre os dois.
. “As famílias estão sendo prejudicadas porque as taxas de juros estão muito altas e até mesmo o nosso país está tendo de pagar um juro mais elevado do que deveria por causa do ‘atrasado’”, escreveu em sua rede social, a Truth Social.
No no mês passado, dias antes do primeiro corte de juros pelo Fed em 2025, .
Nessa terça-feira (28/10), , em maio do ano que vem. “Temos um chefe incompetente do Fed. Temos um cara ruim no Fed, mas ele sairá de lá em alguns meses e teremos alguém novo”, afirmou Trump.
Sucessão de Powell a pleno vapor
A diretoria do Federal Reserve é composta por sete integrantes que cumprem mandatos de 4 a 14 anos – todos são indicados pela Presidência dos EUA. A indicação para o cargo de presidente do Fed é definida pela Casa Branca e confirmada por uma votação no Senado norte-americano a cada 4 anos.
Em 2022, Jerome Powell foi indicado pelo então presidente dos EUA, Joe Biden, para um segundo mandato à frente do Fed.
Na última segunda-feira (27/10), o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, . Os “finalistas” para disputar a indicação são os atuais membros do conselho do Fed Christopher Waller e Michelle Bowman; o ex-diretor do Fed Kevin Warsh; o diretor do Conselho Econômico Nacional os EUA, Kevin Hassett; e o executivo Rick Rieder, da gestora de ativos BlackRock.
Caberá a Trump fazer a indicação para a sucessão de Powell. O nome escolhido ainda terá de passar por uma sabatina no Senado norte-americano.
Por: Metrópoles





